quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Inflação alta, crescimento baixo e a corrida eleitoral

Semana de 06 a 12 de outubro de 2014

Raphael Correia Lima Alves de Sena[i]

A última semana foi marcada pela divulgação do Índice de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA) do mês de setembro. O principal indicador da inflação no Brasil apresentou alta de 0,57%, atingindo 6,75% no acumulado dos últimos 12 meses. Esse resultado superou negativamente as projeções de analistas, que previam uma alta em torno de 0,49%. Desta forma, o IPCA estourou mais uma vez o teto da meta (6,5%). No entanto, o governo continua com a previsão oficial para inflação de 6,2%, no final do ano, mantendo-se, assim, dentro do limite de tolerância do regime de metas.
Além disso, o governo também está encontrando problemas com o cumprimento da meta de superávit primário – o dinheiro que o governo consegue economizar para pagar juros da dívida pública. O Fundo Monetário Internacional (FMI) estimou que o superávit primário brasileiro ficará em 1,3% do Produto Interno Bruto (PIB), abaixo da meta oficial de 1,9%. Confirmando a expectativa do FMI, a arrecadação dos tributos federais (exceto a contribuição à Previdência Social) em setembro, apresentou uma redução quando comparado com o mesmo mês de 2013, segundo dados preliminares. Se essa situação se mantiver, será o quinto déficit primário mensal consecutivo neste ano, fazendo com que se torne mais difícil o cumprimento da meta fiscal.
No que concerne ao crescimento do PIB brasileiro, o FMI reduziu suas estimativas, para 2014, de 1,3% para 0,3%. Entretanto, essa redução na expectativa de crescimento não foi exclusividade para o Brasil. Para o mesmo ano, o Fundo cortou a perspectiva de crescimento global, de 3,4% para 3,3%. Além disso, pelas previsões do FMI há 30% de chance da zona do euro enfrentar um período deflacionário e 40% de probabilidade de entrar em recessão. A recuperação da economia foi considerada “fraca e desigual” e o economista-chefe do Fundo, Olivier Blanchard, afirmou que o crescimento econômico global é “medíocre” na reta final de 2014.
Sinais mais fortes de recuperação são vistos em pelo menos dois países desenvolvidos. De acordo com Blanchard, os Estados Unidos e o Reino Unido “estão deixando a crise para trás e obtendo crescimento decente, embora ambos apresentem crescimento potencial abaixo do que tinham no início dos anos 2000”. A previsão para o crescimento do PIB norte-americano saltou de 1,7% para 2,2%, enquanto que o britânico se manteve estável em 3,2%.
Voltando a falar do nosso país, a corrida eleitoral continua a ditar as oscilações das bolsas de valores. A cada nova pesquisa de intenção de votos divulgada as empresas incluídas no denominado “kit eleição” apresentam alta com um crescimento do candidato do PSDB, Aécio Neves, e movimento contrário com alta da candidata do PT, Dilma Rousseff. Vale lembrar que esse kit já foi denominado de “kit Marina” quando a candidata apareceu em segundo lugar, em diversas pesquisas divulgadas.
Após o primeiro turno das eleições, já podemos falar em um grande vencedor. A maior bancada suprapartidária do Congresso Nacional, os ruralistas, deverão chegar a 273 parlamentares, entre deputados e senadores, de acordo com a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA). Antes da eleição, a bancada contava com 205 parlamentares. A sua principal prioridade é aprovar a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 215/2000, que transfere para o legislativo a decisão sobre demarcação de terras indígenas. Coitados dos índios!
Com o fraco desempenho da economia brasileira neste ano, a arma da campanha petista é a taxa de desemprego. Em 2010 a taxa era de 6,9%, atualmente, encontra-se em 4,9%, resultado nunca visto no país. Enquanto que, do lado do PSDB, o alvo deve ser o “7x1”, inflação perto de 7% e crescimento abaixo de 1%, frase cunhada por Armínio Fraga, futuro ministro da fazenda, numa eventual vitória do partido. Não bastasse isso, o depoimento do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, colocou o Partido dos Trabalhadores no centro de mais um escândalo de propinas. Há uma forte possibilidade de que acusações de corrupção e desvio de dinheiro público seja o carro chefe da campanha para ambos os partidos.
No fim, mais uma vez, os debates sobre o futuro do Brasil deverão ser colocados em segundo plano.



[i] Advogado e Pesquisador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com)
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