quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

O desespero do “mercado”


Semana de 11 a 17 de fevereiro de 2013


Rosângela Palhano Ramalho[i]



            Caro leitor, a folia acabou, a quarta-feira de cinzas chegou, mas o ritmo da economia continua o mesmo. Para quem acha que o ano começa depois do carnaval, frisamos novamente: ano novo, notícia velha... A recessão se arrasta na Europa, Estados Unidos e Japão.
            Enquanto isso, internamente, o governo ainda digere o resultado esperado de 1% para o PIB, em 2012, e é obrigado a conviver com o dedão acusador do “mercado” que continua apontado em sua direção. O resultado será pífio para o PIB e expressivo para a inflação que, em janeiro, fechou em 0,86%. No acumulado do ano, o IPCA registra alta de 6,15%. Provavelmente, pelo terceiro ano consecutivo, o Brasil registrará inflação acima do centro da meta. O Boletim Focus já prevê uma inflação de 5,71%, em 2013.
            Segundo os analistas e “investidores”, o Banco Central, achando pouco, ainda cometeu o “grande pecado” de divulgar que a variação de preços convergirá para 4,5% (centro da meta) de forma não linear. Agora sim, é que as expectativas para o futuro foram liquidadas de vez.
Pecado ainda maior, continuam os “investidores”, foi o de reduzir os juros e permanecer com a intenção de mantê-los assim por muito tempo. E agora? Assim não dá! Os “investidores” estão confusos com os sinais divergentes do governo em relação ao rumo da política econômica.
            Haverá elevação da taxa de juros? O governo intervirá na taxa de câmbio?
            O Banco Central já afirmou que aumentar os juros não seria a opção da instituição. Considerando a inflação como de oferta, o governo deve partir para outra linha de frente: deslocar os incentivos do consumo para os investimentos. Mas se até agora a voracidade dos empresários ainda não aflorou, o que fazer? O Partido dos Trabalhadores encontrou a solução.
            Em comemoração aos 10 anos no poder, a sigla decidiu realizar uma pesquisa para tentar entender a relação do empresariado com o partido. A intenção, segundo Rui Falcão, presidente do partido, é verificar quem está a favor e quem está contra a legenda. E o mais complexo (segundo o PT), é que o estudo vai tentar detectar por que a classe dominante, mesmo recebendo inúmeros benefícios, ainda age com desconfiança e acusa Dilma de ser má gestora.
            No que diz respeito ao câmbio, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que tinha declarado que não permitiria a queda do dólar a R$ 1,85, afirmou esta semana, que o governo não intervirá no mercado. A taxa atual, segundo ele, garante a competitividade das exportações e ainda protege a indústria nacional da entrada de produtos a preços baixos manipulados artificialmente. O ministro ainda completou que o câmbio não é o instrumento adequado para o controle da inflação e que este combate deve ser feito através da política de juros.
            Desespero no “mercado”! E se o governo não aumentar os juros? E se não usar o câmbio para combater a inflação? Se o Banco Central e o Ministério da Fazenda não entrarem em acordo a respeito dos rumos da política econômica, o que será do “mercado” e dos seus “investidores”?
            Bem, a resposta é muito fácil.
            O “mercado” não mais sugará retornos elevados antes proporcionados pela maior taxa de juros do mundo... Não poderá ganhar com tanta facilidade com as diferenças entre as taxas de juros dos diversos países, movimentando elevadas quantias de dinheiro ao redor do mundo...
Diante da “incerteza” o “mercado” continuará a testar os limites cambiais idealizados pelo governo, esperando a sua intervenção. Mas não terá garantias de ganhos com as operações cambiais. O risco será não ganhar com o movimento incessante de compra e venda de moeda estrangeira ou com os famosos swaps cambiais reversos.
            Quero dizer que, o “mercado” e seus “investidores” terão a sua atividade principal, a especulação, inibida, o que é insuportável e imperdoável.
            No “mercado” é só isto que poderá acontecer, daí o nervosismo.


[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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