quarta-feira, 26 de novembro de 2014

O “Petrolão” e as campanhas eleitorais

Semana de 17 a 23 de novembro de 2014

Raphael Correia Lima Alves de Sena[i]

Os escândalos na Petrobras continuam a ocupar as páginas dos principais meios de comunicação nacional. A cada nova fase da investigação vem à tona mais nomes de pessoas e empresas envolvidas no que, possivelmente, pode ser o maior caso de corrupção da história do país. São diretores da estatal, executivos de empreiteiras, doleiros e “laranjas” que encabeçam uma lista cada vez maior. Entre as empreiteiras investigadas por envolvimento no esquema fraudulento do doleiro Alberto Youssef encontram-se: OAS, Camargo Corrêa, Odebrecht, Queiroz Galvão, Mendes Júnior, Engevix, UTC, Iesa e Galvão Engenharia.
Uma observação das doações recebidas, pelos partidos, para a eleição deste ano, e os nomes das empreiteiras envolvidas, permite encontrar números bastante curiosos. Segundo dados levantados pelo Jornal Valor Econômico, o grupo todo contribuiu com R$ 217 milhões para comitês eleitorais, excluindo-se as contribuições feitas diretamente aos candidatos. A Iesa não efetuou doações eleitorais e a Mendes Júnior concedeu valores apenas para candidatos. Seis delas aparecem como doadoras a comitês: a Camargo Corrêa, entregou metade dos R$ 3,1 milhões que doou na campanha ao DEM; a Odebrecht, diretamente ou por meio de empresas controladas, foi a maior financiadora do grupo com o total de R$ 57,9 milhões, dos quais R$ 13,7 milhões foram para o PSDB; a OAS destinou R$ 13,2 milhões ao PT; a Queiroz Galvão contribuiu com R$ 15,8 milhões ao PMDB; a Galvão Engenharia irrigou os cofres do PSB em R$ 4,4 milhões; a UTC destinou R$ 3 milhões à seção paulista do PCdoB. Não bastassem as volumosas quantias recebidas pelos comitês financeiros dos partidos, as empreiteiras investigadas pela PF realizaram doações para 255 deputados eleitos. Os seis maiores beneficiados foram: Alexandre Leite da Silva (DEM-SP), Nelson Meurer (PP-PR), Lucio Vieira Lima (PMDB-BA), Alberto Fraga (DEM-DF), Carlos Zarattini (PT-SP) e Arthur Bisneto (PSDB-AM).
A situação é tão complexa e envolve cifras tão altas que levou o ministro do STF, Gilmar Mendes, a afirmar que o mensalão é “pequenas causas” frente à Operação Lava Jato. No entanto, a dificuldade do governo não para por aí. O projeto de lei que visa alterar a meta de superávit primário para esse ano está encontrando dificuldades para ser votado. O mercado financeiro continua pressionando a Presidente para que seja colocado um de seus representantes no Ministério da Fazenda e o nome de Joaquim Levy já aparece como virtual novo ministro, o que agrada o “mercado”.
Se servir de alento, ao que tudo indica, a inflação ficará dentro do teto da meta. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo – 15 (IPCA-15), prévia da inflação oficial, desacelerou de 0,48% para 0,38%, entre outubro e novembro, e pode facilitar o cumprimento da meta de inflação, neste ano. No acumulado de 12 meses o índice voltou a ficar dentro do permitido 6,42%. A taxa de desemprego voltou a cair em outubro, passando de 4,9% para 4,7%, de acordo com Pesquisa Mensal de Emprego (PME). Mesmo havendo redução nas contratações com carteira assinada, o avanço do emprego por conta própria foi o responsável pela queda da taxa.
Ao redor do globo a situação não se encontra nada boa. A baixa demanda na região do euro aparenta ter desacelerado a ponto de quase pará-la. A atividade industrial chinesa reduziu-se em novembro para seu menor nível em seis meses, de acordo com dados preliminares. Há pressão para que Pequim adote medidas de estímulo ao crescimento. E, no Japão, o “Abenomics”, programa que até poucas semanas é tido como exemplo para o resto do mundo, desandou. Uma contração de 1,6% do PIB japonês no terceiro trimestre já gera algumas alterações nas políticas econômicas por lá adotadas.
Por aqui resta esperar os desdobramentos das investigações do “Petrolão”. Os maiores escritórios de advocacia do Brasil transformaram Curitiba em suas sedes provisórias. É lá que está o processo da operação, sob a tutela do Juiz Federal Sergio Moro, maior especialista em lavagem de dinheiro da Justiça brasileira. Enquanto tudo isso ocorre, de forma discreta e melancólica, a refinaria de Abreu e Lima deve começar a produzir até o final desse mês.



[i]Advogado e Pesquisador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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