quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Crise e austeridade

Semana de 05 a 11 de janeiro de 2014
Nelson Rosas Ribeiro[i]

A situação da economia mundial continua a agravar-se. Apenas nos EUA se anuncia uma débil recuperação, insuficiente para que o Federal Reserve (Fed), banco central americano, decida aumentar as taxas de juros atualmente próximas a zero. Aliás, a presidente da instituição, Janet Yellen, já avisou que só após abril o assunto seria considerado, acalmando os “mercados”. Nos demais países as medidas de intervenção continuam sendo aplicadas desmentindo o ministro Levy que, em uma entrevista, declarou que “os estímulos fiscais e monetários saíram de cena”. Parece que ele se esqueceu de combinar com os presidentes dos BCs dos outros países.
Com efeito, o agravamento da situação na Alemanha, França e Itália, os três grandes da União Europeia (UE), e a ameaça de deflação tornam iminente a deflagração do Quantitative Easing (Q.E.) do Banco Central Europeu (BCE). O Japão já vem atuando neste sentido há algum tempo e agora é a vez da China que decidiu investir US$ 1,1 trilhão em projetos para impedir a queda do Produto Interno Bruto (PIB) abaixo dos 7%.
A situação é mais grave nos países mais fracos. Na Ucrânia, com a guerra, a desaceleração do PIB faz crescer o risco de calote. Na Grécia, o perigo de abandono da zona do euro vem aumentando, o governo caiu e as próximas eleições trazem a possibilidade de vitória para o partido da esquerda. A situação da Espanha também torna iminente a vitória de um novo partido de esquerda que altera o panorama eleitoral do país. Na Rússia, o perigo é a recessão.
Por mais que desagrade o “homem da tesoura” (o ministro Levy), a sua austeridade, está caminhando na contra mão, pois o mundo desenvolvido continua dependente de gigantescos estímulos monetários.
Este quadro adverso em nada contribui para aliviar a situação interna. A indústria continua desacelerando e as demissões aumentando. Os trabalhadores reagem e já há greves em São Paulo contra os despedimentos na Volkswagen e Mercedes Benz. A Fenabrave, entidade que representa as montadoras, já prevê que em 2015, as vendas cairão 0,5%. Em 2014, na comparação com 2013, o número de veículos licenciados caiu 7,1%.
Enquanto isso, o escândalo de Petrobrás ainda não atingiu o ponto máximo e já apresenta desdobramentos. A empresa será obrigada a fazer correções nos seus balanços para expurgar as propinas pagas e contabilizadas. Por seu lado, o Ministério Público prepara ações contra as empreiteiras como Camargo Corrêa, OAS, Mendes Junior, UTC, Galvão Engenharia, Engevix e seus diretores. Como estas empreiteiras tem outros contratos com o governo isto poderá provocar paralisação de obras o que ameaça a sobrevivência dessas empresas. Isto já está acontecendo com a OAS, que ficou oficialmente inadimplente ao não pagar uma dívida de R$ 100 milhões. A Engevix procura vender parte de seu portfólio para não cair na mesma situação.
O ministério Público ainda pretende convocar cindo grandes bancos (Bradesco, Itaú-Unibanco, HSBC e Santander) para explicarem a não comunicação ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), órgão do Ministério da Fazenda, um conjunto de operações irregulares, ligadas à operação Lava-Jato, pois há suspeitas de conivência de funcionários e gerentes com as fraudes.
Se, do ponto de vista econômico, a situação do país é adversa, do ponto de vista político é ainda pior. Os ministérios de Dilma são um verdadeiro saco de gatos. Além da traição às promessas de campanha (a equipe econômica), há os feudos partidários (PT, PMDB, PDT, PSD, PC do B, etc.) que devem “garantir a governabilidade”, além da acomodação dos contrários Katia x Patrus.
Em plena desaceleração o programa de austeridade deverá agravar em muito o quadro. As medidas prometidas incluem restabelecimento e elevação de impostos, aumento de juros, contenção de despesas, restrição do crédito, aumento de preços administrados, etc. As consequências inevitáveis serão aumento do desemprego, queda dos salários e redução do consumo.
Imaginem quem primeiro pagará por isso?



[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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