quinta-feira, 24 de abril de 2014

Produção industrial patina no primeiro trimestre



Semana de 14 a 21 de abril de 2014


Rosângela Palhano Ramalho[i]


            Não adianta lamentar, o PIB brasileiro deste ano será menor que 2%. As mais recentes estimativas dão conta de que, assim como a economia mundial, a nossa reanimação também é bastante duvidosa. Tanto o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre) quanto o Fundo Monetário Internacional (FMI), lançaram igual previsão: a de que o PIB de 2014 não ultrapassará 1,8%.
            As previsões do desempenho econômico dos primeiros meses de 2014 acabam reforçando esta baixa para o final do ano. O Banco Central divulgou o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) que avançou apenas 0,24% em fevereiro. Ressalte-se que em janeiro a expansão do índice foi de 2,35%. Como este indicador é uma prévia do PIB, a presidente Dilma provavelmente terá que engolir mais um PIBinho.
            Segundo analistas entrevistados pelo jornal Valor Econômico, o fraco desempenho do setor industrial e os baixos investimentos, produzirão um PIB trimestral de no máximo 0,5%, número menor que os 0,7% alcançados no quarto trimestre de 2013. Uma forte queda do setor industrial será verificada em março e, no levantamento da maioria dos economistas ouvidos, o declínio da atividade ficará em torno de 2,7%.
            A indústria brasileira não decola porque, entre altos e baixos, foi o setor automobilístico que ancorou seu desempenho. Mas, com a retirada de parte dos incentivos fiscais concedidos pelo governo, a produção de veículos caiu, no primeiro trimestre, por causa da queda das vendas que foi de 2,1%, incluindo ônibus e caminhões.
            A situação está tão tensa que a presidente Dilma receberá, em reunião no Palácio do Planalto, a ANFAVEA (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) que chorará suas mágoas. O prognóstico do setor continua ruim. Nos primeiros quinze dias de abril, as vendas de veículos caíram 7%, comparando-se ao mesmo período do ano passado. Os representantes das montadoras, além de discutirem o retorno dos benefícios fiscais, deverão estudar com a presidente uma solução que restabeleça as exportações do setor para a Argentina.
            Segundo o economista Delfim Netto, todos os males atuais da nossa economia resumem-se na incerteza econômica e, para agravar a situação, novos cenários de incertezas continuam a se desenhar. A persistente alta da inflação e a queda da atividade trimestral são as novidades. O grande problema, segundo Delfim, é que o governo não estaria comprometido o suficiente com os ajustamentos das expectativas, dando sinais dúbios em suas comunicações com o “mercado”. O mesmo acontece na comunicação (ou na falta dela) com o setor privado, fato que gera desconfianças dos dois lados. O governo carece, então, de uma “comunicação inteligente”. O pior é que este lamentável discurso, apesar de absurdo, é reproduzido amplamente e aceito como verdadeiro. A conclusão a que se chega é que a equipe econômica, os economistas, a presidente, o Tombini, o Mantega, ou seja, os que têm em suas mãos o domínio do destino econômico da nação são todos eles os responsáveis pelo caos.
            É bem verdade, que as medidas de política econômica, apenas contribuem para afetar a trajetória da atividade, mas podem dar até um empurrãozinho no que já está ruim. Veja-se, por exemplo, a última novidade: o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), numa iniciativa de aproximação com o mercado de capitais, lançou um “programa de investimentos” da ordem de R$ 3 bilhões para estimular os fundos que compram participações em empresas. O dinheiro servirá também para financiar as ofertas iniciais de ações de companhias de médio porte. Não bastavam os juros altos. Aí vai mais um prêmio ao mercado financeiro. Em vez do governo definir sua política industrial e destinar os recursos disponíveis para isto, entrega o dinheiro nas mãos dos especuladores que os aplicarão segundo seus interesses e critérios que, certamente não são os da nação.
            Enquanto isso, os produtores de caminhões declaram que grande parte da indústria sofre com a lentidão na liberação dos créditos pelo BNDES que financia a aquisição de bens de capital.
Para um país que carece de uma política industrial, esta nem de longe é uma decisão acertada. É desta forma que o principal banco de fomento decide destinar os recursos que deveriam servir ao desenvolvimento econômico.


[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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