quarta-feira, 2 de abril de 2014

Schinellada na presidenta


Semana de 24 a 30 de março de 2014

Nelson Rosas Ribeiro[i]

A presidenta Dilma está na berlinda. A semana foi carregada e promete mais. A primeira schinellada veio da Standard & Poor’s, a temida agência de rating (avaliadora de riscos). Juntamente com as outras duas, a Moody’s e a Fitch estas agências arvoram-se em avaliadoras da credibilidade dos países e empresas e da capacidade que eles têm em saldar seus compromissos financeiros. Há duas semanas, noticiamos a visita da Lisa Schinela, digo, Schineller, inspetora de quarteirão da Standard & Poor’s, que nos visitou para fazer uma devassa nas contas do Brasil. Toda a subserviência dos nossos ministros e das autoridades do Banco Central (BC) não convenceu a senhora. A agência rebaixou a classificação do Brasil de BBB para BBB-, o último nível exigido para conceder o tão desejado “grau de investimento”. As razões alegadas foram: perspectivas de crescimento reduzido nos próximos anos, descontrole da política fiscal com grandes despesas agravadas pelo ano de eleições, baixo superávit primário e suspeita de que a meta de 1,9% não seja atingida, descontrole da inflação agravado pela crise no setor elétrico, aumento da vulnerabilidade externa. Resumindo: perda da credibilidade do governo e de sua política econômica com o agravamento da envolvente internacional adversa. Aproveitando o embalo a Standard & Poor’s rebaixou igualmente de BBB para BBB- as notas de 13 entidades bancárias entre as quais o Banco do Brasil, o Itaú Unibanco, o HSBC Brasil, o Bradesco, o Santander Brasil, o Banco Citibank, o Banco do Nordeste e a Sul América Seguros.
As consequências foram imediatas: instabilidade interna, oscilação na bolsa, elevação dos juros, desconfiança dos investidores, mau humor do mercado, etc.
Outra chinelada na presidenta foi aplicada pela pesquisa CNI/Ibope divulgada na semana passada. 36% dos entrevistados consideraram o governo bom ou ótimo, com uma queda de sete pontos em relação a novembro de 2013. A rejeição ao governo passou de 20%, também em novembro, para 27%. Esta derrota do governo animou os investidores diante do aumento da possibilidade de vitória das oposições ou mesmo do crescimento do movimento “volta Lula”. As condições para a manutenção da candidatura Dilma estão se deteriorando, pois se fala que, ao entrar na faixa de 30% de aprovação, a presidente atingiu a zona de tolerância para sua permanência no páreo.
A situação torna-se mais grave porque não se espera nenhum refresco da economia mundial ainda em estágio de letargia. Na França, os altos impostos e a permanência do desemprego levaram à derrota do governo do Sr Hollande nas eleições locais. A zona do euro continua a preocupar a tal ponto que o conservador Jens Weidmann, presidente do Bundesbank (banco alemão) admitiu a possibilidade do BCE adotar uma política de afrouxamento monetário (Quantitative easing – QE), para estimular a recuperação. Na China a preocupação do governo com a desaceleração levou ao aumento dos gastos em infraestrutura e do crédito, na tentativa de obter 7,2% de crescimento do PIB.
Com a situação interna se deteriorando o governo do PT encontra-se em dificuldades. A economia está em desaceleração enquanto a inflação acelera (será a stagflação?). No horizonte surge a crise energética, os preços das commodities estão em baixa, os escândalos na Petrobrás respingam na Dilma e acirram os ânimos no congresso, estremecendo o bloco de sustentação.
Ora, todos sabem, e nesta coluna muitas vezes temos repetido, que o movimento da economia é cíclico. “Sempre há ciclo de expansão que vai desembocar em crise, e depois haverá período de recessão. Economistas não conseguem cancelar essa lei capitalista inexorável. Quando a economia está em sua expansão, e quando o ciclo é de euforia, como em 2007, economistas esquecem da crise. No início de 2008, o FMI disse que a economia crescia solidamente. Isso de fato não se verificou”. Estas afirmações entre aspas não são nossas, mas do ministro Mantega, em uma aula magna que proferiu na Escola de Economia de São Paulo da FGV no dia 28 passado.
Finalmente Mantega, para justificar o aperto em que se encontra, lembrou-se de uma velha lição dos tempos em que era economista. Atirou a culpa pela difícil situação da economia sobre “inexorável” lei da crise, que não é da sua responsabilidade. Mas, como ele observa que o processo de recuperação está iniciando, ou seja, estamos entrando na fase de reanimação do ciclo econômico, na mesma conferência, ele apresentou a estimativa de que nos próximos oito anos a taxa de crescimento médio do PIB será de 4%. Embora otimista esta taxa é viável, no entanto, o nosso ministro agora esqueceu as lições de economia, pois a fase de reanimação do ciclo não dura mais do que três anos.


[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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