quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

A zona do euro aos trancos e barrancos

Semana de 23 a 29 de janeiro de 2012

Nelson Rosas Ribeiro[i]

O medo da recessão continua a rondar a União Européia (UE) e particularmente a zona do euro. Os dias passam, medidas tímidas são tomadas, e a crise se mantém e se alastra. O caso grego não está, nem de longe, contornado, e agora Portugal segue o mesmo caminho. O Reino Unido acena com a chamada recessão técnica, que está à vista (crescimento negativo durante 3 meses). No quarto trimestre do ano passado, o Produto Interno Bruto (PIB) decresceu 0,2%, e espera-se decrescimento no primeiro trimestre deste ano. Em 2011, o crescimento do PIB foi de apenas 0,9%. A situação econômica mostra um quadro clássico de crise: consumo fraco, empresários desconfiados, falta de crédito, desemprego, salários baixos, etc.

O Fundo Monetário Internacional (FMI), no relatório Panorama Econômico Mundial, rebaixou suas previsões de crescimento para o PIB mundial estimando um decrescimento de 0,5% para a Zona do Euro e reduzindo, de 4%, para 3.3%, o crescimento mundial. Prevê também decrescimento para a Espanha (-1,7%) e para a Itália (-2,2%). O economista chefe da entidade, Olivier Blanchard, afirmou que “o mundo poderá ser esmagado por outra recessão”. Paradoxalmente, o FMI recomenda moderação nas medidas de austeridade e a disponibilização de mais recursos nos fundos de socorro europeus. Até as previsões para os países emergentes foram rebaixadas, de 6.1%, para 5,4%.

A situação também se agrava nos países asiáticos. O Japão anunciou o seu primeiro déficit na balança comercial desde 1980. A crise no país, a crise mundial, a catástrofe natural do tsunami, o crescimento dos emergentes e o deslocamento de empresas japonesas para o exterior são apontados com os principais fatores.

O socorro, que se esperava vir do BCE, arrasta-se nas discussões e oposição do governo Alemão, que só concorda em aumentar a ajuda se for aumentado o controle sobre os orçamentos dos países, o que significa ainda mais perda da soberania nacional.

No entanto, para ajudar os bancos, o BCE abre rapidamente os cofres. Em dezembro, ele emprestou, a cerca de 500 bancos, 489 bilhões de euros, a juros de 1% ao ano, por um prazo de 3 anos. Parte deste dinheiro está voltando aos governos com a compra de títulos dos países que pagam juros superiores a 4% e que atingem até dois dígitos. E o BCE já está preparando um novo pacote para inundar o “mercado” de “liquidez”.

O problema que se coloca cada vez mais é como enfrentar a crise, que é de superprodução, com medidas de austeridades que reduzem o emprego, os salários, o consumo público e privado, os investimentos, etc.

No que se refere aos juros, os Bancos Centrais têm reduzido as suas taxas de referência. O BCE reduziu sua taxa para 1%, e o Fed (BC americano) manteve a sua no intervalo de 0 a 0,25%. É claro que os especuladores aproveitam-se disto e já efetuam as operações de “carry trade” com as duas moedas. Pedem empréstimos nestas moedas para convertê-las em moedas da Austrália, Brasil, México, África do Sul, Coréia do Sul e etc. para aplicações especulativas nestes países.

No Brasil, sob o comando da presidente Dilma, o BC mudou o comportamento e também voltou a reduzir os juros em 0,5%, atingindo agora 10,5% ao ano. Avisou também que continuará a reduzi-los e que, em 2012, eles chegarão a apenas um dígito.

No nosso caso há certo nervosismo que se instala, mas por razões eleitorais. Em ano de eleições é preciso mostrar serviço. O governo luta contra os escândalos das quedas de ministros e de funcionários do segundo escalão, que continuam, e contra um medíocre crescimento do PIB em 2011. As medidas de austeridade tomadas com medo da inflação contribuíram para a desaceleração da economia A sondagem Industrial de dezembro, feita pela Confederação Nacional da Indústria, mostrou um quadro preocupante. O processo de desindustrialização se agrava, e os empresários protestam. O governo joga suas cartas com desespero. Devemos esperar aumento das despesas, do crédito, das contratações. Está a caminho uma situação semelhante a 2010.

Já veremos.



[i] Professor do departamento de Economia, Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).

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