Semana de 08 a 14 de novembro de 2014
Rosângela Palhano Ramalho[i]
Nas nossas últimas análises frisamos como a presidente reeleita está acuada principalmente para responder claramente ao “mercado” como vai guiar a política econômica em sua nova gestão. Mas não é só no governo federal que os problemas se põem. Os novos prefeitos e governadores terão que lidar com as pressões pelo aumento das tarifas dos ônibus urbanos. Os “infelizes empresários” do ramo, principalmente os do Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife, Fortaleza e Goiânia, precisam segundo eles próprios, cobrir os custos, o que não é possível com a grande defasagem tarifária atual. Em alguns casos, segundo os representantes do setor, a defasagem chega a 16%. No fim das contas quem vai pagar o pato é o consumidor, pois se tarifa não aumenta, aumentarão os subsídios pagos ao setor.
Já as operadoras de trens urbanos e metrôs, reclamam do encarecimento da energia elétrica, pois a eletricidade participa com até 25% dos custos operacionais deste transporte, segundo a ANP Trilhos, entidade que representa as principais operadoras do país.
Enquanto as empresas de transportes buscam nos preços administrados a saída para garantir e aumentar seus lucros, aquelas que foram beneficiadas pela política de desoneração da folha de pagamentos, estão demitindo mais do que admitindo. Segundo informações levantadas pelo jornal Valor Econômico, considerando o desempenho do mercado de trabalho até setembro e as desonerações que aconteceram até o mês de maio, 21 setores que foram desonerados reduziram o emprego. Só este ano o montante em desonerações foi de R$ 2,558 bilhões. Lembre caro leitor, que o nosso desajeitado ministro da Fazenda, Guido Mantega, tomou esta decisão com a finalidade de promover o emprego, gerar e formalizar a mão de obra. A intenção é boa, a política é claramente anticíclica. Seu único erro foi o de achar que as decisões do empresariado podem ser subornadas.
No que diz respeito às vagas de emprego criadas, no acumulado de janeiro a setembro, a proporção de postos de trabalho com remuneração de até um salário mínimo foi de 35,5%, segundo dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados). No mesmo período do ano passado, a proporção foi de 28%. E, reforçando este número, dados atuais da desigualdade de renda, divulgados pela ONG Oxfam antes do início da cúpula do G20, mostram que os 10% mais ricos detém 72% da riqueza total gerada no país.
O fim do ano está chegando e as empresas começam a divulgar seus planos para 2015. A Petrobras, que enfrenta os resultados da Operação Lava Jato, certamente cortará investimentos no próximo ano, pois seu plano de negócios, para o período 2014-2018, já previa uma redução de US$ 16 bilhões. A mineradora Vale e a siderúrgica Gerdau estão ajustando a produção à queda dos preços do minério de ferro e não tem grandes perspectivas para o ano que vem. A metalúrgica Paranapanema e a fabricante de motores Weg não aumentarão suas capacidades de produção. A Duratex, produtora de painéis de madeira e louças sanitárias, e a Klabin, fabricante de embalagens, também não aumentarão seus investimentos. O setor automobilístico, por sua vez, tentará se recuperar da queda das vendas ocorrida em 2014.
Enquanto Delfim Netto pede um tempo para que Dilma honre o voto de confiança que recebeu nas urnas e apresente um bom programa fiscal, aqueles que acham que a crise é provocada pela insensatez da política econômica do governo, defendem uma única saída: o tal tripé macroeconômico deve ser cumprido à risca. É óbvio que o “mercado” também concorda com esta política. Como a pressão destes grupos é muito mais forte, a presidente já datou o anúncio de toda a equipe econômica. Serão divulgados até o final do mês de novembro os nomes para o Ministério da Fazenda, do Planejamento e para a presidência do Banco Central. E ao mesmo tempo, os nomes do secretário do Tesouro e dos presidentes do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal.
Nesta lista provavelmente não estará a indicação de Henrique Meirelles, como o ex-presidente Lula queria, mas certamente algum arrocho vem por aí. Como a previsão de crescimento do PIB para este ano, segundo o Boletim Focus já se encontra em míseros 0,2%, se a nova equipe econômica cede às pressões, o cenário que é ruim certamente ficará muito pior.
[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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