quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Adeus indústria?


Semana de 07 a 13 de janeiro de 2013


Eric Gil Dantas [i]




Como já não é mais novidade para ninguém, observamos, semana após semana, a queda da previsão de crescimento do Brasil no Boletim Focus (pesquisa feita pelo Banco Central do Brasil). A última previsão para 2012 foi de 0,98%. Esperemos o número oficial do IBGE. Já para 2013, mesmo estando ainda em janeiro, uma nova queda de estimativa do crescimento já ocorreu: de 3,4% para 3,2%.
Isto nos mostra que a economia ainda está no “mais do mesmo”, em constante queda e prolongamento da crise, processo já constatado nesta coluna há algum tempo. No entanto, um setor em particular deve ser levado em consideração. No nosso país, este setor já agoniza há décadas, mas sua deterioração se acentua em meio a grande crise econômica. Estamos nos referindo ao setor industrial.
A queda das previsões do crescimento do PIB, para valores inferiores a 1%, neste ano de 2012, tem como principal fator a ser considerado, o tombo da produção industrial. Até outubro, o último dado coletado pela Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) dizia que o faturamento bruto dos fabricantes nacionais havia recuado 2,3% em relação ao mesmo período de 2011. Esta foi a primeira queda observada nesta série desde o tombo provocado pela crise em 2009. Já o nível de utilização da capacidade instalada da indústria de máquinas e equipamentos alcançou o patamar mais baixo em 40 anos, e nove mil empregos foram cortados em 12 meses. Na pesquisa do IBGE sobre a produção física industrial referente a novembro, os bens de capital despontaram como a categoria com maior retração: 1,1% abaixo do mês anterior. No acumulado dos 11 primeiros meses, a queda foi de 11,6%.
Em São José dos Campos, a GM continua com a decisão de fechar sua linha de produção para transferi-la para o interior do Paraná, onde os custos trabalhistas seriam amenizados. Se a demissão for efetivada, 1500 operários perderão seus empregos, segundo o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, o que se somará às outras nove mil demissões já citadas na indústria de máquinas e equipamentos.
As atuais políticas governamentais de incentivo econômico estão sendo aplicadas com o intuito de recuperar, principalmente, este setor. O Programa de Sustentação do Investimento (PSI), por exemplo, empresta, via BNDES, a taxas de juros anuais de 3% (até o final do ano passado a taxa era de 2,5%), ou seja, paga para os capitalistas investirem, já que a inflação é maior do que a taxa de juros. Além disto, foi feita a redução do IPI, imposto cobrado para produtos industrializados, que contempla vários setores entre os quais estão os veículos e a linha branca. Os efeitos ainda são marginais. Hoje, a nossa indústria tem o mesmo peso na produção de riquezas do país que tinha em 1947.
Mas, não é só no Brasil que a crise está afetando o setor industrial. Na Europa, segundo o Deutsche Bank, a União Europeia (UE) está com excesso de capacidade de pelo menos 30% na produção de carros e parece inevitável mais fechamentos de fábricas na região.
A Ford fechou, em 2012, uma fábrica na cidade industrial belga de Genk, que funcionava há 26 anos, demitindo 4300 funcionários. A GM, por sua vez, cinco meses antes, fechou uma fábrica da Opel aberta há 50 anos em Bochum, na Alemanha, eliminando três mil empregos. Já a GE está concentrando a maior parte de seus cortes de US$2 bilhões, anunciados em maio, em suas operações na UE.
Com os investimentos diretos, na UE, caindo 10% anualmente desde 2008, o quadro preocupa e coloca em xeque o ritmo de recuperação do continente. Entre 2007 e 2011, os investimentos anuais, nos 27 países da UE, caíram € 350 bilhões. Segundo estudo da consultoria estadunidense McKinsey, esta perda de investimentos deixou de gerar € 543 bilhões em receita para as empresas europeias, entre o ano de 2009 e 2010.
Uma nova conjuntura mundial está criando profundas alterações na divisão social do trabalho, com a indústria saindo dos países onde eram pagos salários razoáveis, para locais com baixos salários, como China, Vietnã e outros países do sudeste asiático.
Nestas circunstâncias, o pós-crise promete ser tão penoso para as populações quanto a própria crise.


[i] Economista e pesquisador do ILAESE (Instituto Latino-americano de Estudos Socioeconômicos) e do Progeb (Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira) (progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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