quarta-feira, 11 de abril de 2012

Guerra contra a crise e a desindustrialização


Semana de 02 a 08 de abril de 2012


Nelson Rosas Ribeiro[i]



Parece que o gigante deitado em berço esplêndido aos poucos vai acordando. O berreiro de burgueses e proletários unidos em defesa da industrialização começa a ser ouvido, graças à amplificação provocada pela iminência das eleições. Como está não dá para continuar, principalmente porque a situação internacional “está mais pra carcará do que pra cegonha”.
Mesmo sendo repetitivos, somos obrigados a chatear os leitores com a afirmação de que a situação mundial continua a se arrastar sem solução. Nos EUA, não se consegue a decolagem e, ao contrário, as notícias são de aumento do desemprego. Na União Européia (UE) a coisa tende a piorar, e há quem tema uma nova queda generalizada da economia. Diante deste perigo, o Banco Central Europeu (BCE) manteve a taxa básica de juros em 1% ao ano (atenção: eu disse 1%!), enquanto aguarda os efeitos do derrame de um trilhão de euros para aumentar a liquidez dos bancos. A dívida da Espanha continua crescendo e deverá chegar a 79,8% do PIB, apesar das violentas medidas de austeridade que foram aprovadas, com um corte de 27,3 bilhões de euros no orçamento. Na Itália, as medidas de austeridade preocuparam até Mário Monti, primeiro ministro nomeado após a saída de Berlusconi. Monti já se recusa a adotar qualquer nova medida com medo da recessão e, juntamente com Christine Lagarde, diretora-gerente do FMI, defende políticas mais favoráveis ao crescimento. Esta preocupação generaliza-se e já surge um movimento de oposição à austeridade, pois se teme que o aperto fiscal venha a agravar a recessão. Como afirmou o ministro da Indústria italiano Corrado Passera, “com austeridade não se cresce”. Cada vez mais, se isolam na posição intransigente, o BCE e o governo da Alemanha.
Para os lados orientais, a China continua a programar a sua desaceleração e, no Japão, o BC manteve a taxa básica em 0,1%, e a Toyota, pela boca do seu presidente, pensa em suspender a produção no país e transferir todas as suas linhas de produção para os paraísos da miséria como o Vietnam, Laos, Malásia, Paraguai, etc, em busca de “custos” menores, para aumentar a “competitividade” de seus produtos.
Diante desta situação adversa e pressionado pelos péssimos resultados da economia nacional, o governo Dilma toma, cada vez mais, decisões tentando criar uma política capaz de salvar a indústria brasileira e retomar o crescimento. No dizer do economista Carlos Lessa, o problema vem de longe, pois há quase três décadas que o crescimento do país é medíocre caracterizando um “vôo de galinha” e a principal causa é a supervalorização do real, o que é agravado pela total ausência de uma política industrial. Tais fatos levaram a que, agora, em 2011, a participação da indústria de transformação no PIB retrocedesse aos níveis de 1950, no início da era JK.
A ação do governo para conter a valorização do real já vem dando alguns frutos. No mês de março deste ano, o Banco Central (BC) intereviu 25 vezes no mercado e nisto foi ajudado por alguns fundos especulativos, que entraram comprando dólares no mercado futuro. Além das intervenções, o BC tem agido através das medidas “macro prudenciais”, com o aumento do IOF sobre o capital especulativo e outras. Os objetivos vêm sendo parcialmente atingidos. Até o dia 23 de março, o BC comprou US$ 1,896 bilhões. No mesmo período do ano passado, as compras atingiram US$ 8,443 bilhões. Como resultado das políticas adotadas, o dólar subiu, de R$ 1,717 em fevereiro, para R& 1,826 no final de março. O mercado começa a estimar que o objetivo do BC é manter o dólar entre R$ 1,70 e R$ 1,90.
Além disso, o governo atacou com um novo “pacotão”. As medidas tomadas incluem manutenção da redução de IPI ampliando o número de produtos atingidos, desoneração da folha de pagamento de pessoal, adiamento do recolhimento de alguns impostos (PIS/Cofins), preferência de até 25% para compra de produtos nacionais nas encomendas do estado, elevação dos recursos para o financiamento das exportações, aumento dos financiamentos através do BNDES, do BB e da CEF, redução drásticas dos juros nos financiamentos a pessoa física e jurídica, etc. Só o BNDES receberá um aporte adicional do Tesouro de R$ 45 bilhões o que elevará a previsão de desembolso do banco para R$ 145 a R$ 150 bilhões.
Segundo os analistas as medidas adotadas terão um impacto reduzido na inflação, terão pouco efeito nas contas públicas, mas não contribuirão para o PIB crescer mais de 3,5%.
Vamos aguardar as consequências e a reação da FEBRABAN, que dificilmente engolirá a queda dos juros.


[i] Professor do departamento de Economia, Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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