quarta-feira, 20 de abril de 2011

Retorno a Bretton Woods?

(Semana de 11 a 17 de abril de 2011)


Elivan Rosas Ribeiro (*)

As potências industriais europeias parecem afetadas pelo mal-estar de países como Portugal, Irlanda Grecia e Espanha, e já se começa a sentir um clima de gestação de uma guinada política, tipo “direita volver!”, mesmo na Alemanha, que já é governada por um partido de direita. No entanto, em que pese a desestabilização da zona euro, os desastres do Japão e as dificuldades de recuperação da economia americana, desde a última crise, o Fundo Monetário Internacional (FMI), traça para a economia mundial, um cenário de continuidade da trajetória de recuperação.

Saravá, meu Pai!

Na esfera financeira, que é sem dúvida de onde emana o poder em todos os quadrantes do planeta, a situação não parece assim tão tranquila. Nessa semana, o ouro, por exemplo, bateu seu record de preço, na bolsa de Nova York, US$ 1.462,20 a onça, esperando-se que suba mais de 13% do seu valor atual, ainda esse ano, depois do dolar escorregar a sua menor cotação, desde dezembro de 2009, demonstrando a falta de confiança dos países nas reservas em moedas.

O Banco Central da China quase dobrou a sua reserva em ouro. México, Russia, India e Arabia Saudita vem aumentando as suas, enquanto o Brasil permanece com a sua reserva nesse metal praticamente inalterada: 1,080 milhão de onça-troy. De 2005 até seis dias atrás, o ouro sofreu uma valorização de 228%, que alterou o valor da reserva brasileira de US$ 480 milhões para US$ 1,570 bilhão. Questiona-se se o Brasil seguirá a tendência de compra de ouro, ou se trafegará na contra-mão continuando com os dólares.

Mas, a grande preocupação dos analistas continua a ser o dilema “inflação versos crescimento”. Em cem dias de governo, a Presidenta Dilma Roussef insiste em tentar a conciliação entre uma “inflação bem comportada” e a continuação do rítmo da expanção econômica, apesar disso ser visto como uma estratégia perigosa para o seu governo. O espectro da inflação assusta a todos e, em particular, as autoridades financeiras, que consideram-na como um fenômeno monetário, procurando controlá-la pela ação nessa esfera da economia. Assim, o Banco Central, seguindo a orientação do FMI, que considera a expansão do crédito a principal responsável pela inflação, tenta com os diferentes Ministérios, ações visando controlá-la. O Presidente do BC, Alexandre Tombini já declarou que vai restringir a expansão do crédito para 15% ao ano e o Governo, no mesmo sentido, aumentou o compulsório dos bancos e elevou os impostos sobre os empréstimos.

O Real está colocado na berlinda. A sua boa cotação joga papel decisivo para que a inflação não supere o teto da meta. A expectativa é a de que o dolar mais próximo de R$ 1,50, no fim do ano, poderá representar a redução de algo como 0,2 a 0,4% do Índice de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA). As taxas de juro e câmbio juntas são as “top vedetas” da atualidade. O câmbio é tema do Mantega no FMI. O Ministro acusa os países ricos, principalmente os Estados Unidos, de promoverem a “guerra cambial”, termo regeitado por outros Ministros presentes a reunião. Mantega afirma ainda não aceitar ingerências externas na gestão das reservas do Brasil.

Como é que ficamos? O Presidente do BC comunga com as ideias do FMI sobre a contenção do crédito; o Ministro regeita as ingerências na gestão das medidas cambiais; até escrever-se essa análise, não se vislumbrava no G20 nenhum acordo sobre um código de conduta para fluxos de capitais; a Presidenta Dilma Roussef admite mudança de câmbio desde que haja uma descida da taxa de juro, o que não ocorrerá e, tudo indica, que a reunião do Copom a elevará entre 0,25% e 0,50%.

Assim, não se vê nenhuma luz no fundo do túnel.

Em meio a esse frenesi financeiro, o Industrial e Commercial Bank of China Ltd, o maior banco do mundo por valor de mercado, vai abrir uma filial no Brasil, depois de sua expanção nos Estados Unidos e na Europa e o “velho” George Soros, organiza reunião em Bretton Woods, tudo indica, numa tentativa vã de criar um novo sistema monetário internacional, para consertar o caos atualmente existente.

Regressaremos ao Padrão Ouro?

“Mais fortes serão os designios de Deus”!!!



(*)Professora do Departamento de Economia da UFPB e Pesquisadora do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. progeb@ccsa.ufpb.br; www.progeb.blogspot.com

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