quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Ano novo e nova notícia velha...


Semana de 14 a 20 de janeiro de 2013


Lucas Milanez de Lima Almeida[i]




            O ano mal começou, e os números referentes a 2012 e as previsões para 2013 já mostram que não teremos grandes mudanças nos primeiros meses que sucedem o réveillon. Porém, isto não é um problema. Na verdade é natural.
            Há algum tempo que falamos aqui nesta coluna semanal sobre as fases pelas quais passam as economias capitalistas. Após uma crise, sempre vem um momento de calmaria, onde impera a desconfiança dos empresários, seguida por uma relativa prosperidade, causada pela retomada tímida do crescimento da demanda. Esta última, por sua vez, desemboca numa fase de crescimento eufórico e certa distribuição de renda. É quando as condições para uma nova crise se instalam, causando novamente falências e demissões.
            Entre 2007 e 2009, o mundo passou por uma fase tão turbulenta que só encontramos comparativo na crise de 1929. Entretanto, como era de se esperar, estamos na fase de “apatia produtiva” a nível nacional e internacional. Até a China, que, por suas precárias condições de produção e de trabalho que barateiam os custos, sempre foi considerado o chão de fábrica do mundo, está vendo seu crescimento atingir os menores patamares em décadas (lá, além da crise, existe a luta da classe trabalhadora por melhor qualidade de vida, com reivindicações de melhoria dos salários e outros direitos trabalhistas).
            O governo brasileiro também vê este momento com cautela. Em 2012, por exemplo, o país dobrou suas reservas em ouro, para pouco mais de 67 toneladas. A Alemanha pretende fazer coisa semelhante, ao tentar repatriar nada mais, nada menos do que 1,95 mil toneladas do metal que estão, desde a Guerra Fria, guardadas nos EUA e na França.
            Contraditoriamente, enquanto uns temem o futuro, outros se aproveitam das suas expectativas. É o que está acontecendo com os famintos (já que se trata do apetite do “mercado”) que detêm os “junk bonds”, ou bônus de alto risco. A causa disto, que também é paradoxal, é a baixa rentabilidade que os papeis atrelados aos juros proporcionam. Assim, já que o retorno de outros ativos é baixo, os especuladores procuram qualquer coisa mais rentável, mesmo que provavelmente podre, para comprar e vender.
            Voltando ao “lado real” da economia brasileira, podemos encontrar algumas explicações para a cautela dos governos e bancos centrais. Em uma pesquisa realizada pela empresa Nielsen, as vendas de uma cesta de bens de consumo não duráveis, por eles selecionada, devem ter um fraco crescimento, de 0,4%, no ano de 2012. Segundo especialistas, este será o mesmo ritmo encontrado no varejo como um todo. Os dados das vendas internacionais também não ajudam. O quantum exportado pelo país no ano passado foi 0,3% menor do que no ano de 2011. Até as importações diminuíram, chegando a cair 2,3%. Como apresentado em relatório da Organização Mundial do Comércio, o Brasil tem significativa vulnerabilidade a flutuações na atividade econômica, isto porque 45% da pauta de exportações brasileiras é composta por produtos básicos, como commodities e minerais.
            Apesar da referida queda nas importações, podemos ver que este indicativo da OMC pode ser ainda pior. Entre janeiro e novembro de 2012, o crescimento nas venda do varejo foi de quase 9%, enquanto que a produção da indústria de transformação diminuiu 2,7%. Fica claro que, se as vendas internas estão aumentando e a produção nacional está reduzindo, a demanda dos consumidores brasileiros está sendo satisfeita por produtos importados, ou seja, os estímulos ao consumo interno estão vazando para o mercado externo. Corroborando com esta tese, de um ponto de vista estrutural, estão os números referentes aos anos de 2005 a 2012, quando as vendas cresceram 76,2% e a produção física industrial local cresceu pífios 8,14% no período.
            Voltando à conjuntura, segundo estudo publicado pela Confederação Nacional da Indústria, a intenção de investir dos empresários no ano de 2013 é a menor desde 2009, quando o PIB do país decresceu 0,2%. O número de empresas que investiram em 2012 (80,2%) foi 8,5% menor do que aquelas que investiram no ano de 2011. O motivo é um velho conhecido: as incertezas em torno de uma demanda fraca.
            O governo, coitado, está tentando inventar alguma feitiçaria que leve os empresários a aflorarem seu “espírito animal” e investirem na produção. Delfim Netto, o Ministro do milagre econômico brasileiro, apoia, com ressalvas, tais medidas. Ou seja, este é um ano novo cheio de notícias que poderiam ser manchete de jornais passados.


[i] Professor do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb. (www.progeb.blogspot.com.)
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