Semana de 06 a 12 de abril de 2015
Rosângela Palhano Ramalho[i]
Caros leitores, com satisfação fomos informados de que o Jornal ContraPonto voltaria a circular. A quem interessar, os textos não publicados aqui podem ser acessados via www.progeb.blogspot.com. Em nossa última análise publicada no ContraPonto e que tinha como título “Ainda não chegamos ao fundo do poço”, frisávamos a piora dos indicadores econômicos, ajudada pela nova política adotada pelo governo. E quando voltamos a olhar a conjuntura, parece que este poço não tem fundo.
Os dados da Pesquisa Industrial Mensal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) reforçam este cenário. A produção industrial de 11 estados, da totalidade dos 15 pesquisados, caiu. No primeiro bimestre de 2015, no país, a queda chegou a 7,1%. Carro-chefe da crise, o setor automobilístico registrou 17% de queda nas vendas no primeiro trimestre do ano. Mesmo assim a rentabilidade das montadoras foi protegida. Segundo o IBGE, contrariando os cânones da ideologia econômica oficial, o preço dos carros novos subiram 4,4%, desde o início do ano, apesar da queda da demanda.
O mercado de caminhões que já registrou queda das vendas de 11,3%, em 2014, prevê uma redução que vai de 27% a 42%. Os produtores Volvo, Ford, Iveco e Scania, acreditam numa melhora ao longo do ano, mas, outros, como a MAN e Mercedes-Benz, são mais pessimistas e preveem uma queda mais acentuada das vendas.
A crise se estende ao setor agrícola. No primeiro trimestre, os fabricantes de colheitadeiras começaram a demitir. A AGCO vai demitir 153 funcionários em abril, parar a produção durante quatro meses, a partir de junho, e cancelar os contratos de trabalho de 143 trabalhadores da fábrica de Santa Rosa (RS). A CNH parará a unidade de Sorocaba (SP) durante seis dias úteis e planeja dar férias de dez dias em Piracicaba (SP). A John Deere deseja implantar um banco de horas para evitar demissões em Horizontina (RS).
A inflação não para de subir. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), índice oficial de inflação, subiu 1,32%, em março, o que representa uma alta acumulada de 3,83% nos primeiros três meses do ano e de 8,13% em 12 meses. Segundo o IBGE, mais da metade da alta do IPCA de março deveu-se a conta da energia elétrica, que apresentou um aumento médio de 22,08%. O Boletim Focus do Banco Central apura que a inflação deve fechar o ano em 8,2%, a taxa de juros alcançará 13,25% e o PIB cairá -1,01%. Tal cenário adverso resultou num saque recorde de R$ 11,4 bilhões na poupança, em março.
Enquanto a situação econômica caminha para o fundo infinito do poço, a popularidade do governo cai e para contornar as brigas com o PMDB, a presidente nomeou, de forma atabalhoada, o vice-presidente Michel Temer para a coordenação política. Soma-se aos problemas a crescente insatisfação social após a aprovação, pela Câmara dos Deputados, do Projeto de Lei 4.330/04 conhecido como projeto das terceirizações. A argumentação é a de que o projeto estabelece “regras” para as relações de trabalho entre empresas contratantes e terceirizadas. Amplamente rechaçada pelos movimentos sociais, a proposta libera a terceirização para a atividade-fim da empresa, o chão da fábrica. Entidades representativas dos trabalhadores prometeram greve geral para 15 de abril, no intuito de contestar a precarização do trabalho e a perda de direitos sociais. A Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) comemorou. Segundo a entidade, tal decisão dá mais segurança jurídica e estimula a geração de novos empregos.
Como se não bastasse, nem todos os movimentos sociais estão dispostos a defender integralmente o governo. O líder do MTST, movimento de sem-tetos, o filósofo Guilherme Boulos, contesta o governo e afirma que Dilma traiu o povo. Segundo ele, “não se joga a conta da crise no colo dos trabalhadores, dos mais pobres”. Por esta razão, o MTST não defenderá o governo porque o mesmo não se fez defensável.
Para finalizar, em 12 de abril, o governo enfrentou mais uma manifestação que pedia o impeachment da presidente Dilma, organizada pelos grupos “Vem Pra Rua” e “Movimento Brasil Livre”, aliados aos “Revoltados Online” e o “SOS Forças Armadas” que, acreditem, pedem a intervenção militar e a volta da ditadura.
[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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