quinta-feira, 16 de maio de 2013

Novamente o Pibinho...


Semana de 06 a 12 de maio de 2013


Rosângela Palhano Ramalho[i]



            A estagflação, estagnação com inflação, fenômeno pelo qual passa a economia brasileira, tem dividido a opinião dos economistas e preocupado o governo. Para piorar, o IBGE divulgou a queda de 0,5% da produção industrial no primeiro trimestre comparado ao mesmo período de 2012. O número surpreendeu, pois se esperava um crescimento de 1,3% para o trimestre.
            O ministro da Fazenda Guido Mantega, que esperava, em 2013, realizar a “colheita” com um crescimento maior que 4%, diante dos últimos números, foi obrigado a assumir publicamente, que o PIB crescerá 3,5%, mas, segundo ele, melhor ainda é usar a estimativa do FMI de 3%. E para amenizar o fiasco, o ministro desviou o foco e declarou que “tão ou mais importante que o PIB é a geração de empregos formais”. Dilma, o ano passado, já tinha usado a mesma estratégia declarando que “país rico é país sem miséria”. Mantega ainda afirmou que a economia está numa “trajetória de crescimento gradual”. Já o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, indagado sobre o porquê das medidas anticíclicas ainda não terem surtido efeito, afirmou que talvez a economia já tenha reagido, mas a produção industrial mostrou que não. Ele declarou também que o crescimento, já está a caminho e será reforçado pela melhora da infraestrutura.
            Com crescimento gradual ou estando a caminho, o fato é que a economia brasileira passa por um momento delicado. Os últimos dados do comércio exterior mostram que a importação voltou a tomar espaço da produção doméstica. A produção industrial encolheu 0,5%, no primeiro trimestre, e o volume importado, no mesmo período, avançou 8,1%. Segundo a Fiesp, mesmo com a baixa demanda interna, os importados têm conseguido mercado pois chegam ao país com preço menor. No setor têxtil, a produção caiu 7% com aumento de 10,7% no volume importado. No setor de vestuário houve queda de 7,1% da produção, enquanto o volume importado cresceu 9,3%. A indústria farmacêutica também sofreu com a concorrência externa, pois produziu 9% menos, enquanto o volume importado cresceu 13,1%.
            Segundo o Iedi, o produto nacional vem sendo substituído desde 2009. Não está havendo, segundo o instituto, uma complementação da produção interna, fato que se justifica pelo PIB baixo e importações em alta.
            Outro dado reforça a debilidade da produção interna. O nível de utilização da capacidade instalada na indústria caiu de 82,5% para 82,2%, entre fevereiro e março. Em contrapartida, o faturamento industrial aumentou em 3,6%. Se houve aumento da capacidade ociosa e aumento simultâneo do faturamento, significa que não ocorreu neste período aumento da produção, mas o ganho industrial aconteceu com a venda de mercadorias que estavam estocadas.
            O setor externo que poderia ser um alento nos momentos de crise tem produzido sucessivos déficits. Na indústria de transformação, a importação cresceu 3% e a exportação caiu 5%. A desaceleração da economia mundial, com falta de recuperação dos mercados e a alta dependência da nossa balança em relação às commodities tem justificado esta diferença, mas outro fato ganha força: a perda de competitividade. O maior parceiro comercial do Brasil, a China, aumentou suas exportações com destino ao nosso país em 8,4%, enquanto que as nossas exportações para o país asiático caíram em 2,2%. O problema se repete com o Chile e a Argentina. Os embarques brasileiros para a União Europeia caíram 9,7% e para os Estados Unidos, 25%.
            Quando se olha para a logística do país é que o problema fica mais sério. Segundo a Fiesp, o Brasil precisaria aumentar os índices de desempenho da infraestrutura de transportes para se equiparar aos seus principais competidores. A malha rodoviária brasileira é 43% menor que o padrão de excelência internacional e o frete rodoviário, por exemplo, de US$ 51,75 para cada mil toneladas por km (dados de 2010) é 270% maior que este padrão.
            O presidente do BNDES afirma que os investimentos em infraestrutura estão sendo feitos e abrirão uma fronteira de investimentos em vários setores, mas a Fiesp não concorda. A realidade está mostrando que os problemas internos associados à crise internacional, produzirão, provavelmente, mais uma vez, um Pibinho...


[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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