Semana de 25de novembro a 01 de dezembro de 2013
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Já está ficando aborrecido falar de aumento de juros. Confirmando a nossa teoria da transmutação do “tripé macroeconômico” (metas da inflação, câmbio flutuante, superávit primário), no “saci macroeconômico” (metas da inflação), o Banco Central (BC), através do seu conselho de Política Monetária (Copom), em sua última reunião, voltou a elevar a taxa de juros básica Selic, de 9,5% para 10% mostrando que o tabu dos dois dígitos não existe.
Qual adolescente com problemas existenciais, o BC procurou convencer o “mercado” que é independente do governo Dilma. O pretexto para o aumento foi o mesmo de sempre: combater a inflação.
Curiosamente, as elevações sucessivas têm demonstrado que, quanto mais os juros são elevados, mais a inflação se fortalece. Ninguém se dá conta de que este não é o remédio para a doença. O pior é que, esta medíocre solução está fundamentada em uma ideologia econômica que aponta a vulgar “lei da oferta e da procura” como a causa da inflação. Ou seja: a inflação cresce porque as pessoas estão comprando muito (excesso de demanda). A elevação dos juros provocaria o encarecimento do crédito desestimulando as compras dos consumidores e o investimento das empresas.
Desta vez, aqui em João Pessoa, duas vozes se levantaram em protesto. O presidente da Federação do Comércio (Fecomércio-PB), Marcone Medeiros, declarou que “os juros altos só prejudicam a economia” e que a redução do consumo provoca a diminuição da produção industrial e agrícola. A outra voz foi a do presidente do Conselho Regional de Economia da Paraíba (Corecon-PB), Celso Mangueira, que considerou a situação “preocupante, pois o consumo é a base da dinâmica econômica e as empresas deixam de fazer investimentos”. Disse ainda que “Já tivemos essa situação da Selic elevada e retrai a dinâmica da economia”. Celso alertou que “a taxa de juro tem sido a única ferramenta que o governo tem utilizado na estabilização da inflação”. Sabiamente Celso olhou o problema pelo lado oposto: “A inflação é questão da oferta de mercadoria”.
Com a nova elevação da Selic, mais uma vez a badalada independência do BC mostrou sua verdadeira cara: “independência” significa dependência do capital financeiro o único a exultar de satisfação com os gordos dividendos que embolsará. Agora, os especuladores aguardam ansiosos a divulgação da ata da reunião tentando ler nas entrelinhas qual será a postura do BC nas próximas reuniões. Certamente alguns privilegiados já dispõem das informações desejadas. Como era esperado o BC continua firme na contramão do rumo seguido pelos maiores BCs do mundo.
O Banco Central Europeu (BCE), por exemplo, mantém suas taxas de juros nos níveis mínimos e ainda mostra disposição para nova baixa. A situação do bloco permanece instável e sem garantias de recuperação. As preocupações têm aumentado diante da ameaça do corte dos estímulos feita pelo Fed, BC americano. As preocupações do BCE aumentaram ainda mais com os problemas que têm surgido nos emergentes, como Índia, África do Sul, Indonésia, Turquia, México, Polônia e mesmo na China. A situação do Brasil também provoca cuidados.
É nesta situação de instabilidade que, no Brasil, estourou a ameaça de julgamento pelo STF, do litígio entre os bancos e os poupadores que se sentiram prejudicados com as correções que foram feitas, como consequência dos vários planos de estabilização: Bresser (1987), Verão (1989), Collor I (1990) e Collor II (1991). Caso os poupadores ganhem, estimam-se os prejuízos dos bancos e instituições financeiras em valores que vão dos R$150 bilhões a R$600 bilhões. Até os fundos de pensão teriam prejuízos calculados em R$40 bilhões. O interesse dos bancos é tal que vários lobbies estão sendo mobilizados para pressionar o STF. A última novidade foi uma carta assinada por 27 ex-ministros da fazenda e ex-presidentes do BC apoiando as pretensões dos banqueiros. O STF adiou a discussão para o início de 2014.
Tombini (atual BC) e Mantega (atual ministro) estão entre os 27 assinantes.
[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
0 comentários:
Postar um comentário