quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Qual o ritmo deste carnaval?


Semana de 04 a 10 de fevereiro de 2013


Lucas Milanez de Lima Almeida[i]




            Estamos na semana do carnaval. Os ritmos que embalam o Brasil são muitos e variam de acordo com a localidade: no Rio de Janeiro e em São Paulo, o samba domina, na Bahia, é o axé, em Pernambuco, são o frevo e o maracatu, sem falar do Maranhão, com suas misturas e cadências exclusivas. Com esta verdadeira salada rítmica, sempre fica a questão: qual o melhor carnaval? Qual ritmo embala melhor mais foliões?
            Tertúlias à parte, parece que o compasso seguido pela economia brasileira permanece “paralelo ao ritmo”. Isto é o que diz a comissão julgadora, também conhecida como “mercado”. Não bastassem os problemas que atingem o mercado financeiro global desde 2007, o “mercado” reclama da falta de clareza e orientação dos pronunciamentos dos membros do governo. Para eles, as comunicações não mostram quais as reais intenções da atual política econômica. O ministro Mantega, que, segundo alguns, está com seus instrumentos desafinados, tenta convencer os avaliadores de que a política atual é anticíclica, que a Selic não está engessada e que a taxa de câmbio não é ferramenta para conter a inflação. Já convenceu Delfim Netto, mas...
            Por outro lado, carente de uma taxa de juros elevada e por não acreditar no discurso oficial, o “mercado” iniciou, há duas semanas, uma série de testes contra o Banco Central e o governo brasileiro. O alvo da vez foi a taxa de câmbio. O objetivo era saber até onde a referida taxa poderia oscilar. Para tanto, o “mercado” provocou uma queda especulativa no preço de compra do dólar a tal ponto que o governo interviu para segurá-la. Após as ações, o próprio Mantega saiu em defesa do que está sendo chamado de piso informal. O valor mínimo para se comprar a moeda americana, segundo ele, será de R$ 1,85. O “mercado”, porém, prevê uma variação entre R$ 1,95 e R$ 2,00 e trabalha com esta cotação. Veja que a esta comissão está difícil de satisfazer. Tanto que foi preciso até uma reunião entre o ministro da Fazenda, o presidente do BC, Alexandre Tombini, e os banqueiros do BB, Caixa, Bradesco, HSBC, Itaú, Santander, Citi e Safra, para acalmar os nervos.
            Problema também é convencer os empresários do setor industrial de que o ritmo da atividade econômica está acelerado e aquecido como um bom frevo de rua. As condições para os negócios estão sendo melhoradas, pelo menos é o que dizem as fontes oficiais: o conjunto de desonerações e incentivos aos setores considerados chaves estão fluindo. As parcerias com o setor privado estariam engrenadas; os projetos de concessões e obras de infraestrutura estariam prontos; ou seja, os instrumentos estariam afinados para começar, em bom ritmo, a fase de crescimento.
            No entanto, como falamos na análise passada, a economia se desenvolve por meio de ciclos. Apesar das condições serem consideradas, por alguns, boas (mas nem tanto), o momento não é este. É como contratar uma escola de samba para um velório. O ritmo é outro. A venda de veículos em janeiro de 2013 teve uma redução de 13,3% ante dezembro do ano passado. Já as exportações de máquinas agrícolas diminuíram 46,4% no mesmo período. A indústria como um todo caiu 2,7% entre 2011 e 2012, com destaque para a queda de 11,8% do setor de bens de capital. As expectativas para 2013 seguem este mesmo obituário: cenário externo desfavorável e incertezas sobre as condições internas de investimento.
            A China, maior parceira comercial do Brasil, está com uma dívida corporativa estimada em 128% do seu PIB. Isto quer dizer que, somadas todas as contas a pagar de todas as empresas chinesas, ainda estaria faltando 28% de um PIB de US$ 8,28 trilhões para quitar as contas.
            A situação internacional é tão incomum que dois fatos devem ser registrados: o primeiro é o reconhecimento de que os regimes de metas para a inflação não são os ideais para uma condução de política econômica (há quem diga até que a forma da crise atual foi causada justamente por este regime) e o segundo fato é o elogio do FMI à condução da política econômica brasileira, com suas inovações e medidas macroprudenciais (pelo menos alguém foi atrás do trio elétrico da presidenta).
            Como podemos ver, ainda não temos uma batida bem cadenciada e determinada. No carnaval da economia, não podemos dizer se vai dar samba, frevo, axé ou qualquer outra coisa. O que podemos fazer é esperar a quarta-feira de cinzas chegar para ver no que vai dar.


[i] Professor do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb. (www.progeb.blogspot.com.)
Share:

0 comentários:

Postar um comentário

Novidades

Recent Posts Widget

Postagens mais visitadas

Arquivo do blog