Semana de 29 de março a 06 de abril de 2014
Rosângela Palhano Ramalho[i]
Caro leitor. Obrigatoriamente temos que registrar um evento conjuntural que praticamente se tornou regra: a nova alta da taxa de juros. Novamente, o Copom, Comitê de Política Monetária do Banco Central, em decisão unânime, resolveu aumentar a taxa 10,75% para 11% ao ano, sem viés. Os argumentos são os mesmos: a inflação está “resiliente”, “resistente”. Além disso, aquilo que inicialmente foi considerado como choque de preço dos alimentos, segundo o Banco pode não sê-lo e o seu comportamento deve ser monitorado.
A “forma” de comunicação do Banco Central foi novamente elogiada, afinal a frase “vai monitorar a evolução do cenário”, dá a indicação de que a autoridade monetária vai manter o arrocho, se o problema persistir.
Vamos aos fatos. A exigida sintonia de comunicação entre o Banco Central e o “mercado” serve como já argumentamos, para garantir os ganhos do mercado financeiro. Veja-se, por exemplo, a satisfação dos especuladores quando Alexandre Tombini, presidente do Banco Central, em seu discurso no Senado deixou praticamente garantido o aumento dos juros. Segundo o Valor Econômico a instituição “... deu sinal verde para que analistas retardatários corrigissem suas projeções de inflação e juros e corrigiuo curso de uma expectativa...”.
O presidente da Contraf-CUT (Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro), tem razão quando diz que “O novo aumento da Selic representa, na realidade, outra capitulação do Copom diante do terrorismo do mercado financeiro, o único que ganha rios de dinheiro com a subida dos juros, enquanto todos os demais setores da sociedade perdem”.
A decisão mais uma vez, desagradou o setor produtivo. A CNI (Confederação Nacional da Indústria) declarou que os custos do setor novamente foram elevados e criticou o governo por usar apenas um remédio para a inflação, quando a mesma poderia ser combatida de outras formas.
Toda esta argumentação é conhecida por um mero estudante iniciante em Economia: o aumento dos juros freia os investimentos e aumenta os ganhos do setor financeiro. O impacto vai ser sentido. Segundo o número mais atual do Boletim Focus do próprio Banco Central, o crescimento da economia este ano será de 1,7%. Mas a grande maioria dos economistas faz de conta que esqueceu este ensinamento da teoria econômica, ao defender a medida.
A Fecomercio-PB também repudiou o aumento dos juros. Baseada no estudo “Síntese da Conjuntura”, divulgado pela Confederação Nacional do Comércio, a Federação declarou que a medida é desnecessária, pois, há dez anos a inflação está na casa dos 6%.
De fato, a média da inflação dos últimos 10 anos, é de exatamente 6,45%. Neste período, a meta inflacionária só foi cumprida em três anos (2006, 2007 e 2009), fato que mostra a ineficiência dos juros altos em combater a inflação. Outro dado que pode confirmar esta argumentação é o seguinte: ao observar a série dos resultados da inflação dos últimos dez anos e compará-la com a série dos juros, constata-se que os anos em que vigoraram as maiores taxas de inflação, foram exatamente aqueles que fecharam com as maiores taxas de juros, a exemplo de 2005 quando os juros eram de 18% e a inflação fechou em 5,7%.
Por mais que se tente justificar esta “resiliência inflacionária”, através da defasagem da política monetária e outros fatores, a realidade mostra que o arrocho é ineficiente, e ninguém da equipe econômica sequer questiona o prognóstico da inflação, o seu caráter e as suas causas e mesmo assim continuam a remediá-la da mesma forma.
O choque de realidade virá no final do ano. Mais uma vez um pífio crescimento se concretizará, em virtude da conjugação da crise econômica mundial, que continua a se arrastar, com a política econômica interna adotada pelo governo do PT.
Para aqueles que insistem em ignorar a realidade, finalizo com um argumento da Fecomercio-PB: “...a elevação da taxa de juros serve para frear a demanda agregada, quando há excesso de consumo ou investimentos e esse não é o caso do Brasil na presente conjuntura. Portanto, o Banco Central está vendo um aquecimento econômico onde não existe”.
Se o diagnóstico da enfermidade está errado, a medicação receitada certamente também estará. Simples assim.
[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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