quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Recuperação?


Semana de 01 a 07 de outubro de 2012


Rosângela Palhano Ramalho[i]



            Caro leitor, é de conhecimento comum que a crise econômica produz vencedores e perdedores. Enquanto a grande maioria da população torce para que a saída da crise aconteça o mais rápido possível, “investidores” do mundo inteiro torcem pelo afundamento da economia espanhola. O possível rebaixamento pela Moody´s dos papéis da Espanha para o conceito junk, que os classificaria como de alto risco e, por isso, de alto rendimento, gera grande expectativa no “mercado”. Todos (os que ganham com a desgraça alheia) estão torcendo para que o “mercado”, que movimenta € 250 bilhões na Europa, seja impulsionando e se torne semelhante ao dos Estados Unidos, que gira US$ 1,2 trilhão.
            Por outro lado, economistas e governos continuam na expectativa de como e quando se dará a recuperação econômica. Será em U, V, W, L? O fato é que alarmes falsos soam a todo o momento. Os EUA já anunciaram várias vezes a sua recuperação considerando a melhora das estatísticas e várias vezes tiveram que desmenti-la.
Aqui no Brasil, desde a semana passada, chovem informações afirmando que a nossa recuperação começou. Esta, pelo menos, é a visão da maioria, inclusive a do governo. O avanço de 1,5% da produção industrial, de julho para agosto, é o melhor resultado, desde maio do ano passado, segundo o IBGE. Vinte dos vinte e sete segmentos industriais pesquisados aumentaram suas atividades no período. Conforme André Luiz Macedo, gerente da coordenação da indústria do IBGE, há setores com estoques elevados, outros com exportações em queda e com dificuldades diante da competição com os importados.
            Outro fato deve ser levado em consideração: a melhor performance aconteceu no setor automotivo que cresceu 3,3%, com a perspectiva do fim da redução do IPI, em agosto. Mas a informação mais atual que temos do setor dá conta de que as vendas de carros despencaram, em setembro, caindo 31,5%, comparadas a agosto. As vendas de caminhões, segundo a Fenabrave, continuaram caindo. Na comparação com agosto, a queda foi de 25,5%. Já as vendas de ônibus, caíram 36,8%, na mesma comparação.
            Outro dado (já de setembro), que não reforça o cenário de recuperação propagado por muitos, vem da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Segundo o órgão, o nível de estoques da indústria, em setembro, ficou praticamente estável, em relação a agosto, ou seja, o nível de estoques permanece alto. Mesmo assim, os empresários estão mais “confiantes”. O Índice de Confiança da Indústria, também apurado pela FGV, cresceu 0,9%, entre agosto e setembro.
            Mas, para nós, a informação mais relevante vem do setor de bens de capital que cresceu apenas 0,3%, em agosto. Este é um sinal de que os investimentos não estão se recuperando. De fato, a produção de máquinas e equipamentos encolheu 2,6% no período. Mesmo assim, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, acredita na “recuperação gradual”. Segundo ele, “Deixamos para trás o período de crescimento fraco, agora o crescimento começa a acelerar e vai nessa direção até o fim do ano.” O ministro também afirmou que os analistas que esperavam um crescimento maior, entre 1,6% e 2,6%, projetaram “mal”.
            Sinalizando insegurança em relação às estatísticas publicadas, o governo planeja aumentar a taxa de investimento da economia em 10%, no próximo ano, o que elevaria o estoque para próximo de 20% do PIB. A taxa de investimento real vem caindo, desde o segundo trimestre de 2010. Até o início de 2013, novas medidas serão anunciadas, para a redução dos custos de produção através da unificação da Cofins e do PIS e da unificação, em 4%, da alíquota interestadual do ICMS - Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços As desonerações de impostos continuarão e se tornarão permanentes para o setor de bens de capital. A depreciação acelerada desses bens poderá ser estendida até 2013.
            Como vimos, a passagem da crise para a fase de recuperação não é tão simples assim. Muito se comemora, mas o crescimento de apenas 0,2% e 0,4%, no primeiro e segundo trimestre deste ano, nos pede cautela. E mais cautela ainda quando olhamos para a queda da indústria, de 2,5%, no segundo trimestre. É óbvio que, como economistas e brasileiros que somos, torcemos por uma recuperação rápida e breve. Mas o 1,5% do crescimento industrial de agosto não permite que afirmemos que já estamos na fase de reanimação do ciclo econômico. Por esta razão termino esta análise com uma dúvida.
            Recuperação?


[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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