quarta-feira, 1 de junho de 2016

Temer: “tratava com bandidos... sei o que fazer em um governo”

Semana de 23 a 29 de maio de 2016

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           
A reunião do G-7, grupo dos sete países mais industrializados do mundo, realizada no Japão, na semana passada, não trouxe grandes novidades além de reconhecer a lentidão da recuperação da economia mundial e recomendar a manutenção das políticas monetárias frouxas, os estímulos fiscais e as reformas estruturais para acelerar o crescimento. O Japão, no entanto, apontou um cenário mais sombrio alertando para o perigo de uma nova crise. Com efeito, a desaceleração da China continua a preocupar a todos e afeta diretamente os países vizinhos como Taiwan, Coréia e o próprio Japão. Os EUA tiveram uma visão mais otimista, mas os países da União Europeia se encontram diante de uma situação mais difícil com a fuga de recursos dos títulos de dívida que, só em março, atingiu 500 bilhões de euros. O pessimismo dos investidores tem levado à venda de ações de empresas europeias e a fuga para outros marcados.
No Brasil a situação é um pouco pior como temos constatado em análises anteriores. Não há sinais de retomada do crescimento e a aposta é se já chegamos ao fundo do poço ou não. O desemprego continua a aumentar, a produção industrial a cair, juntamente com as vendas.
O governo desmoraliza-se a cada dia. Depois de ter sido obrigado a recuar e recriar o Ministério da Cultura teve de demitir seu ministro do planejamento Romero Jucá. Agora caiu mais um ministro, o encarregado de zelar pela moralidade do governo e que foi impedido pelos funcionários de entrar em seu próprio ministério. Foi apanhado pelas deleções premiadas da Lava Jato que agora se aproximam perigosamente do PSDB de Minas e do Senador Anastasia. O PSDB e o DEM, partidos da base aliada, tiraram o corpo fora e o governo Temer foi obrigado a “aceitar” o pedido de exoneração feito pelo ministro. Correm as apostas para saber quem será o próximo.
Diante desses acontecimentos, Temer gasta suas energias tentando manter seu governo e sua base de apoio. Os empresários aumentam sua desconfiança na capacidade do governo conseguir implementar as mudanças que prometeu e manifestam sua oposição a qualquer elevação de impostos já cogitada por Meirelles. Aliás, o ministro Serra já explicitou suas discordâncias do programa de austeridade afirmando que em períodos de depressão “não há ajuste fiscal possível”. Criticou também os juros altos, responsabilizando-os por 90% do déficit nominal e o custo da política de intervenção do Banco Central (BC) no câmbio.
Obcecado pelo equilíbrio fiscal e reconhecendo que a queda da receita é inevitável, Meirelles fala em acabar com o Fundo Soberano, o que cria problemas para as ações do Banco do Brasil (BB) que ele contém, pois a venda do pacote, além de derrubar a cotação das ações, eleva o risco da perda do controle acionário pelo Estado. A outra solução para aumentar a receita é a liquidação das reservas internacionais que somam US$ 374,5 bilhões, o que corresponde a R$ 1,3 trilhões, o que daria para cobrir sete vezes o buraco do orçamento. Sem contar o custo de carregamento destas reservas que, só no ano passado, aumentou a dívida em US$ 24 bilhões.
Outra fonte de receitas são as ações detidas pelo BNDES através de seu braço BNDESPar, que montam R$ 56,2 bilhões. Entre as empresas contidas no pacote estão a Petrobras e a Eletrobras o que também envolve problemas de controle acionário. Mas há dezenas de outras como Cemig, Energisa, Light, Renova, CSN, Gerdau, Suzano, Klabin, JBS, etc. Este fundo, nos últimos 12 meses, deu ao BNDES um prejuízo de 36% diante da desvalorização das ações, que hoje renderiam R$71 bilhões.
E o governo ainda não agendou as questões mais quentes como a reforma da previdência e da legislação trabalhista.
Acossado pelas contradições de seu próprio grupo e irritado com as manifestações que ele chama de agressões Temer em um discurso reagiu afirmando que, como Secretário de Segurança em São Paulo, sabia tratar com bandidos.
Com a base de apoio que dispõe e os ministros que compõem o seu governo parece que o presidente precisará de toda a sua experiência.

[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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