Semana de 07 a 13 de novembro de 2011
Rosângela Palhano Ramalho [i]
Prezado leitor, há algumas semanas, o mundo está voltado para o desenrolar da crise na Europa. A crise econômica que se revela cada vez mais grave tem gerado especulações sobre a impossibilidade de sustentação da moeda única européia e sobre o esfacelamento da zona do euro.
O fato é que não há luz no fim do túnel. E agora é a vez da Itália. Com dívida de € 1,9 trilhão que representa 120% do PIB e 1/4 de toda a dívida da Europa, o país, ao contrário da Grécia, é grande demais para ser salvo pelos colegas europeus. O Banco Central Europeu está comprando os títulos da Itália para evitar o aumento do prêmio de risco, mas a remuneração dos bônus italianos com resgate previsto para 10 anos passou de 5,22% para 6,06% entre setembro e outubro e atualmente supera os 7%.
O socorro necessário à Itália gira em torno de € 700 bilhões. Embora as autoridades italianas considerem humilhante pedir ajuda externa, e mesmo que Berlusconi tenha recusado US$ 50 bilhões do FMI, parece não haver outra saída. Silvio Berlusconi que estava no poder desde 2008, anunciou sua renúncia e, assim como em Portugal, Espanha e Grécia, o governo cai diante da crise.
O inatingível “mercado” vê nos tecnocratas sem vínculo à classe política, o milagre, a solução “adequada” para a crise. Com excelentes “credenciais”, os sucessores do governo da Grécia e da Itália assumirão o arrocho. Lucas Papademos, novo primeiro-ministro da Grécia, é formado pelo MIT e foi vice-presidente do Banco Central Europeu no período de
Estes adotarão as sagradas medidas de austeridade fiscal, único antídoto conhecido e reconhecido, pela maioria dos países, para a crise. Não interessa se a taxa de desemprego, na Grécia, fechou em 18,4%,
As estimativas para o bloco não são melhores. A OCDE lançou uma previsão, considerada otimista, de crescimento para a União Européia de 0,5%, em 2012, e a própria Comissão Européia reviu a previsão de crescimento do PIB, para 2012, de 1,9% para 0,6%. Nem mesmo a queda de preços das commodities, segundo o Banco Mundial, evitará a recessão, uma vez que Estados Unidos, Japão e Europa são responsáveis por 80% do consumo destes itens.
Consequentemente, com a queda do PIB, a relação dívida/PIB, indicador utilizado para mensurar a capacidade de um país de honrar seus compromissos, será maior. Ou seja, aquele corte nos gastos franceses de € 18,6 bilhões em 2012 e 2013, por exemplo, e que irá acontecer a pretexto de defender o triplo A, provavelmente não o sustentará, já que as medidas de austeridade fiscal provocarão a queda do PIB. Mas, o primeiro-ministro francês, François Fillon, totalmente convencido da necessidade do sacrifício, declarou que as medidas irão “proteger o povo francês das graves dificuldades enfrentadas por alguns países europeus”.
A unanimidade em relação à necessidade do arrocho faz com que o apelo do G-20 de que “o emprego deve estar no coração das ações e políticas” de combate à crise, soe como voz destoante. As manifestações se tornam cada vez mais freqüentes e os movimentos do tipo Ocupem Wall Street ganham força no mundo inteiro. Uma passeata em Londres, esta semana, contra o plano governamental de reduzir gastos e aumentar as mensalidades das universidades e que teve como lema “Nada de ses, nada de mas, nada de cortes na educação”, reforçou o movimento que detonará uma série de greves programadas para o fim do mês.
Aos poucos, as intenções do “mercado” procura sobrepor-se e esmagar o movimento daqueles 99% oprimidos pelo poderio financeiro. Infelizmente, o 1% parasitário, com sua capacidade de corrupção, compra o apoiado dos governos e a intelectualidade econômica que toma o mainstream como verdade absoluta e que vê em qualquer proposta alternativa, a maior das heresias econômicas. Continuamos a caminhar em direção ao fundo do poço.
[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e crise na economia brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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