domingo, 27 de novembro de 2011

No mundo, austeridade. No Brasil, desaquecimento

Semana de 14 a 20 de novembro de 2011

Tatiana Losano de Abreu [i]

A realidade econômica internacional não apresenta novidades. A zona do Euro continua a dar passos largos em direção a recessão, apresentando uma expansão de apenas 0,2%, entre julho e setembro, frente ao trimestre anterior. A Espanha e a Itália não surpreenderam ao definir os novos governos que serão responsáveis pelas canetadas sobre a população. Mariano Rajoy, do liberal Partido Popular Espanhol, já declarou suas intenções: aprofundamento das medidas de liberalização da economia, privatizações e mais austeridade. Já Mario Monti precisa apresentar resultados rápidos para manter o apoio dos italianos. Para tanto, definiu a equipe de tecnocratas que será responsável por corrigir a situação financeira da Itália e reiniciar o crescimento do país. Nos EUA foi organizado um super-comitê formado por democratas e republicanos para definir maiores ajustes fiscais e assim evitar o crescimento ínfimo de 1,5 a 3,5 pontos percentuais, em 2013. Esperam-se cortes de US$ 1 trilhão nos próximos 10 anos. Já o governo argentino anunciou mais um corte de US$ 925 milhões nos subsídios ao consumo de água, gás e energia elétrica.

Longe de restaurarem o sistema financeiro, e muito menos de evitar a inadiável crise cíclica, os resultados já estão evidentes até mesmo aos olhos do governo brasileiro.

A estimativa para a Formação Bruta de Capital Fixo, do terceiro trimestre, é de retração de 0,9% e a expectativa de crescimento do PIB, no mesmo período, é de apenas 0,3%. O emprego na indústria de transformação paulista teve o pior mês de outubro desde o início da medição realizada pela FIESP, em 2006. Houve uma queda de 0,66% no número de vagas, representando a liquidação de 18 mil postos de trabalho e a perspectiva é de fechamento de mais 40 mil vagas geradas pelo setor de açúcar e álcool com a chegada da entressafra.

Até mesmo nas estradas, já foi constatada a queda do movimento de veículos pesados, como os caminhões, responsáveis pelo escoamento das mercadorias no país. A desaceleração do consumo interno também atingiu as vendas dos lojistas dos shoppings centers no terceiro trimestre. O IBC-Br, índice de atividade econômica do Banco Central, apresentou retração trimestral de 0,32% em relação ao segundo trimestre do ano, representando a primeira queda, em bases trimestrais, registrada pelo indicador, desde o primeiro trimestre de 2009.

O decrescimento da economia brasileira está tão evidente a ponto da Presidente Dilma Russeff demonstrar preocupação em relação à deterioração da economia interna e ao provável mergulho, no terceiro trimestre. Sem conseguir conter-se, a presidente resolveu esclarecer ao Ministro Guido Mantega e ao Presidente do BACEN, Alexandre Tombini, que chegou a hora de impedir que o PIB brasileiro continue a cair, correndo o risco de crescer abaixo de 3%, neste ano. É preciso continuar com a trajetória de queda da Selic e estimular a oferta de crédito, um dos motores do crescimento do consumo das famílias, nos últimos anos.

Seguindo a “sugestão” da Presidente, o Banco Central decidiu dar mais uma cartada na mudança da política monetária, através do desmonte de parte das medidas macroprudenciais adotadas, há quase um ano, para controlar o crédito. Primeiro, foi dado um alívio na exigência de capital próprio dos bancos. O BACEN também desistiu de elevar o percentual mínimo de pagamento das faturas de cartão de crédito. A decisão foi parcial, já que manteve as exigências de compulsório sobre os depósitos à vista e a prazo. Mas, as medidas já geraram grandes expectativas em torno do aumento das concessões de crédito para a pessoa física, facilitando as vendas do Natal.

Os esforços para apresentar melhoras nos indicadores da atividade de 2011 não param por aí. O Governo conta com a ajuda do IBGE para rever a taxa de crescimento do PIB, em 2010, e assim aumentar os efeitos estatísticos sobre o PIB de 2011. Segundo o IBGE, a revisão é decorrente de um melhor desempenho da atividade no quarto trimestre de 2010. Se esta expectativa for confirmada, a re-estimativa vai impulsionar o PIB de 2011 através do “arrasto estatístico”. Mas, esta pequena mudança no PIB não modificará a realidade deste ano.

Teremos “Vacas Magras” neste Natal.



[i] Economista, Professora substituta do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com).

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