Semana de 25 de junho a 01 de julho de 2012
Rosângela Palhano Ramalho[i]
Os escândalos de corrupção na política brasileira estão se tornando cada vez mais corriqueiros na imprensa. A quadrilha dirigida pelo bicheiro Carlinhos Cachoeira tem provavelmente ramificações em todos os partidos. O cinismo do petista Agnelo Queiroz, governador do Distrito Federal e do tucano Marconi Perillo, governador de Goiás, é arrematado com o descaramento do “ilibado” senador Demóstenes Torres, que, redimido, cabisbaixo, solenemente se declara não culpado, afrontando a inteligência da opinião pública.
Como se não bastasse, ainda somos obrigados a testemunhar as diversas alianças espúrias para as próximas eleições municipais. Democratas, socialistas, trabalhadores, comunistas, liberais, juntos, como se os seus ideais pudessem ser homogeneizados com um dissimulado aperto de mão. Afinal, vale tudo para conquistar o poder. O ex-presidente Lula tem feito um grande esforço para demonstrar isso. Vale impor uma candidatura. Vale posar na foto com Paulo Maluf. Em suas palavras, vale até “morder a canela dos adversários para fazer o Fernando Haddad prefeito de São Paulo”.
A mais recente demonstração de como se pode mudar de lado de forma instantânea foi dada pela senadora Kátia Abreu (PSD-TO). A auto-intitulada “representante dos produtores rurais”, antes crítica ferrenha do governo e uma das porta-vozes das mudanças no Código Florestal, rendeu-se ao anúncio do novo Plano de Safra, repleto de favores aos ruralistas, e discursou entusiasmada em defesa da reeleição da “presidenta” Dilma.
Se da área política nunca esperamos boas novas, da econômica sempre temos a expectativa de que o cenário irá mudar. Mas, cheios de esperança, temos de concordar com o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, que declarou não haver perspectivas otimistas e nem saída visível no horizonte para a crise atual. E quando olhamos a economia interna nos deparamos com a deterioração do nível de investimentos, que, segundo o Banco Central, crescerá apenas 1% em 2012, frente aos 4,7% de 2011. A previsão inicial do BACEN era de 5%.
O aumento das vendas de carros, propiciado pela desoneração fiscal, não está produzindo efeitos em outros setores. A indústria de autopeças reclama da inércia do setor. Ao que parece, a queda do IPI está produzindo apenas uma desova dos estoques do setor automobilístico, o que significa que, do ponto de vista produtivo, nada de novo está sendo criado.
Além disso, os produtos importados estão sugando todo o crescimento do consumo interno. Os importados tiveram, de janeiro a abril, uma participação de 40% no crescimento de 6,9% do consumo interno de bens industriais, segundo o Banco Central. Temendo o “pibinho” no final do ano, em desespero, o governo lança mais um pacote de estímulos, centrado agora em compras governamentais, redução do custo de empréstimos às empresas e corte da TJLP, que caiu, de 6%, para 5,5%.
No ato da divulgação do PIB de 2010, fato destacado em uma de nossas análises, Dilma exclamou: é um Pibão! Mas o governo logo se pôs a combatê-lo, pois, segundo eles, aquele crescimento era insustentável. Teríamos que crescer a 5%. Frear o crescimento, conter o consumo e reduzir os investimentos e a produção eram as palavras de ordem. O pacote adotado, turbinado pela crise internacional, parece ter sido forte demais e não há medidas que revertam a situação.
Mas, como se estivesse em outra dimensão, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, insiste em afirmar que a economia vai crescer 4% este ano, depois de ficar furioso e chamar de piada a previsão de algumas instituições, que já esperam um PIB abaixo de 2%.
Afinal, quem ousa afrontar o levantador de PIBs? Enquanto finalizo este artigo, leio que o Banco Central, revisou novamente para baixo a previsão de crescimento do PIB. Segundo o órgão, o crescimento não ultrapassará os 2,05%.
E agora, Mantega? Já que no Brasil tudo parece ser negociável, o senhor ministro bem que poderia ir ao “mercado”, assim como Cachoeira e os partidos políticos, tentar negociar um “Pibão”, pois, ao que parece, a atividade econômica não obedecerá à sua ordem e produzirá de fato um “pibinho”.
[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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