terça-feira, 19 de março de 2013

A polêmica ata do COPOM


Semana de 11 a 17 de março de 2013


Eric Gil Dantas [i]


O debate dos últimos dias gira em torno da conturbada ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (COPOM), divulgada no dia 14. Em seu parágrafo 28, a ata afirma “que a política monetária deva ser administrada com cautela”. Isto, claro, inquietou todo o sistema financeiro, que berrou por emergência no aumento da taxa de juros para combater a inflação, que se aproxima perigosamente do extremo da meta.
A inflação acumulada nos últimos 12 meses atingiu 6,15%, em janeiro, abaixo dos 6,22%, registrado no ano anterior. No entanto, isto foi o suficiente para a criminalização do discurso do Banco Central (BC) por parte de diversos economistas ligados aos grandes bancos, que veem na taxa de juros o único mecanismo de controle. O economista-chefe do BNP Paribas, Marcelo Carvalho, denominou a ata de “velha”, por ela ter sido escrita antes da divulgação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor – Amplo (IPCA), de fevereiro, que veio acima do esperado pelo mercado e pelo BC (que estimava em 0,6%). As especulações dos economistas, já para a reunião de abril, ou maio, variam entre aumentos da SELIC, de 0,25% a 0,5%. O BC parece estar em uma situação bastante delicada. Apesar de a inflação estar acima do centro da meta, a economia não cresce. Como já dito em análises anteriores, o Brasil teve um crescimento do seu PIB de apenas 0,9%, em 2012, e em termos per capita, de 0,1%. Mas, como a fase atual ainda não parece ser de recuperação, a atuação do Banco Central, na aplicação de sua receita ortodoxa, torna-se difícil.
Para tentar salvar a economia, o governo expandiu mais uma vez seu pacote de isenções fiscais, esperando, assim, diminuir a inflação, estimular o consumo, e consequentemente, despertar o instinto dos empresários para os investimentos.
A medida provisória publicada na semana passada fez um corte geral de tributos dos seguintes produtos: carnes, peixes, café, açúcar, óleo de soja, manteiga, margarina, sabonete, pasta de dente e papel higiênico. Ao todo, o governo deverá abrir mão de R$ 5,5 bilhões em arrecadações, em 2013. Mas, como em casos anteriores, o repasse da isenção aos consumidores será apenas parcial. Para o Bradesco, a média deste repasse, para o preço comercial, deverá ficar próxima dos repasses das isenções de IPI de carros (84%) e da linha branca (40%).
Mas, vivemos em uma economia globalizada e, por isso, o Brasil apenas poderá livrar-se da crise em um movimento global. A retomada do crescimento internacional será assim, o porta-voz do final da crise econômica brasileira.
A China – principal parceira comercial do Brasil –, infelizmente, demonstra que a retomada ainda não é pra já. Sua produção industrial cresceu 9,9% entre janeiro e fevereiro, na comparação com o mesmo período de 2012. Apesar de parecer um resultado bastante positivo, isto representa uma desaceleração, ante o crescimento anualizado de 10,3%, em dezembro, e das previsões feitas por economistas, que eram de 10,5%. No varejo, o crescimento foi de 12,3%, no primeiro bimestre, em relação a um ano atrás, contra uma alta de 15,2%, em dezembro.
No Reino Unido, a queda da produção industrial foi de 1,2%, entre janeiro e dezembro, e de 2,9%, se comparado ao mesmo período de 2012. Já na zona do euro, esta queda foi de 1,3%, se comparada ao ano passado, e de 1,7%, se considerarmos os resultados de toda a União Europeia.
Para termos uma ideia, da precariedade da situação, lembramos que o PIB da zona do euro, hoje, está 3% abaixo do seu nível de antes da crise. Na Itália, a queda chega a 10%.
Nos EUA, os problemas dos próximos meses serão agravados pelos cortes automáticos de U$85,3 bilhões de gastos públicos, que entraram em vigor, em março, e pelo aumento de impostos definido na virada do ano, nas negociações que evitaram o chamado “abismo fiscal”. A tímida aceleração da economia estadunidense poderá ser prejudicada pelos cortes dos gastos públicos, que certamente serão sentidos.
A ainda frágil economia mundial impede a retomada do crescimento brasileiro. No entanto, as pressões do capital financeiro, pelo aumento da SELIC, também devem prejudicar esta retomada, tendo em vista que o aumento da taxa de juros pune os consumidores e onera os investimentos produtivos no país.


[i] Economista e mestrando no Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR; é pesquisador do ILAESE (Instituto Latino-americano de Estudos Socioeconômicos) e do Progeb (Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira) (progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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