quarta-feira, 16 de maio de 2012

Indústria empurra atividade econômica ladeira abaixo


Semana de 7 a 13 de maio de 2012


Rosângela Palhano Ramalho[i]




            Há algum tempo, caro leitor, esta coluna relata as incertezas quanto à prometida retomada do crescimento brasileiro. Os resultados para o terceiro trimestre não são dos melhores. Embora a Confederação Nacional da Indústria (CNI) tenha divulgado um aumento do faturamento real na indústria de transformação de 0,9% entre fevereiro e março, elevação de 0,4% nas horas trabalhadas na produção e de 0,3% no nível de emprego, as perspectivas para a indústria este ano são muito ruins. O Boletim Focus, relatório de mercado do Banco Central, por exemplo, já revela uma queda da projeção de crescimento da indústria, de 2%, para 1,92%, em 2012. A Quest Investimentos já é mais pessimista: reduziu a sua expectativa, de 1,5%, para 1%. Tal pessimismo é motivado pelos últimos números da indústria apresentados pelo IBGE. O levantamento da Pesquisa Industrial Mensal (PIM) revelou, em março, queda da produção industrial em 18 das 27 atividades pesquisadas. No acumulado do ano, a retração chega a 3%. O emprego na indústria também caiu. O índice recuou 0,3% em janeiro, em fevereiro, cresceu apenas 0,1% e caiu 0,4% em março, número que contrasta com o da CNI.
Para a indústria do Sudeste, que representa 60% da produção nacional, o IBGE registrou, no primeiro trimestre do ano, queda de 6,2%, em São Paulo, 6,8%, no Rio de Janeiro, 2,4%, no Espírito Santo e 1,4%, em Minas Gerais. Observando os dados por setores industriais, confirma-se que, na região, a indústria automobilística deu a maior contribuição para esta queda, seguida pela indústria extrativa e pela siderurgia.
            É fato que, desde o segundo semestre do ano passado, a indústria automobilística passa por dificuldades. A produção de veículos caiu 15,5% em abril. Segundo a Anfavea, o giro dos veículos no pátio das montadoras e concessionárias é de 43 dias. No quadrimestre, as vendas caíram 3,4%, principalmente, segundo os fabricantes, em virtude do aumento da inadimplência. A taxa de inadimplência acima de 90 dias, pelos dados do Banco Central, está em 5,7%, a maior da série produzida pela instituição. O mau pagador, então, é apontado como o inibidor da concessão de crédito neste setor.
Finalizados os balanços trimestrais, especula-se sobre os resultados a serem apresentados. Cogita-se que a Petrobras, neste período, apresente queda de 27% no lucro líquido. Já a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) divulgou uma queda do lucro líquido de 82,1% no primeiro trimestre, devido à fraca demanda interna e aos baixos preços do minério de ferro.
Diante desta realidade, não restou alternativa ao Ministério do Desenvolvimento, Comércio e Indústria senão lamentar. O secretário executivo do órgão, Alessandro Teixeira, declarou que o primeiro semestre deste ano será, para a indústria, um dos piores da história.
O setor industrial, embora venha perdendo peso na determinação do PIB, é o setor mais dinâmico da economia, por produzir um efeito de arrastamento muito grande nos serviços e na agropecuária. Em meio à desaceleração, a indústria clama por soluções e chama de paliativas as medidas tomadas pelo governo em relação ao câmbio e ao Programa Brasil Maior.
Por outro lado, analistas concordam que a política industrial está equivocada, pois não ataca o problema principal do setor, que é a perda de competitividade. Ou seja, segundo eles, a questão é estrutural, típica de uma sociedade que escolheu consumir a poupar!
Divergências à parte, o fato é que as previsões de crescimento do PIB vêm sendo revisadas. O Credit Suisse aposta em um crescimento de 2,5%. O governo, através do Ministério da Fazenda, que estimava uma taxa de 4,5%, e do Banco Central, que projetava uma taxa de 3,5%, vem reduzindo as previsões para abaixo de 3%. Provavelmente os 2,7% do ano passado se repetirão.
Os últimos números do IPCA, indicador da inflação, mostraram, entre março e abril, um aumento de 0,21% para 0,64%. Seis dos nove grupos levantados pelo IBGE apresentaram alta. Com isto, volta-se a especular a respeito da próxima decisão do Copom. A presidente agora terá que lidar com dois incômodos: o provável resultado pífio do PIB este ano e o retorno das discussões acerca da autonomia do Banco Central, em virtude da divulgação dos últimos números da inflação.


[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
Share:

0 comentários:

Postar um comentário

Novidades

Recent Posts Widget

Postagens mais visitadas

Arquivo do blog