quarta-feira, 12 de novembro de 2014

A presidente sob pressão

Semana de 03 a 09 de novembro de 2014

Nelson Rosas Ribeiro[i]

Afinal, a herança maldita ficou para a própria presidente Dilma. Ela está herdando de si mesma um país com inflação rondando o teto da meta; com o dólar sofrendo uma pressão de alta, já ultrapassando os R$ 2,50; com uma balança comercial deficitária; com um orçamento estourado, com um superávit primário quase zerado; com uma indústria em desaceleração e com um Produto Interno Bruto (PIB) com crescimento próximo a zero.
E tudo isto dentro de uma conjuntura internacional adversa, embora o Armínio Fraga não consiga ver. Por toda parte sucedem-se as ações para combater a recessão. Preocupado com a estagnação da economia, o Banco do Japão (Boj) ampliou seu programa de compra de títulos (Quantitative Easing – Q.E.) com o objetivo de aumentar a base monetária de 60 trilhões de ienes para 80 trilhões ao ano.
Remando na mesma direção e com preocupações semelhantes, o Banco Central Europeu (BCE), na sua reunião da semana passada manteve as taxas de juros de referência na mínima histórica de 0,05% e, por unanimidade, declarou sua disposição de adotar “instrumentos não convencionais adicionais”, o que foi interpretado pelo mercado como um sinal da proximidade da adoção do Q.E. De fato, a Comissão Europeia reduziu suas previsões para o crescimento do PIB da região, de 1,7% para 1,1%. Para as economias mais dinâmicas do bloco as reduções foram de 2% para 1,1%, para a Alemanha e de 1,5% para 0,7%, para a França.
Mesmo a economia americana, que tem sido a esperança de recuperação da economia mundial, dá sinais de fragilidade. Em setembro, o déficit comercial cresceu 7,6% atingindo US$ 43,03 bilhões, o setor imobiliário desacelerou e as encomendas para as indústrias caíram 0,6%. Teme-se que a desaceleração mundial comprometa a recuperação dos EUA.
Contribuindo para agravar o quadro de desaceleração da economia nacional o BC brasileiro elevou a taxa Selic de 11% para 11,25%, com as consequências que seriam de esperar. Os juros de todo o sistema financeiro foram ajustados para cima dificultando ainda mais o crédito e os financiamentos. Apesar de algumas medidas tomadas pelo governo como a liberação de R$ 95 bilhões dos depósitos compulsórios dos bancos, o volume dos financiamentos apresenta tendência de queda.
Estranhamente, mesmo neste ambiente adverso, a taxa de desemprego continua a cair, segundo a Pesquisa Mensal de Emprego (PME). A taxa que era de 7,1%, no primeiro trimestre, caiu para 6,8% no segundo. A maior geração de emprego foi o fator que mais contribuiu para a queda.
Se a redução do desemprego é um fenômeno que desafia os analistas, há um setor que continua tendo um brilhante desempenho: o setor bancário. O baixo crescimento econômico não tem afetado o crescimento dos maiores bancos, Itaú, Bradesco e Santander que, juntos, lucraram R$ 27,4 bilhões, nos nove primeiros meses do ano, um crescimento de 26,9%, comparado com 2013. Com a ajuda do BC, que tem elevado a Selic, a pretexto de combater a inflação (teimosamente classificada como inflação de demanda), o setor bancário continua a apresentar excelentes resultados. Outra ajuda veio do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal que reduziram suas atividades e, além disso, elevaram também suas taxas de juros.
Mas, isto ainda não satisfaz a ganância do capital financeiro e o “mercado”. Os especuladores estão furiosos com a dubiedade dos termos da ata da reunião do Copom que decidiu sobre o aumento da Selic, por não terem encontrado uma orientação clara sobre a tendência futura. Com isto, as pressões sobre a presidente Dilma cresceram para a indicação dos nomes da nova equipe econômica. Há a esperança de uma guinada para a “austeridade” na política econômica que é combatida por um grupo de 422 economistas, em um manifesto encabeçado por Maria da Conceição Tavares e Luiz Gonzaga Belluzo e assinado por professores de várias universidades. Os assinantes defendem que há “alternativas além da austeridade fiscal e monetária”.



[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
Share:

0 comentários:

Postar um comentário

Novidades

Recent Posts Widget

Postagens mais visitadas

Arquivo do blog