(Semana de 13 a 19 de junho de 2016)
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Tudo continua na mesma na economia mundial. As notícias que correm apenas confirmam que a recuperação arrasta-se sem grandes novidades. Agora o gigante Bank of America (BofA), considerado o maior banco de varejo dos EUA, anuncia que demitirá 8 mil dos seus 68.400 empregados. Desde 2009 ele já havia demitido 40 mil pessoas ao mesmo tempo em que ampliava seus serviços, recorrendo à revolução digital. Temeroso com a situação, o Federal Reserve (Fed) banco central americano adiou a elevação das taxas de juros e anunciou que o processo será mais lento que o previsto. Segundo a presidente Janet Yellen “estamos muito incertos sobre para onde os juros vão no longo prazo”.
Além da instabilidade da economia americana, a ameaça da saída do Reino Unido da União Europeia (conhecida como Brexit) e a precária situação da China aumentam as incertezas quanto ao futuro da economia mundial. Isto se reflete na queda dos juros dos títulos da dívida soberana dos países da União Europeia que tendem para zero, nível que já foi atingido pelos títulos de 10 anos da Alemanha. Em outros países a situação não é diferente. Os rendimentos dos títulos de mesmo vencimento tendem para zero, em países como Áustria (0,2%), Holanda (0,22%), França (0,377%), Finlândia (0,327%), etc. Isto sem falar que o Banco Central Europeu (BCE) mantém os seus juros negativos e continua a comprar mensalmente €80 bilhões em títulos dos governos da zona do euro. A difícil situação provoca fatos curiosos como o “pacto de competitividade” feito entre as centrais sindicais e o governo finlandês. O governo se compromete a suspender as medidas de austeridade, o aumento dos impostos e o corte de gastos e os trabalhadores aceitam o aumento da jornada de trabalho e da contribuição social e a redução dos salários. Tudo em nome do aumento da competitividade do país para superar a crise.
Enquanto isto, por cá, começa a crescer a opinião de que, finalmente, chegamos ao fundo do poço. As vendas e a produção continuam no mínimo, mas as quedas desaceleraram. Assistimos à limpeza da economia com as falências e recuperação judicial de alguns grandes como a telefônica Oi, o grupo do agronegócio Bom Jesus e a Usiminas. Só no setor de autopeças foram 26 pedidos. A construção civil continua a campanha dos super descontos para reduzir os estoques que se mantêm elevados. Aumentam as opiniões que a recuperação da economia poderá ter início no segundo semestre ou próximo ao fim do ano.
Há temores que a crise política possa prejudicar a retomada e que as anunciadas medidas de austeridade contribuam para isso. Até o próprio presidente do Senado, sem querer criticar propostas do governo, comentou que ajuste fiscal com recessão na economia agrava a crise. O economista chefe para a América Latina da Standard & Poor’s comentou que o BC deveria baixar a Selic para 10% e desvalorizar o câmbio a fim de estimular a economia. Mas o Meirelles, agora acompanhado pela poderosa equipe escolhida por ele para o BC, liderada por Ilan Goldfajn, continua firme com o seu discurso de austeridade e manutenção dos juros elevados.
O cenário político continua muito carregado. A nova delação premiada do ex-diretor da Transpetro, Sergio Machado, espalhou o terror no meio político e no governo provocando a queda do terceiro ministro, o Eduardo Alves, do Turismo. Foram citados dezenas de políticos entre os quais o próprio presidente Temer, que foi obrigado a fazer um desajeitado pronunciamento tentando desmentir as acusações. A alta cúpula do PMDB foi toda comprometida com o recebimento de propinas e políticos de mais sete partidos foram listados como envolvidos. Nem o Aécio Neves escapou. O ambiente tornou-se ainda mais tenso com o vazamento dos pedidos de prisão, feito pelo procurador Geral Rodrigo Janot, contra Cunha, Renan, Sarney e Jucá por tentativa de obstrução da justiça. Divulga-se também a notícia de que novas delações estão a caminho, e especula-se quem será o próximo ministro a cair.
Enquanto isso, aumenta a conspiração contra a Lava-Jato.
[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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