terça-feira, 4 de setembro de 2012

A verdade sempre vem bater à porta


Semana de 27 de agosto a 02 de setembro de 2012


Eric Gil Dantas [i]




Há três meses, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, dizia ser uma piada a previsão de crescimento de 1,5% para o PIB brasileiro em 2012, feita pelo Credit Suisse. No entanto, nesta última sexta-feira, o IBGE divulgou o resultado do crescimento desta variável no segundo trimestre, em relação aos três meses anteriores: 0,4%. Em relação ao mesmo período do ano passado, a taxa foi de 0,6%. Já a indústria teve queda de 2,4%, se comparado ao mesmo período de 2011, sendo o pior desempenho, o da indústria de transformação: um retrocesso de 5,3%.
Depois da divulgação destes números, Mantega ainda não quis fazer suas grandes previsões. A realidade novamente colocou em xeque qualquer tentativa de mistificação da conjuntura econômica feita pelo governo.
A lucratividade das empresas está sendo afetada por este desaquecimento na economia. No conjunto das 245 principais empresas listadas na bolsa, houve uma queda de 70% nos seus lucros, constituindo o pior segundo trimestre desde 2002, segundo um levantamento feito pelo Valor Econômico.
Já os estoques chegaram a patamares recordes. Eles são os maiores desde 2008, pico da crise financeira mundial. Em levantamento feito com dados de 200 companhias de capital aberto, os estoques chegaram a R$141,58 bilhões no fim de junho, 8% a mais que o volume de doze meses antes. No setor de transporte, que envolve empresas como a Gol e a ALL, os números são mais preocupantes. Registrou-se um avanço de 79% dos estoques em relação ao mesmo período de 2011.
Outra má notícia é que a Vale deverá cortar cerca de 20% dos seus investimentos para 2013. Desanimada com o preço do minério em queda até agora, o investimento da empresa deverá ser R$4 bilhões a menos do que neste ano de 2012.
Tentando reverter a situação na economia nacional, o governo continua com a aplicação de políticas anticíclicas. Agora o BC, mais uma vez, cortou a SELIC em 0,5%, reduzindo-a para 7,5% a.a. Mas, o COPOM avisa que poderá ser a última queda no ciclo de afrouxamento monetário iniciado em agosto de 2011. Existe apenas espaço para mais um corte de no máximo 0,25%, caso seja extremamente necessário.
O cenário internacional, por sua vez, continua a não animar em nada nossas perspectivas futuras. A China, principal parceira comercial do Brasil desde 2009, continua a desacelerar. O PIB chinês cresceu apenas 7,6% no segundo trimestre, menor avanço em três anos. Com isto, pelo quarto mês seguido, o lucro no setor industrial caiu.
Ainda na Ásia, o Japão já rebaixa suas projeções para o crescimento deste ano, quando provavelmente terá uma recessão. O JPMorgan Securities prevê uma retração anualizada de 0,3% no PIB japonês para o próximo trimestre. Já o BNP Paribas estima queda de 0,9%. Na Coréia do Sul, os ventos contrários que afetam as economias asiáticas derrubaram, em 6%, as importações dos sul-coreanos, demonstrando a perda de impulso da demanda interna do país.
Na Europa, a Fiat anuncia cortes da produção na planta italiana, devido à queda da demanda, colocando 2,5 mil empregados de licença. A Volvo, na Suécia, reduzirá a produção, de 57, para 52 veículos por hora. Estas duas seguiram a GM e a Ford, que também anunciaram cortes de produção na Europa recentemente.
Já os problemas fiscais ainda continuam os mesmos no velho mundo. A Catalunha pede socorro ao governo central da Espanha para evitar calote, anunciando que necessitará de uma ajuda de €5 bilhões. Em Portugal, as coisas também não melhoraram. Os mais recentes dados orçamentários mostram que a receita governamental está abaixo da meta, com queda de 3,5%, o que alimenta temores da necessidade de um segundo socorro aos lusitanos por parte da União Europeia. A coisa está tão feia que a temporada de caça à sonegação fiscal, prática responsável pela evasão de €2 trilhões de euros por ano aos cofres públicos, finalmente começou.
            Mas a caça a um Al Capone qualquer não será a salvação. Estamos mesmo condenados a aguentar estas crises cíclicas enquanto vivermos no sistema capitalista.


[i] Economista e pesquisador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira (progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
Share:

0 comentários:

Postar um comentário

Novidades

Recent Posts Widget

Postagens mais visitadas

Arquivo do blog