Semana de 06 a 12 de janeiro de 2014
Eric Gil Dantas [i]
Como esta coluna está cansada de dizer, a economia capitalista funciona em ciclos, com momentos de ascensão econômica, auge, desaceleração e crise, para depois voltar a repetir tudo novamente. Portanto, nosso papel aqui é deixar os leitores informados sobre a fase do ciclo em que estamos e das consequências disto para o nosso cotidiano.
Bem, se depender do presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, no ano de 2014 a zona do euro finalmente deixará o pior da crise para trás. Duas notícias na semana podem dar uma indicação de que Barroso esteja, ao menos minimamente, dizendo algo sensato. A primeira é que, na semana passada, a Irlanda fez seu primeiro leilão de títulos desde que, em dezembro, saiu do programa de socorro financeiro, captando 3,75 bilhões de euros ao mais baixo custo de financiamento em quase uma década. Em seguida veio Portugal, captando 3,25 bilhões de euros, também à menor taxa. Espera-se a entrada da Espanha e, para o próximo semestre, da Grécia. A segunda notícia que acaba de ser divulgada pela Eurostat, agência de estatísticas da União Europeia, é sobre as vendas no varejo, na zona do euro. Elas dispararam 1,4%, e Berlim disse que as encomendas às fábricas alemãs deram um salto de 2,1%.
Do outro lado do Atlântico, os EUA também tiveram bons números, na semana. Em dezembro, foram criadas 228 mil vagas no país, segundo levantamento divulgado pela ADP, acima da estimativa dos analistas, que era de criação de 200 mil postos de trabalho. Além disto, segundo o Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC), órgão do governo norte-americano cuja atuação é similar à do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) no Brasil, em 2013, 24 bancos comerciais fecharam as portas, nos EUA. Trata-se do menor número de bancos fechados desde 2007, quando, ainda antes da crise, apenas três bancos fecharam. Este número foi aumentando até chegar a seu ápice, em 2010, quando 157 bancos faliram.
Já no Brasil, país que sofreu o impacto da crise em menor medida do que as duas regiões citadas anteriormente, o crescimento, em 2014, deverá ser de 1,99%, segundo pesquisa feita pelo Banco Central do Brasil, publicada no último boletim Focus. Aqui, os dados publicados ainda são controversos: enquanto a taxa de desemprego mantém-se em um baixo nível com 4,6%, na última pesquisa do IBGE, em novembro, a indústria tem resultados ruins. Segundo, novamente o IBGE, a produção industrial de 2013 ficou apenas 0,3% maior do que a de 2008, começo da crise mundial. Essa estagnação, entretanto, embute comportamentos distintos – queda de 30% e aumento de 23% - e mudanças profundas em algumas cadeias produtivas. Já na capital paulista, em pesquisa feita pelo Instituto de Administração, a Provar/FIA, apenas metade dos paulistanos pretende comprar bens duráveis, no ano, número abaixo dos 56,8% do ano anterior.
Mas, uma coisa chama a atenção na reestruturação da economia mundial, no cenário de transição para um pós-crise: o crescimento dos mercados emergentes em detrimento dos países desenvolvidos. A Ásia superou, pela primeira vez, os EUA em consumo de produtos eletrônicos. Do total de US$ 282 bilhões, gastos no ano, o bloco que reúne os países emergentes asiáticos (incluindo países como a China e a Índia, deixando de fora o Japão), respondeu por US$ 282 bilhões, ou 26%, um crescimento de 14% no ano. No mercado de veículos, o Brasil mantém-se a frente da Alemanha, em quarto lugar, com a Índia e a Rússia próximas. A China viu este consumo crescer 13,5%, em 2013, enquanto que os EUA teve uma recuperação de 8%.
Dentro do Brasil, esta reconfiguração também é visível. A invasão “made in china” já não é mais novidade, remetendo às lojas de R$1,99. Segundo a Fenabrave, federação representativa do setor de veículos, as montadoras estrangeiras, com presença no Brasil, tiveram uma mudança de perfil, saindo de 92,5% de americanas e europeias, em 2002, para 78,8%, dando espaço para montadoras de países como Japão, Coreia e China. E os planos estão audaciosos. Até o início de 2015, Chery e JAC Motors – originárias do gigante asiático – inaugurarão as suas fábricas no Brasil adicionando, juntas, 250 mil carros por ano.
A crise está começando a passar, mas as mudanças na economia mundial ainda ficarão por um bom tempo.
[i] Economista e mestrando no Programa de Pós-graduação em Ciência Política da Universidade Federal do Paraná; é pesquisador do ILAESE (Instituto Latino-americano de Estudos Socioeconômicos) e do Progeb (Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira) (progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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