terça-feira, 14 de junho de 2016

Nada mudou...

Semana de 06 a 12 de junho de 2016

Rosângela Palhano Ramalho[i]

Caro leitor. O novo governo que se forma, continua a tentar convencer os seus governados de que as velhas ideias tratadas como novas, tirarão o país do atoleiro. O mercado financeiro recuou do otimismo desenfreado inicial e a classe trabalhadora, sem lobistas, assiste inerte às discussões das reformas que passarão pela flexibilização das relações de trabalho. Já o setor empresarial, capitaneado por seu representante, Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e notável apoiador do impeachment, se apressou na autodefesa junto ao presidente interino Michel Temer. Em um almoço que reuniu cerca de 200 empresários, foi manifestado o apoio à nova equipe econômica condicionado, é claro, ao atendimento de uma lista de reivindicações que passam pela necessidade de redução da taxa de juros, de expansão do crédito, principalmente para exportação, e do andamento rápido do programa de concessões em infraestrutura. Paulo Skaf foi bastante direto em relação ao aumento da carga tributária: “... Nossa posição é muito clara. Somos radicalmente contra”.
Os números da indústria só reforçam o cenário desolador. Entre março e abril, a produção industrial subiu apenas 0,1%. O gerente responsável pela Pesquisa Industrial Mensal (PIM) do IBGE, disse que o número já foi pior, mas não confirma a recuperação da indústria brasileira. Dados sobre o investimento da indústria de transformação em máquinas, equipamentos e instalações, reforçam esta afirmação. Pesquisa da Fiesp, realizada com 1.120 empresas, apurou que 56,6% delas não realizaram investimentos em 2015 e que 73,2% não irão investir este ano.
Henrique Meirelles, ministro da Fazenda, reafirmou a previsão sombria para a economia brasileira, que terá provavelmente, segundo ele, a maior queda de sua história no biênio 2015-2016. Mas, o salvador da Pátria está a postos e consertará os erros do passado. Meirelles acredita que se o Congresso aprovar as medidas anunciadas não há “... dúvidas de que chegaremos nos próximos trimestres a retomar o crescimento do Brasil de uma forma e com um ritmo que pode surpreender.” Ele é mais um dos que acreditam no automatismo, assim como Guido Mantega e Joaquim Levy. Nada mudou.
A inflação, segundo o IBGE, acelerou em maio influenciada pelo aumento das taxas de água e esgoto. Nesse mês, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) teve alta de 0,78%. As projeções dão conta de que a inflação, no fim do ano, ultrapassará os 7%. Outros reforços da aceleração inflacionária acontecida em maio vieram do IC-Br o (Índice de Commodities Brasil) apurado pelo Banco Central e do IGP-DI (Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna) apurado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). O IC­Br que envolve os preços das commodities agrícolas, metálicas e energéticas subiu 1,47%, em maio, após queda de 3,09%, em abril. Já o IGP-DI cresceu de 0,36%, em abril, para 1,13%, em maio, aumento que foi provocado pela subida dos preços dos produtos agrícolas. A última decisão de Tombini à frente do Banco Central foi a de manter a taxa de juros inalterada, na última reunião do Copom. A nova equipe do órgão, a ser comandada por Ilan Goldfajn, terá como desafio manter o combate à inflação. E como o diagnóstico não mudou provavelmente será administrado aquele único purgante conhecido, o aumento das taxas de juros.
Portanto nada mudou. Grande parte dos personagens do novo governo está envolvida em denúncias de corrupção. O Congresso continua a manter os cargos dos seus corruptos-mor. O diagnóstico econômico é o mesmo. A equipe econômica tomará as mesmas decisões de antes. Até a avaliação do novo presidente se assemelha à da gestão anterior. Pesquisa de opinião contratada pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT) mostra que 54,8% avalia que o governo Temer é igual ao anterior e 46,6% dizem que o nível de corrupção é o mesmo do da gestão anterior. O índice de aprovação do governo foi de 11,3% para Temer. Na gestão de Dilma, o último índice foi de 11,4%.
Nada mudou. Trocaram seis por meia dúzia (talvez um pouco mais podre).

[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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