quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

O “pibinho” de novo...



Semana de 02 a 08 de dezembro de 2013


Rosângela Palhano Ramalho[i]


            Caro leitor. 2013 não tem sido um ano fácil. A crise econômica continua a provocar estragos e, remar contra a maré, se tornou uma tarefa árdua. O governo tenta a todo custo estimular os investimentos. Desonerações, concessões, Minha casa, minha vida, queda dos juros..., nenhuma das medidas adotadas conseguiu “provocar” a retomada econômica.
            Como já argumentamos em análises anteriores, a presidente Dilma teme ficar conhecida como a gestora do “pibinho”. Mas, o governo não tem bons números para apresentar. A economia cresceu, em 2011, 2,7% e, em 2012, 0,9%. E por falar em 2012, a grande expectativa da última semana era a de que o PIB do ano passado passasse de 0,9% para 1,5% em virtude de uma revisão das contas. Em discurso, a presidente comemorou a mudança e já dava como certo, o crescimento de 1,5%. Numa entrevista a um jornal espanhol, Dilma declarou: “... resolveram reavaliar o PIB, elevando o resultado de 2012, de 0,9%, para 1,5%. Nós sabíamos que não era 0,9%, que estava subestimado o PIB...” O Planalto tentou amenizar o engano dizendo que o comentário referia-se a uma projeção, mas o fato é que, ansiosamente, o planalto desejava a esperada revisão. O IBGE finalmente concluiu que os serviços cresceram 1,9% em 2012, ao invés de 1,7%. O impacto final sobre o PIB foi de 0,1%, ou seja, em 2012, com todos os ajustes, crescemos apenas 1%.
            Otimista como sempre, o ministro da Fazenda Guido Mantega, passou a esperar outra estatística. Segundo ele, o PIB do terceiro trimestre iria crescer 2,5%, comparado ao terceiro trimestre do ano passado. Na mesma semana, o IBGE divulgou o resultado do terceiro trimestre: queda de 0,5%, comparado ao trimestre anterior. No desempenho por setores, a agropecuária decresceu 3,5% e a indústria e serviços cresceram apenas 0,1%. Na ótica dos gastos, a formação bruta de capital fixo (indicador dos investimentos) caiu 2,2%, o consumo das famílias, cresceu 1% e o consumo da administração pública subiu 1,2%.
            Se comparado ao terceiro trimestre de 2012, o crescimento foi de 2,2%, contrariando a previsão de Mantega. Mesmo assim, o ministro defende que a economia segue em “crescimento econômico gradual”. Como gradual, se a economia cresceu 0,6% no primeiro trimestre, 1,8% no segundo e -0,5% no terceiro?
            A equipe econômica faz um esforço para não lamentar o resultado e cala-se quando o assunto é relacioná-lo ao aumento da taxa de juros. Qualquer um sabe que, associados aos efeitos da crise mundial, os consecutivos aumentos dos juros afetariam a economia, que apresenta dificuldades em se recuperar. Desde abril, o Copom vem aumentando sucessivamente a taxa de juros, o que, de forma defasada, afetou negativamente a atividade econômica, no terceiro trimestre. Mas o governo, e todos os que aplaudem a política do saci macroeconômico, se negam a falar do assunto. Centrando o fogo contra a demanda, os juros inevitavelmente também acertam a oferta. A queda da formação bruta de capital fixo demonstra isso.
            Segundo alguns analistas a queda de 0,5% no terceiro trimestre, não refletiu todo o feito do aumento da taxa básica de juros. Espera-se um maior impacto nos próximos meses.
            Outra estatística do IBGE, o indicador Pesquisa Industrial Mensal - Produção Física (PIM-PF), apurou alta de 0,6% entre setembro e outubro. Dos 27 ramos de atividade pesquisados pelo IBGE, 21 aumentaram a produção. Mas a confiança dos empresários do setor iniciou o quarto trimestre em queda, segundo pesquisas da Fundação Getulio Vargas (FGV) e da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Ou seja, o destino dos números do quarto trimestre é incerto.
            Os economistas insistem em dizer que o modelo econômico adotado pelo governo (exceto a política de juros) está errado, porque interfere demais na economia e não deixa os agentes econômicos tomarem decisões corretas e seguras. Olhando desta forma, qualquer que seja o modelo adotado, o resultado será o fracasso, afinal de contas não são os economistas, nem os modelos elaborados por eles, que determinarão as decisões dos agentes econômicos e farão o país sair da crise.
            Mas segundo o profeta Mantega, este “provavelmente será o último ano da crise internacional”. Se considerarmos a percentagem de acertos das previsões do ministro, esta é outra que não parece crível.


[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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