Semana de 30 de abril a 06 de maio de 2012
Lucas Milanez de Lima Almeida[i]
A economia política nos ensina que a formação social, e seu conjunto de leis e instituições, inclusive o Estado, é um reflexo do modo como uma sociedade espontaneamente se organiza para produzir e distribuir a riqueza. Por isso, ela deve corresponder às características e necessidades desta base econômica. Com alguma ressalva e considerando que os maiores países vivem numa democracia, podemos utilizar o governo como o ícone da sociedade, sendo os representantes dos interesses econômicos, as próprias empresas.
Não é difícil perceber que a estrutura social é dominada por aqueles que, sendo proprietários dos meios de produção, ficam com a maior parte da riqueza, o que não quer dizer que os menos abastados não tenham poder algum. Enquanto a dominação econômica de uns sobre os outros se mantiver em determinado nível, o que depende da realidade de cada país, haverá certa estabilidade na relação entre as classes. Por outro lado, se uma parte da sociedade quer aumentar seu poder econômico, ou compensar o poder perdido, em detrimento da outra, o conflito entre as classes pode desencadear grandes alterações sociais.
Na história, temos vários exemplos de alterações políticas causadas por mudanças econômicas, mas o que vemos hoje não é a história sendo contada, mas acontecendo diante dos nossos olhos. O pós-crise nos mostra a reação ante a situação econômica.
Em Portugal, o Partido Socialista, que ganhou as eleições de 2005 e 2009, sucumbiu diante do Partido Social Democrata em 2011. Na Bélgica, após a queda dos Liberais Democratas em 2010, houve uma eleição geral na qual a Nova Aliança Flamenca saiu vitoriosa, com uma cadeira a mais do que o Partido Socialista Francófono. No Reino Unido, o Partido Conservador, do primeiro ministro David Cameron, ganhou, sem maioria absoluta, do Partido Trabalhista do então primeiro ministro Gordon Brown, as eleições de 2010. Nos Países Baixos, o governo do partido Apelo Cristão-Democrático foi dissolvido e, com as eleições gerais de 2010, o Partido Popular para a Liberdade e Democracia e o Partido Trabalhista conquistaram a maior parte dos votos, obtendo, respectivamente, 31 e 30, dos 150 assentos disponíveis no parlamento. Outro que também não aguentou a pressão foi o carcamano Silvio Berlusconi, que em 2011 perdeu o cargo de primeiro ministro da Itália para o tecnocrata Mario Monti.
Neste último fim de semana, vimos os fatos se repetirem: o conservador Nicolas Sarkozy perdeu, em segundo turno, as eleições presidenciais para o “socialista” François Hollande, que prometeu ouvir os clamores pela mudança. O partido de coalizão da Alemanha, que já sofreu com a queda do presidente Horst Köhler em 2010 e com a perda do seu maior aliado internacional, tem agora ameaçada a sua hegemonia interna, pois, nas últimas eleições regionais (06/05/2012), eles perderam espaço, no norte do país, para a oposição de centro-esquerda. E, na Grécia, o parlamento, que tem cadeiras ocupadas por partidos que vão da ultraesquerda (que defendem o calote) ao neonazismo (que defendem a colocação de minas terrestres nas fronteiras para impedir a entrada de estrangeiros), criou um impasse para a formação de um governo majoritário.
Note, caro leitor, o caos em que se encontra a Europa. O povo, insatisfeito com a crise e a reação dos governos diante dela, que favorece o capital financeiro, mediante empréstimos, arrocho fiscal e pagamento de dívidas, se lança às ruas para tentar impedir a compressão da sua precária condição econômica. Mas, não é sozinho que ele vai à luta, alguns capitalistas também vão. O atual modelo de política econômica europeu foi posto em xeque, pois, como uma política de redução de gastos e concentração de riquezas nas mãos dos credores internacionais poderia estimular o consumo e, consequentemente, a produção? Entra em cena o capitalista industrial, com seu discurso de que sem produção não há emprego, renda e nem sequer o que consumir.
Curiosamente, diante do domínio que os bancos sempre tiveram, o Brasil resolveu seguir o receituário de políticas de proteção do capital industrial e agora quer levantar a bandeira de defesa da produção e baixar a bandeira dos juros altos. Será?!
Em todo o mundo cresce o coro para, por meio do governo e da política econômica, se mudar a economia. Resta-nos esperar para ver. O problema é que isto não cabe ao governo, apenas a nós, que transferimos às empresas a decisão do que produzir e de como distribuir.
Quem sabe, um dia, não possamos revogar esta decisão e governar a economia...
[i] Professor do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb. (www.progeb.blogspot.com.)
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