terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Inimigo sem nome e sem rosto

Semana de 13 a 19 de fevereiro de 2012

Nelson Rosas Ribeiro[i]

Depois de ter declarado que “Meu inimigo é o sistema financeiro”, François Holande, candidato pelo partido socialista ao governo da França, e um dos favoritos nas pesquisas, definiu-o como “inimigo sem nome e sem rosto”. Curiosamente o atual presidente Sarkozy (aquele que faz parelha com Angela Merkel da Alemanha, formando o casal Merkozy) ataca igualmente o sistema financeiro e os bancos prometendo medidas de controle. O clamor do tipo “ocupa Wall Street” espalha-se pelo mundo e preocupa os políticos que têm de enfrentar eleições em tempos próximos. Imerso neste ambiente hostil, os bancos afogam-se em suas próprias dificuldades, fruto das ações especulativas em que se envolveram. Só a situação da Grécia provocou baixas contábeis de 5,4 bilhões de euros, nos quatro maiores bancos franceses, BNP Paribas, Société Génerérale, Crédit Agricole e Groupe BPCE. E, desta vez, o governo francês tem dificuldades de ajudá-los, pois já carrega o compromisso de suas próprias dívidas que atingem 1,69 trilhões de euros, 85% do Produto Interno Bruto (PIB) do país.

Não é só a França que está em dificuldades. Segundo dados da Eurostat (agência de estatísticas européia), o PIB do bloco encolheu 0,3%, no quarto trimestre de 2011, em relação ao terceiro trimestre, sendo a primeira contração observada desde 2009. Há a esperança de que se consiga evitar a chamada “recessão técnica”, mas, para alguns analistas, ela já começou.

Nos 17 países da zona do euro, a produção industrial caiu 1,1%, em dezembro, terceira queda em quatro meses e, no quarto trimestre, a produção caiu 1,8%. Alguns países tiveram, nesse trimestre, quedas acentuadas, como a Grécia (7%) e Portugal (2,7%). Mesmo para a Alemanha, carro chefe do bloco, a OCDE espera um crescimento de apenas 0,5%. A comissão européia aponta que dentro do grupo, 12 países estão vulneráveis entre os quais estão incluídos Itália, França, Finlândia, Suécia, Reino Unido, Dinamarca, etc.

Como vemos a conjuntura de crise se mantém e mesmo um caso menor, como o grego, não encontra solução. Apesar de todos os protestos e pancadaria nas ruas do país, o parlamento grego aprovou um pacote de austeridade com um corte de 3,3 bilhões de euros. Mas, isto parece insuficiente, pois se teme que o partido que vença as eleições próximas, não respeite os acordos que condicionam a “ajuda”.

Todos sabem que as medidas restritivas dificultam a recuperação de qualquer economia. Apesar disso, as soluções propostas vão nesta direção. Sempre se recomendam demissões de funcionários públicos, redução nos salários, corte nas pensões, subsídios e programas sociais, aumento das idades para aposentadorias, corte nos gastos públicos e no crédito, ou seja, os trabalhadores devem pagar as contas da ganância dos bancos, das irresponsabilidades dos governos e do luxo dos empresários. A Alemanha é citada como exemplo pela seriedade de seus governantes e pela disciplina de seus trabalhadores que aceitaram salários mais baixos, jornadas de trabalho mais longas, etc. Afirma-se que o padrão de vida dos trabalhadores europeus ficou caro demais para ser mantido. É preciso nivelar por baixo para ser competitivo. Que os trabalhadores se prepararem para duros combates e muitos sofrimentos.

E enquanto economistas, políticos e outros intelectuais divertem-se com discussões bizantinas sobre a relação entre Estado e Mercado, os capitalistas utilizam-se dos dois quando lhes é conveniente. Quando se ganha dinheiro, viva o mercado. Quando se perde dinheiro, que venha o Estado ressarcir os prejuízos e encher os cofres.

Nestas águas revoltas, a duras penas, a economia brasileira ainda continua navegando, se bem que tendo de refazer suas contas. Os 5% de crescimento do PIB previstos pelo ministro Guido Mantega, para 2011, foram reduzidos para 4% e 3,5%. Mas o BC admite agora que ficará apenas em parcos 2,72%. Para 2012 o Ministério da Fazenda já se apressou em corrigir sua previsão anterior de 5% para 4,5%.

Em ano de eleições, em uma conjuntura internacional hostil, o governo Dilma enfrentará grandes dificuldades.

Vamos aguardar as medidas que serão tomadas.



[i] Professor do departamento de Economia, Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).

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