quinta-feira, 30 de abril de 2015

Austeridade no lombo dos trabalhadores

Semana de 20 a 26 de abril de 2015

Nelson Rosas Ribeiro[i]

A conjuntura econômica no país e no mundo continua evoluindo na mesma direção que temos apontado nas últimas semanas. As tendências mantêm-se e aprofundam-se.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) mostra-se pessimista em relação aos países emergentes e prevê uma desaceleração no ritmo de crescimento e um aumento dos riscos financeiros. O governo da China, preocupado com a redução da expansão da economia, no primeiro trimestre, que foi a menor nos últimos seis anos, passou a agir mais fortemente reduzindo os depósitos compulsórios dos bancos privados e aumentado os financiamentos do Banco do Povo da China. Pela segunda vez, desde novembro, as taxas de juros de referência também foram reduzidas.
Os países da União Europeia continuam a apresentar grandes dificuldades e crescimento lento apesar das medidas tomadas, das baixas taxas de juros, e das compras de ativos soberanos e privados feitas pelo Banco Central Europeu (BCE), que atingem um valor mensal de 60 bilhões de euros.
A economia dos EUA continua em sua lenta expansão, mas preocupa o Federal Reserv (Fed), Banco Central americano que, mais uma vez, adia a tão esperada elevação das taxas de juros atualmente próximas à zero. A situação geral é tão preocupante que a diretora–gerente do FMI, Christine Lagarde, alertou para o perigo de tornar o “crescimento medíocre”, a “nova realidade”.
Enquanto isso, continuam as punições aplicadas aos grandes bancos pelos órgãos reguladores dos EUA e do Reino Unido. Desta vez o atingido foi o poderoso banco alemão Deutsche Bank que foi obrigado a demitir sete altos funcionários no nível de diretores e vice-presidentes, e a declarar-se culpado em fraudes envolvendo a manipulação da Libor, taxa do mercado interbancário de Londres. Além disso, teve de pagar uma multa de US$ 2,5 bilhões para encerrar o processo que responde atualmente.
Por cá, continua a política de austeridade do Ministro Levy com todas as suas consequências. Como era de se prever a economia está sendo empurrada para o fundo, com o aumento do desemprego, queda nas vendas, redução na produção, aumento dos juros e da inadimplência. As montadoras já não sabem o que fazer para esvaziar os pátios onde se acumula um estoque de 360 mil unidades, suficientes para 46 dias de vendas. E as demissões continuam.
Mas não é só o Levy o culpado. O Banco Central (BC) continua a dar sua colaboração e já mandou um recado para orientar o “mercado” sobre as suas intenções. Os diretores Tombini e Awazu afirmaram que o BC “foi, é, e continuará sendo vigilante” o que é interpretado pelo “mercado” como o sinal de uma nova elevação de 0,5% na taxa de referência Selic, na próxima reunião.
  Enquanto isso outra notícia trouxe mais tranquilidade aos especuladores das bolsas: a Petrobrás publicou seu tão adiado e atrasado balanço auditado. O rombo, chamado de baixa contábil total, foi de R$ 51 bilhões. A corrupção foi responsabilizada por R$ 6,2 bilhões e o resto ficou por conta da incompetência. O “mercado” suspirou aliviado, pois, como afirma Daniel Cardoso Mendonça de Barros, chefe da área de “equities” do UBS, no Brasil, “O que mais incomoda os investidores, especialmente os estrangeiros, é não poder fazer contas. Eles não toleram incertezas”.
Coitados!
O curioso é que a austeridade sempre cai sobre os trabalhadores. Nunca se fala em austeridade no pagamento dos juros.
E vem mais por aí. Desta vez é o mais sério golpe contra a legislação trabalhista: o PL 4.330 chamado projeto da terceirização. O golpe é tão descarado que uniu todas as entidades patronais (Fiesp, Firjan, Febraban, etc.) que despejam recursos para pagar a propaganda na mídia, comprar conhecidos jornalistas e parlamentares de diversos partidos, além de dirigentes de sindicatos de trabalhadores.
Urge deter este crime cujo objetivo é conceder ao grande capital o poder de atirar ao trabalho precário, além dos 12 milhões de atuais terceirizados, os outros 33 milhões hoje garantidos pela CLT.



[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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