quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Primeira previsão para 2014



Semana de 09 a 15 de dezembro de 2013


Lucas Milanez de Lima Almeida[i]



            Na semana passada voltamos a falar do pibinho da Dilma. Porém, a situação brasileira não é nada boa desde o fim de 2008, quando a crise internacional (a marolinha) chegou ao Brasil ainda no governo Lula. O colapso só foi realmente sentido no ano seguinte, quando a economia decresceu 0,3% em relação ao ano anterior. Neste mesmo ano foi criado o Programa de Sustentação do Investimento (PSI), que visava o combate à crise por meio da facilitação das exportações, da compra de bens de capital e da inovação produtiva. Sua operacionalização foi feita pelo BNDES, que financiou (e financia até hoje) as empresas por meio de créditos subvencionados.
            Em 2010, ano de eleição e de reação à crise econômica, houve um soluço e o PIB do país cresceu 7,5%. No ano seguinte, num patamar mais realista, o crescimento registrado caiu para 2,7%. Em 2012, como vimos na análise passada, o crescimento revisado foi de 1%. A projeção é de crescimento de 2,3% para 2013 e 2,01% para 2014.
            Para alguns analistas, os motivos para a desaceleração da atividade produtiva no ano que vem são as desconfianças do empresariado em relação ao cenário econômico internacional. Na China, por exemplo, empresas como Hewlett-Packard, Johnson & Johnson e IBM estão demitindo trabalhadores e reduzindo suas operações, dada a desaceleração econômica do país e o elevado custo com mão de obra.
            Além disto, e para piorar a situação do Brasil, está a promessa de redução da verba destinada ao PSI em sua renovação para o ano vem. Em 2013, o valor total disponibilizado pelo BNDES para o programa chegará a R$ 100 bilhões, dos quais está prevista uma retirada total por parte dos empresários, até o fim do ano, de R$ 80 bi. Para 2014, por sua vez, a previsão é de que ocorra um corte de R$ 25 bi neste orçamento, sendo ofertado “apenas” R$ 75 bi aos empresários do setor industrial.
            Para completar, a renovação do PSI ocorrerá mediante a elevação dos juros cobrados pela instituição financiadora. Por exemplo, a taxa cobrada no financiamento da compra de ônibus e caminhões irá subir de 4% para 6%. Já a taxa para as linhas de inovação e de aquisição de máquinas e equipamentos para pequenas e médias empresas, sairá dos atuais 3,5% para 4,5%. Dentre os fatores que estão por trás desta elevação, o custo mais elevado de capitalização do BNDES é apontado como o mais importante. A mais importante das fontes de recursos do banco é o Tesouro Nacional, que capta dinheiro por meio da emissão de títulos, alguns atrelados à taxa básica de juros. Quando foi criado o PSI, a taxa Selic estava em 7,25% ao ano. Atualmente, depois do ciclo de alta causado pelo complexo de independência adolescente do Banco Central do Brasil, a taxa está em 10%.
            Isto quer dizer que a diferença entre o que o governo paga ao mercado financeiro, por meio do Tesouro, e o que ele recebe dos empresários industriais, por meio do BNDES, chega a 6,5%. Na realidade não é o governo que paga, somos nós, que pagamos com os nossos impostos. Não é à toa que cerca de 42% do orçamento estatal, ou seja, R$ 900 bilhões, são destinados, única, exclusiva e religiosamente, ao pagamento dos juros e da dívida que nunca é paga e continua crescendo.
            Como se não bastasse, existe ainda um temor generalizado e impregnado em todos os países emergentes: a retirada dos estímulos monetários dados pelo Federal Reserve (Fed), Banco Central dos EUA. O programa de compra (US$ 85 bi) de títulos podres está com os dias contados. Tanto que já está sendo testado um novo modelo de remuneração do setor financeiro: o Fed. pagaria 0,25% de juros ao ano para que o dinheiro bombeado para os cofres dos bancos fique parado agora nos cofres da instituição federal. O objetivo é “enxugar” os US$ 2,5 trilhões injetados pelo referido programa, ao longo dos anos.
            O problema é que as diversas instituições financeiras internacionais devem repatriar boa parte dos seus capitais ou correr para a segurança da economia americana. Como resultado, teremos uma provável fuga de capitais, seguida pela desvalorização do real frente ao dólar. Isto nos remete novamente ao saci-macroeconômico: com o dólar valorizado as importações ficam mais caras, o que, segundo a teoria oficial, elevaria os preços dos produtos internos. Como resultado, temos a inflação. O remédio para este problema, todos sabem, é a elevação da Selic. Mas, com a elevação da taxa básica de juros há o aumento do custo do financiamento, que por sua vez retrai a atividade econômica, aumenta a dívida e o pagamento de juros.
            Este é o cenário para 2014.


[i] Professor do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb. (www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com)
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