quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Enquanto a economia afunda, o “senhor mercado onipotente” quer mais

Semana de 29 de setembro a 05 de outubro de 2014

Rosângela Palhano Ramalho[i]

            No momento em que país vivencia a euforia de eleger seus representantes, a economia mundial entra no sexto ano de crise, sem qualquer perspectiva de recuperação. Os sinais dados pelas estatísticas do segundo semestre são cada vez piores. O crescimento da produção industrial da zona do euro desacelerou em setembro. O índice dos gerentes de compras calculado pela Consultoria Markit caiu em toda a região, inclusive na Alemanha. O fraco desempenho das vendas está provocando uma queda ainda maior da inflação, aumentando a preocupação das autoridades com a deflação.
A diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, declarou um tom de luto que a recuperação mundial é mais fraca comparada à que se esperava há um semestre. A lentíssima reanimação associada às baixas taxas de crescimento caracteriza um período intitulado pela instituição como um “novo medíocre”.
            No Brasil, o cenário acompanha a trajetória mundial. Em julho, a atividade industrial, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), recuou pela segunda vez consecutiva. Neste mês, a utilização da capacidade instalada industrial caiu para 79,5% e as vendas recuaram 0,33%. Embora a massa salarial tenha aumentado 0,34%, os responsáveis pela pesquisa frisam que isto foi consequência das férias coletivas conferidas por muitas empresas. A desaceleração é clara quando se observa a evolução dos indicadores mensais, mas o saldo para o setor ainda é positivo: as vendas cresceram 15,78%, as horas trabalhadas 3,55%, o pessoal empregado subiu 2% e a massa salarial cresceu 2,93%. Outro indicador da desaceleração industrial foi a queda do consumo de energia elétrica, já em agosto, segundo a CNI. O recuo foi de 5,1% comparado a agosto do ano passado. Tais resultados indicam que, se houver um crescimento no terceiro trimestre do ano, este será muito fraco e insuficiente para suplantar os maus resultados dos trimestres anteriores.
Para o governo não resta alternativa a não ser tentar estimular o setor produtivo. Segundo o Ministério da Fazenda, após as eleições, serão anunciados novos benefícios para o setor de bens de capital. A estratégia é provocar a renovação do parque produtivo visando o aumento do nível de investimento interno. A depreciação acelerada dos bens de capital é uma das medidas que comporão o documento. Ao comprar máquinas e equipamentos, os empresários poderão abater parte dos custos e pagar menos tributos vinculados ao lucro. Faltou um pequeno detalhe: combinar com o empresariado, que, obviamente, não investirá em época de crise.
Além disso, o Copom já avisou que se o cenário inflacionário piorar, o ciclo de alta da taxa de juros será retomado. Todos sabem que o aumento dos juros desestimula os investimentos e comprime o consumo. Como se espera reduzir os impactos da crise quando se tomam medidas completamente opostas?
Diante do fraco desempenho econômico, também o Banco Central Europeu (BCE) vem intervindo na economia, com um pacote de bondades através da compra de títulos em torno de um trilhão de euros. Mas o “ser supremo” que rege a economia mundial, o “mercado”, não ficou satisfeito com as declarações do presidente do BCE, Mario Draghi, que não deixou claro se a cifra será esta mesma. Os “investidores”, tanto lá como cá, querem saber exatamente o quanto irão ganhar com cada pacote e quando as autoridades titubeiam em seus discursos ou não deixam as regras tão claras, o “mercado” logo lança seu pronto discurso de que há entraves na comunicação.
Por aqui, é a corrida eleitoral que está “desfavorecendo” os ganhos do mercado financeiro. A recuperação da candidata à presidência Dilma Roussef, na última semana antes da eleição, devolveu toda a “marinada” acontecida em agosto. À medida que as pesquisas mostram um fortalecimento da reeleição de Dilma, as “incertezas macroeconômicas” que envolvem a sua nova gestão, acabam por dificultar as previsões de lucro dos “investidores”. Não há como não se indignar diante das prontas exigências do “honorável mercado”.
Além dos esforços para driblar a crise os países têm de prestar contas aos vampiros do capital financeiro. E se os tempos são de crise e eleições, não é difícil imaginar quem serão os ganhadores e os perdedores.



[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
Share:

0 comentários:

Postar um comentário

Novidades

Recent Posts Widget

Postagens mais visitadas

Arquivo do blog