Semana de 28 de janeiro a 03 de fevereiro de 2013
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Aumentam os rumores de uma possível recuperação da economia mundial. De acordo com a teoria dos ciclos econômicos, que utilizamos, depois de ultrapassar a fase de crise, atravessamos a fase de depressão e nos aproximamos de seu limiar, quando deveremos entrar na terceira fase, a reanimação. Esta abrirá as portas para um novo auge que será a quarta fase. No entanto, uma das peculiaridades do ciclo atual é o prolongado período das fases de crise-depressão. Ao se aproximar do final destas fases, a limpeza da economia, com a destruição de capitais, que deveria estar se completando, ainda não deu os resultados necessários. Ela tem sido dificultada pela intervenção dos governos e dos Bancos Centrais de todo o mundo. É precisamente o tipo de intervenção que tem sido feita que torna frágil e imprevisível a passagem para a reanimação.
Até aqui não há grandes novidades. Mas as características próprias do atual ciclo, a forma financeira que assumiu a sua deflagração e a longa duração das fases de crise-depressão, têm confundido os economistas.
Estas características estão tornando penosa a recuperação da economia que continua entupida de capitais fictícios e escorada, por todos os lados, pela ação dos BCs em defesa das instituições financeiras e do rendimento dos especuladores. Servem de exemplo os acontecimentos que motivaram a euforia dos “mercados”. 1 – O abismo fiscal dos EUA foi contornado provisoriamente e o Fed, banco central americano, continua despejando milhões de dólares na economia, mantendo a decisão de comprar mensalmente e indefinidamente ativos podres; 2 – O BCE controlou temporariamente a zona do euro adiando o problema de sua desintegração, ao dar apoio aos títulos soberanos dos PIIGS; 3 – O crescimento da confiança nas autoridades monetárias diante da ação coordenada dos BCs, que baixaram as taxas de juros e inundaram o mercado de dinheiro. Não podemos deixar de incluir aqui uma quarta razão e, para nós, a mais importante: a destruição de capitais sob todas as suas formas (dinheiro, mercadoria, produtiva e financeira), já conseguida até agora começa a dar seus resultados.
No entanto, relatórios de organizações internacionais como o Banco Mundial (Global Economic Prospect) e o Fundo Monetário Internacional – FMI (World Economic Outlook) alertam para a fragilidade dessa possível recuperação. Enquanto os países emergentes têm mostrado dinamismo, os países de alta renda sofrem de uma “depressão contida”. O mundo continua a marchar em duas velocidades. Até a poderosa Alemanha, tão intransigente e defensora da austeridade, é obrigada a, sorrateiramente, adotar um programa de combate ao desemprego, o “Kurzarbeit” subsídio que é dado pelo governo para complementar os salários dos operários que têm as jornadas de trabalho reduzidas.
As conseqüências deste quadro, na economia brasileira, continuam a ser desastrosas. Além do baixo crescimento do PIB, inferior a 1%, a indústria foi o setor mais penalizado com uma queda de 2,7%, em 2012. A pior situação foi a do setor de máquinas e equipamentos, cuja capacidade instalada teve uma utilização média mensal de 75,6% e a produção caiu 3,6%. Até empresas de setores privilegiados como as mineradoras inventaram um nome pomposo para esconder seus fracassos, que representam destruição de capital: as “baixas contábeis”. A Vale anunciou uma “baixa contábil” de US$ 4,2 bilhões e a Anglo American de US$ 4 bilhões.
O governo continua decidido a enfrentar a crise com todos os meios ao seu alcance. O campo de batalha desta semana foi o câmbio. Uma queda na cotação do dólar abaixo de R$2,00 deixou o “mercado” nervoso e provocou pronunciamentos de economistas e analistas. Irritado o ministro Mantega veio a público declarar que não usará o câmbio para combater a inflação que ameaça sair do controle. Por seu lado o BC afirmou que o uso dos juros não afeta a inflação, pois ela é resultado de um choque de oferta.
Restou o mistério: em um regime de “flutuação suja” quem terá sido o responsável pela queda do dólar e valorização do real? Que acontecerá na próxima semana no embate entre o “mercado sujo” e os órgãos do governo?
[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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