quinta-feira, 5 de maio de 2016

De vidraça a estilingue

Semana de 25 de abril a 01 de maio

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           
No meio de toda a agitação política que ocupa os noticiários aparecem três informações que mostram a difícil situação da economia mundial. O crescimento de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA, no primeiro trimestre, o menor em dois anos que pôs em dúvida a recuperação americana. A decisão do Federal Reserve (Fed), banco central americano, de manter os juros entre 0,25 e 0,50% ao ano e adiar a tão prometida elevação. Por seu lado o Fundo Monetário Internacional (FMI) continua cauteloso e temeroso com o crescimento da economia mundial estimado agora em 3,2%. Foi divulgado pelo (FMI) no seu relatório Panorama Econômico Mundial (WED, na sigla em inglês) um alerta sobre as reduções sucessivas dos ritmos de crescimento da economia global o que pode esconder o risco de uma nova desaceleração. As preocupações vão além da economia americana, estendendo-se para os emergentes (a China em particular) e a União Europeia. Com a desaceleração do comércio mundial paira no ar uma nova crise.
Aqui no Brasil a situação continua a se agravar. Não há nenhuma indicação de reversão do ciclo o que significa que estamos no fundo do poço e pode ainda ser pior, dependendo da política econômica do novo governo Temer.
A deposição de Dilma já pode ser considerada fato consumado. O julgamento feito na tal comissão do Senado não passa de mais uma grande farsa. O relatório já estava pronto antes de começarem os trabalhos. O vice já mantém os entendimentos para a formação do seu ministério.
Aproveitando os erros dos governos PT, entre os quais o mais sério é a corrupção em que se afundou o partido, as forças mais conservadoras do país resolveram encerrar a era Dilma. O pretexto legal foi o tal crime de responsabilidade que metade dos juristas diz que houve e a outra metade, que não. Claro que a metade do sim congrega as velhas reacionárias tipo Reale. A decisão já esta tomada antes da palhaçada da reunião da Câmara. Ali Baba e os 40 ladrões formaram o tribunal do júri.
Agora o conspirador mor prepara o seu governo com partidos igualmente corruptos liderados pelos réus Renan, Cunha, Temer, Aécio e vem mais por aí. Tudo indica que o ex-ministro de Lula, Henrique Meirelles, será o ministro da Fazenda do Temer. Outros também serão aproveitados. O PSDB aproxima-se com cautela tentando deixar aberta a porta do desembarque caso a situação se agrave. Apresentou uma lista de pontos a serem seguidos pelo governo que podem representar uma ótima desculpa para a retirada. Já mostrou desagrado com o toma lá dá cá usado para a composição do ministério. Dentro do próprio PMDB surgem brigas pelo poleiro. A bancada da câmara reclama que Temer só lhes deu dois ministérios sem importância e que Dilma havia prometido mais. O PP e o PR já abocanham seus pedaços e até o PPS e o PSB aproximam-se abanando o rabo. É o botim.
Afastados o PT e Dilma falta apenas a prisão do Lula para aplacar a ira bolsonariana e o descontentamento da classe média urbana enfurecida.
E a corrupção? Onde está a corrupção? A Lava Jato está tomando caminhos perigosos que, além de Lula e Dilma, conduzem ao Jucá (candidato a ministro), ao Aécio Neves (candidato à presidente), e outros.
O bom interessante vai começar com o novo governo Temer e a política econômica que está sendo prometida. Além da “Ponte para o futuro” saiu agora a “Ponte para o futuro 2 – Travessia social”. Terá o Temer coragem de revogar o pacote de bondades assinado pela Dilma na porta da saída? E a Lava Jato, a inflação, a crise?
Francamente, estou muito curioso para assistir o que está por vir. O historiador Lincoln Secco, professor da USP, em um artigo publicado no Valor Econômico, depois de comentar a “derrota histórica” do PT, mostrou aspectos positivos da atual situação. Segundo ele, o PT teve um alívio livrando-se da Dilma, conseguiu mobilizar milhares de pessoas nas ruas, “carimbou” os desafetos como “golpistas” tirando-lhes a legitimidade e passou de “vidraça para estilingue”.
Vamos assistir ao filme! Promete!

[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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