sexta-feira, 4 de novembro de 2011

O mundo refém dos especuladores

Semana de 24 a 30 de outubro de 2011

Nelson Rosas Ribeiro[i]

O grande entalo da situação econômica mundial continua o mesmo e no mesmo campo, o financeiro.

Isto não significa que a crise atual seja financeira. Ela é uma crise geral de superprodução que se apresenta sob a forma financeira. E não poderia ser de outro modo. O capital, em sua reprodução tem uma capacidade ilimitada de gerar riquezas, a ponto de ameaçar as próprias fronteiras do planeta. O problema está na forma de apropriação que lhe é inerente, ou seja, no caráter da apropriação capitalista, decorrente da forma de propriedade dos meios de produção.

Esta é a questão. A capacidade ilimitada de gerar riqueza conflita com a forma desigual de apropriação desta, que é concentradora de renda e limitadora da capacidade de consumo da grande maioria da população. O lema dos protestos nos EUA revela precisamente isto. “Nós somos 99% e eles são 1%”. “Fora Wall Street”.

Mas, como é possível que 1% domine 99%?

O “sistema democrático”, como nós o conhecemos, está falido. A imensa concentração da riqueza dá a poucos o poder de comprar, subornar, corromper partidos, políticos, parlamentares, juízes, governadores, presidentes além de gestores, engenheiros, economistas, jornalistas, psicólogos, advogados, marqueteiros, etc., toda esta multidão de profissionais necessários para por em movimento as engrenagens do sistema.

Só que toda esta engrenagem move-se na direção de concentrar cada vez mais a riqueza, acumular cada vez mais o capital nas mãos de poucos e é isto que se pretende garantir a qualquer custo. Mas, nos dias atuais, a produção de riqueza não assume apenas a forma material de bens e serviços. A sofisticação atual criou a forma de produzir uma mercadoria especial, a mercadoria-capital, que assume a forma de papeis, ações, títulos, promissórias, etc. Para esta produção não são necessários operários, equipamentos, matérias primas, fábricas, etc. Basta um computador e uma impressora e se produz qualquer volume de mercadoria-capital que se deseje. Depois estas mercadorias são vendidas no “mercado de capitais”, por comerciantes especializados chamados banqueiros. Ao comprar um desses papeis, compra-se um determinado direito a um rendimento. O milagre está concluído. Um pedaço de papel adquire a propriedade de criar valor e crescer. Eis o sonho dourado de qualquer capitalista que é bem empacotado e mistificado e passa a cegar o conjunto da sociedade.

Os possuidores dessa riqueza, chamada de capital fictício ou capital especulativo, que deveriam ser chamados de “especuladores”, mas que a nossa imprensa teima em chamar de “investidores”, compram e vendem estes papeis na busca desesperada do mais valor chamado de juros, dividendos, lucro, etc. e, com este objetivo, são capazes dos maiores desatinos e falcatruas. Quando a riqueza fictícia se afasta demais da riqueza material, dá-se o desastre, a ruptura, a falência, o calote. E aí vem o desespero e o apelo à intervenção dos estados para salvar os especuladores. É precisamente isto que está ocorrendo nos dias atuais. Depois de especularem com as ações, com os títulos hipotecários sub-prime, com os fundos de hedge e outros papeis e operações, com as commodities, os especuladores atiraram-se aos “títulos soberanos”, emitidos pelos governos dos países. E agora, estes também estouraram.

As soluções buscadas procuram repor os prejuízos das instituições financeiras e dos especuladores com recursos arrancados do povo, que nenhuma responsabilidade tem com a crise. Os debates que assistimos na UE, nos EUA, no FMI, levam às mesmas propostas de contenção dos gastos, dos salários, demissões, redução das despesas com saúde, educação, obras, etc. Todas são medidas agravam a desaceleração das economias, aumentam a concentração da riqueza e esmagam os rendimentos e o consumo das populações. Esta é a razão das revoltas e explosões de protestos que assistimos por todo o mundo e que devem continuar, pois não há outro caminho.

O que precisa é apenas a união dos 99% para liquidar o 1% que no momento são os algozes da humanidade.

“Fora Wall Street!”



[i] Professor do departamento de Economia, Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).

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