sexta-feira, 4 de maio de 2012

Governo versus bancos


Semana de 23 a 29 de abril de 2012


Nelson Rosas Ribeiro[i]




            Afinal, temos duas novidades sobre a economia mundial. Duas economias da Europa consideraram-se oficialmente em recessão. Todos sabemos que os economistas adoram definições. Muitas são produzidas e modificadas segundo as conveniências. Foi assim que produziram a definição de “recessão” para caracterizar uma economia que, por dois trimestres seguidos, apresenta taxas negativas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), o que deve ser traduzido como “taxa de decrescimento do PIB”, ou seja, em um dado período, a economia encolhe, produz menos que no período anterior.
            Um dos países que se enquadrou nesta definição foi a Espanha, mas já se sabia que ela andava mal das pernas. Além de ter uma taxa de desemprego de mais de 20%, já havia decrescido 0,4% no último trimestre de 2011 e voltou a decrescer 0,3% no primeiro trimestre de 2012. O outro país surpreende, pois é a Inglaterra, o velho Reino Unido. Sua economia já havia encolhido 0,3% no último trimestre de 2011 e agora, no primeiro trimestre de 2012, encolheu mais 0,2%, respondendo às medidas de austeridade adotadas para reduzir o déficit público.
Por toda parte, na UE, ecoam os protestos e, quando surge a oportunidade, as populações correm seus respectivos dirigentes com “pontapés nos traseiros”. Dez dirigentes já foram derrubados, e agora caiu o governo na Holanda, e o poderoso Sarkozy, na França, perdeu o primeiro turno das eleições, provocando o pânico diante de um apertado segundo turno que se aproxima. Com isto cresce a onda antiausteridade que cada vez mais se confunde com a luta contra a odiosa figura da primeira ministra da Alemanha: Angela Merkel.
            E ninguém encontra nenhuma saída para a situação, nem mesmo uma ajuda externa, já que a economia dos EUA continua a andar de lado e a poderosa China programa o seu “pouso suave” com uma taxa de crescimento do PIB prevista para 7,5% neste ano.
Aqui no Brasil, também temos duas grandes novidades. A primeira delas é a divulgação da ata da reunião do Copom, que deixou os economistas e analistas na maior excitação. Procura-se ler nas entrelinhas, nos adjetivos, na colocação das vírgulas, as intenções do BC em relação à Selic. O famoso item 35 da ata anterior foi derrubado e agora o BC fala em novas reduções da Selic, embora com “parcimônia”. O mercado espera, então, que possa haver novos cortes e que a Selic possa cair a 8,75%, 8,5% ou mesmo 8,0%, segundo as estimativas mais radicais. Comenta-se que para a Selic cair abaixo de 8,5% será preciso alterar as regras de remuneração da caderneta de poupança, coisa que ninguém teve coragem de fazer até hoje.
            A outra guerra que o BC continua a travar é pela desvalorização do real e consequente valorização do dólar, o que tem exigido frequentes intervenções no mercado de forma propositadamente confusa. Parece que o BC quer levar a completa incerteza aos especuladores numa terrível queda de braço com a intenção de criar alguma proteção para a indústria nacional, que continua em desaceleração, segundo a Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) e a Confederação Nacional da Indústria (CNI).
            A segunda novidade é a guerra da Presidente Dilma contra o sistema bancário. Como nós já tínhamos previsto, a suposta redução dos juros e spreads bancários está dando margem a todo tipo de malandragem. Parece que apenas a Caixa Econômica Federal está levando a sério e a risca as determinações do Planalto. O próprio Banco do Brasil, que não é nem do Brasil, nem do José, nem do Antônio, mas de um grupo privilegiado de acionistas, está mordendo a corda, pois tem de garantir os dividendos das suas ações para manter a cotação delas na bolsa. A bandalheira entre os bancos privados é ainda maior. A irritação do governo parece estar aumentando, o que explicaria o discurso agressivo da presidente Dilma, proferido no rádio e televisão por motivo da comemoração do primeiro de maio.
            Como já havíamos previsto, brasileiros e brasileiras, preparemo-nos! Esta batalha vai ser muito dura.


[i] Professor do departamento de Economia, Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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2 comentários:

  1. Prezado Nelson Rosas Ribeiro, caros participantes do grupo PROGEB.

    Sou Rodrigo Borges, coordenador junto ao professor Everlam Montibeler de uma iniciativa parecida à sua na UFMS, com o nome de GECE, bastante jovem.

    Inspiramo-nos de quando participamos do grupo de conjuntura fundado pelo professor Paulo Nakatani na UFES.

    Gostaríamos de parabenizar seu grupo e sugerir que interagíssemos por nossos blogs, incentivando o debate, ou com outras atividades que poderíamos pensar. Além do blog, publicamos um boletim trimestral.

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  2. Talvez adiantando a postagem da próxima semana, à ampliação da recessão na Europa, seguiram-se eleições na França e Grécia que tentam estar contrapostas à "austeridade absoluta" neoliberal.

    Por outro lado, anunciou-se a mudança nas regras da poupança, sem que haja havido grandes problemas já que respeitou-se o direito adquirido.

    Esta medida sintetiza um enfrentamento na política monetária, e junto ao "fim da guerra fiscal", começa a caracterizar o primeiro ano real do governo Dilma, não?

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