Semana de 22 a 28 de dezembro de 2014
Rosângela Palhano Ramalho[i]
Estimado leitor. Na última análise de conjuntura do ano, aproveitamos a oportunidade para reforçar os votos de um ótimo 2015. Ao escrever sobre o panorama vindouro, reiteramos que os bons ventos estão longe de soprar por estas bandas. Pela quarta vez consecutiva, a começar pelo título da nossa análise, anunciamos a chegada de um novo ano, mas, novamente sem boas novas.
Como já sabemos o segundo mandato da presidente Dilma, está inserido em um cenário que começará com alta inflação, desequilíbrio cambial e arrocho fiscal.
Analistas ouvidos pelo jornal Valor Econômico acreditam que a inflação vai ultrapassar o teto da meta, já em 2015. Isto porque os reajustes dos preços administrados pressionarão o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) que deve chegar a 6,75% no final do ano. O aumento de preço das tarifas de energia elétrica, da gasolina e dos ônibus urbanos, deve ser forte o suficiente para cobrir o esperado alívio nos preços livres. Outra pressão sobre a inflação será a elevação do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre os carros 1.0, que passará dos atuais 4% para a alíquota original de 7%.
Todas as projeções mostram que a taxa Selic deve fechar 2015 em 12,5%, o que significa que o governo continuará a combater a inflação considerando-a de demanda, embora os preços administrados (aqueles que são regulados pelo governo) apareçam no índice como item de maior peso. É no mínimo uma contradição, pois enquanto contribui para a elevação da inflação o governo continua a combatê-la com juros altos!
A atividade econômica segue ladeira abaixo. O clima está tão tenso que os consumidores sumiram do mercado varejista. É o que indica um levantamento feito pela Consultoria Advisia OC&C, que entrevistou 32 mil pessoas em 10 países. No Brasil, 54% dos consumidores consultados estão indo menos às lojas. Os clientes estão relutantes em aumentar seus gastos, pois não sabem se terão emprego e como estará a sua renda em 2015. Afinal o povo sabe que todas as experiências de austeridade recaem sempre do lado mais fraco.
As medidas propostas pela nova equipe econômica começam a aparecer. A taxa de juros de longo prazo (TJLP) aumentará no início de 2015, de 5% para 5,5% ao ano e os juros cobrados pelo BNDES, no Programa de Sustentação ao Investimento (PSI), também aumentarão da faixa dos 4% a 8% para 6,5% a 11% ao ano. Portanto, o crédito tanto para as empresas quanto para os consumidores será dificultado.
Durante todo o ano de 2014, o governo foi duramente criticado pela falta de credibilidade em suas ações o que gerou falta de confiança de consumidores e empresários. Reorganizar a política econômica, segundo os que defendem esta visão, é parte das exigências para restaurar a credibilidade do governo. Este passo, o governo já deu. Falta então, resgatar a confiança dos agentes econômicos. Neste ponto, o governo ruma na direção contrária. Os prováveis aumentos de impostos e redução das proteções sociais não parecem passos corretos para resgatar a confiança do consumidor.
E como se desperta o tal instinto animal dos empresários? Certamente não é aumentando os juros e dificultando os investimentos. Com as medidas anunciadas fica muito claro, quem está sendo agradado pelo governo. O “mercado financeiro” de forma gloriosa venceu e teve, mais uma vez, seus desejos atendidos.
Mas, é para a economia real que devemos olhar. É ela que cria a riqueza. E mesmo as medidas anticíclicas tomadas durante todo este ano não foram suficientes para reverter o quadro. Com o arrocho agora anunciado caminhamos para o aprofundamento da crise. Para 2015, se espera um crescimento de 0,5%.
É de forma deliberada, consciente e na contramão do mundo inteiro (exceto da Alemanha), que o Brasil caminha a passos largos para o abismo. E por incrível que pareça a grande maioria dos economistas está satisfeita com a decisão. Dizem que este é um mal necessário. Que devemos nos atirar de olhos fechados no fundo do poço, pois tudo se reorganizará e teremos por volta de dois anos, toda a credibilidade e confiança suficientes para crescermos de forma sustentável.
Infelizmente, ninguém consegue apontar um único exemplo da economia real que garanta que isto acontecerá!
[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)