Semana de 20 a 26 de janeiro de 2014
Rosângela Palhano Ramalho[i]
Todos os anos, em um cenário paradisíaco, os líderes das principiais potências econômicas mundiais, reúnem-se para debater as questões econômicas atuais. Coberto de pompas e sediado em um resort nos Alpes Suíços, o Fórum Econômico Mundial, também recebe empresários, “investidores”, banqueiros, ministros, presidentes de Banco Centrais, diretores do FMI, Banco Mundial e outros organismos internacionais, público seleto que tem como objetivo discutir os rumos do capitalismo mundial.
Por três anos, a nossa presidente ignorou o Fórum, mas em 2014, resolveu participar. Lá, a presidente buscava boas notícias sobre a recuperação mundial, e em seu discurso, tentou vender a imagem do Brasil como um país bom para se investir. Garantiu que o governo realizará todos os ajustes necessários ao combate à inflação e estimulará os investimentos.
Mas o FMI, que se fez representar na pessoa de Cristine Lagarde, não trouxe boas perspectivas. Lançou uma nova rodada de redução das estimativas de crescimento. A nova elevação dos juros, segundo o órgão, motivou a redução da projeção de crescimento do PIB brasileiro de 2,5% para 2,3% em 2014. Para 2015, a projeção caiu de 3,2% para 2,8%. Diante dos novos números, americanos e europeus, que viam nos emergentes uma alternativa para a redução do impacto da crise sobre a economia mundial, acabaram por discutir, em Davos, a provável crise de “meia-idade”, que atinge esse grupo de países.
Os representantes dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) abominaram a discussão, afirmando que mesmo com menor expansão, o bloco é atualmente a fonte de dinamismo da economia mundial. Os posicionamentos inflamados chamaram a atenção. Guido Mantega disse que “não há crise de meia-idade e, sim, crise da economia mundial”. O russo Arkady Dvorkovich contra-atacou: “A zona do euro diz que está se recuperando. Mas 0,4% é nada, é zero”. O ministro das Finanças da Índia, também participou, afirmando que a economia indiana crescerá 6,2% em 2014 e 7% em 2015.
Enquanto o Fórum Econômico Mundial discutiu a provável recuperação mundial, a OIT (Organização Internacional do Trabalho), sem tanto alarde, divulgou as conclusões de estudo sobre as tendências mundiais do emprego, que mostrou os impactos da crise sobre o mundo do trabalho. Para quem não conhece a Lei Geral da Acumulação Capitalista de Marx, os dados são alarmantes. Embora estejamos na fase de recuperação econômica, diz o estudo, a economia global não está criando empregos suficientes para recompor os números anteriores à fase de crise. A OIT, estimou que aproximadamente 202 milhões de pessoas estavam sem trabalho no fim de 2013. São 5 milhões a mais do que em 2012. Se a produção se mantiver no patamar atual, os desempregados aumentarão em 13 milhões até 2018. No momento, o déficit mundial de emprego é de 62 milhões de postos de trabalho. São 32 milhões de novos trabalhadores, 23 milhões que desalentados (os que desistiram de procurar emprego), e 7 milhões de inativos. Os 40 milhões de novos empregos gerados a cada ano até 2018 serão insuficientes para cobrir a necessidade de 42,6 milhões de trabalhadores que estarão desempregados.
Outro agravante que também não é novidade para nós que elaboramos estas análises de conjuntura, é o aumento da desigualdade no período da crise nos países desenvolvidos. Pesquisadores da Universidade da Califórnia e da Escola de Economia de Paris, concluíram que as injeções de dinheiro na economia, feitas pelos bancos centrais, enriqueceram ainda mais os mais ricos. Em 2012, por exemplo, nos Estados Unidos, os 10% mais ricos da população ficaram com metade de toda a renda gerada. Este é o maior percentual verificado desde 1917. O fosso entre ricos e pobres aumentou quando os países adotaram a austeridade. Os programas e proteções sociais foram os primeiros a terem seus recursos cortados.
Obviamente estes dados foram pouco relevantes para a reunião de Davos. Foi com o movimento de autoafirmação liderado pelos Brics e com a busca de culpados, que o Fórum Econômico se encerrou. A grande conclusão de todas as discussões foi a de que há uma recuperação na economia mundial, mas bastante lenta. Enquanto os mais ricos estiveram muito bem representados na luxuosa conferência, a classe média e as demais buscam a todo custo escapar dos impactos gerados pela crise econômica atual.
[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)