quarta-feira, 6 de março de 2013

Novos obstáculos para a recuperação


Semana de 25 de fevereiro a 03 de março de 2013


Nelson Rosas Ribeiro[i]




Em análises anteriores, temos chamado a atenção para o aumento dos rumores de uma possível recuperação da economia mundial.
Esse processo não deixa de ser contraditório. Durante a semana passada, quatro acontecimentos internacionais foram aguardados com ansiedade: as eleições na Itália, a fala de Ben Bernanke, presidente do Fed (Banco Central dos EUA) no congresso americano, a decisão sobre a questão fiscal nos Estados Unidos e a escolha do presidente do Banco do Japão (BoJ). Estes acontecimentos representam fortes indicadores dos rumos que tomarão a economia mundial. Os resultados apenas confirmaram o agravamento da situação, embora dois deles tenham alegrado os especuladores financeiros. Em seu discurso, Ben Bernanke garantiu que o Fed continuará sua política de “afrouxamento monetário” e manterá a compra mensal de US$ 85 bilhões de títulos, injetando dinheiro na economia. No Japão, o novo presidente do BoJ prometeu entrar na onda mundial do dinheiro fácil, despejando ienes nos mercados e desvalorizando sua moeda. Convém lembrar que o Banco Central Europeu (BCE) já vinha comprando títulos da dívida soberana e sustentando as economias de países como Grécia, Espanha e Portugal e que, na “guerra cambial”, até o sisudo Banco Suíço havia decidido emitir francos para saciar a furiosa demanda especulativa sobre esta moeda. Observamos assim o agravamento da avalanche de papel moeda que ameaça soterrar a economia mundial o que trará consequências imprevisíveis.
Em relação aos outros acontecimentos, a questão fiscal dos EUA agravou-se diante do impasse entre republicanos e democratas e entrou em vigor o “sequestro fiscal” com os cortes impostos ao orçamento. Quanto às eleições italianas o resultado foi o pior possível e o país encontra-se à beira da ingovernabilidade. Nenhum partido obteve maioria que permitisse a formação de um novo governo e o partido mais votado foi o partido do protesto do comediante Beppe Grillo. De cada 10 italianos 9 se manifestaram contra as medidas de austeridade, o que representa uma forte ameaça à estabilidade da zona do euro.
No Brasil, a situação não é das melhores. A divulgação, pelo IBGE, dos dados do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), para 2012, mostrou, como era previsto, um crescimento do PIB de apenas 0,9%, em relação ao ano anterior. Esta taxa ridícula, que coloca o Brasil entre as piores economias do mundo, desmoralizou, uma vez mais, as previsões do ministro Mantega que estavam em torno dos 4,5%. Mas não foi só isto. Segundo o IBGE, a indústria encolheu 0,8% e os investimentos 4%. Até a agropecuária diminuiu 2,3%. Em sentido contrário, a inflação subiu para 5,8%, ficando acima do centro da meta que era de 4,5%. Enquanto isto, o consumo das famílias cresceu 3,1% e o do governo 3,2%. Como se vê, o crescimento do emprego e da renda que ocorreu no país, em 2012, foi dirigido para fora do país, estimulando as importações favorecidas pelo câmbio e prejudicando a indústria nacional.
Não é por acaso que o pessimismo aumentou entre os agentes econômicos. Três índices de confiança, apurados em fevereiro, para os consumidores, o comércio varejista e os serviços, mostraram uma queda no otimismo. Já se volta a falar em estagflação, termo que significa estagnação com inflação, quadro que desconcerta os economistas seguidores da teoria econômica oficial e põe o BC em um terrível dilema quanto à taxa básica Selic. Esta semana, na quarta feira, a reunião do Copom (Conselho de Política Monetária) deverá tomar uma decisão sobre esta taxa. Segundo a ideologia dominante, para combater a inflação, a Selic deveria ser elevada, mas, segundo a mesma ideologia, para combater a recessão, é preciso reduzi-la. Entre a cruz e a espada o BC, provavelmente manterá a taxa inalterada.
            Isto tudo acontece enquanto o governo anuncia um recorde na cobrança de impostos, para o mês de janeiro, e que já atingiu 24% da meta do superávit primário para todo o ano. Complica-se bastante a situação do governo Dilma em um ano pré-eleitoral o que tende a deteriorar o ambiente político.



[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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