Semana de 04 a 10 de março de 2013
Lucas Milanez de Lima Almeida[i]
Os leitores mais assíduos não foram pegos de surpresa quando viram os números da atividade econômica brasileira, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Como temos afirmado, já há algum tempo, a situação onde atualmente se encontra a economia brasileira e mundial não é de prosperidade.
A fase em que estamos é chamada de depressão, que se caracteriza pela destruição de forças produtivas e redução/estagnação da atividade, não há novos investimentos, há uma tendência de queda nos salários, o consumo e a produção continuam a cair e há elevado grau de desemprego. Vamos aos fatos.
Em 2012, o avanço da riqueza produzida pelo Brasil, representada pelo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), foi de 0,9%, quando comparamos com 2011. Quando comparamos os anos de 2010 e 2011, vemos que o crescimento foi de 2,7%, enquanto entre 2009 e 2010 foi de 7,5%. O resultado do ano passado ficou abaixo da média mundial, que foi de 3,2%, incluindo Japão (1,9%), EUA (2,2%) e os outros BRICS (Rússia 3,4%, Índia 5%, China 7,8% e África do Sul 2,5%).
Quando, para o Brasil, desagregamos por setores, vemos quais os responsáveis por tais cifras: o setor agropecuário caiu 2,3%, o setor industrial caiu 0,8%, enquanto os serviços cresceram 1,7%, entre 2011 e 2012. Além disso, sob a ótica da demanda, os investimentos caíram 4%, as exportações subiram 0,5% e as importações cresceram 0,2%. Com estes números podemos afirmar que boa parte das características desta fase do ciclo se manifestou no ano passado.
Entretanto, alguns dados nos dão indícios de que estamos na fase de reanimação econômica, a qual se caracteriza por: aumento do consumo, estímulo à produção e aos investimentos, recuperação do crédito e redução do desemprego e das falências. Quando observamos o consumo final brasileiro e os dados do Caged (Cadastro Geral dos Empregados e Desempregados), isto parece evidente: enquanto o consumo cresceu 3,1%, entre 2011 e 2012, (famílias 3,1% e governo 3,2%), o número de empregos criados foi de 1,3 milhões e o crescimento da massa salarial foi de 6,7%. Segundo um estudo da MB Associados, nos últimos dois anos, o consumo das famílias foi responsável por 89,6% do crescimento do PIB, o governo respondeu por 21,9%, a Formação Bruta de Capital Fixo contribuiu com míseros 2%, enquanto as importações corroeram 13,6% do produto brasileiro.
As questões que se põem são: como tais números, aparentemente bons, corresponderam a resultados tão fracos para o PIB? E, por que os estímulos não se traduziram em crescimento acelerado, ou pelo menos no mesmo patamar da média mundial? As respostas disto estão nos dados da produção de industrial e das importações brasileiras.
Com um peso de 50% na conta de Formação Bruta de Capital Fixo (que corresponde aos investimentos), a produção de máquinas e equipamentos recuou 9,1%, entre 2011 e o ano passado. A construção civil, que tem um peso de 44% nos investimentos, cresceu insuficientes 1,9%. O caso das importações se torna gritante quando analisamos os últimos quatro anos, quando começou a crise e, consequentemente, as medidas anticíclicas. O índice de quantum das compras externas, por setor, apresentou os seguintes crescimentos: bens de consumo não duráveis 51%, bens de consumo duráveis 54%, bens intermediários 47% e bens de capital 58%.
Em parte, isto explica o porquê do consumo elevado e da produção baixa, características de duas fases distintas do ciclo. Os estímulos dados internamente foram, em sua maioria, exportados para mercados externos. Para se ter uma ideia, o percentual de produtos importados que satisfazem a demanda nacional subiu de 19,5% para 21,6%, entre 2011 e 2012. No mesmo período, o percentual de insumos importados utilizados na produção nacional subiu de 21,3% para 23,2%. Não é a toa que muitos analistas afirmam que este modelo, essencialmente baseado no consumo, não é viável.
A situação está tão ruim que o Banco Central manteve a taxa básica de juros, Selic, em 7,25%, apesar do chororô do “mercado”. Segundo o comunicado, o cenário macroeconômico será crucial para a decisão a ser tomada na próxima reunião, em abril.
Aguardemos...
Mas adianto que estamos aquém de uma verdadeira retomada.
[i] Professor do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb. (www.progeb.blogspot.com.)
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