quarta-feira, 13 de julho de 2016

A culpa é sua, trabalhador!

Semana de 04 a 10 de julho de 2016

Rosângela Palhano Ramalho[i]

Caro leitor, em meio a uma crise política que parece longe de acabar, a economia brasileira continua a amargar maus resultados. A produção industrial ficou estável entre abril e maio, de acordo com a Pesquisa Industrial Mensal Regional do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), interrompendo a sequência positiva de 1,4%, em março, e 0,2%, em abril. Em oito dos 14 locais pesquisados houve queda da atividade. O resultado foi recebido com surpresa (exceto por nós que fazemos esta coluna) já que se esperava uma inflexão, uma saída do fundo do poço. Dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostram que o faturamento real do setor caiu 3,8% e as horas trabalhadas na produção recuaram 3,6%, em maio, comparado a abril. A utilização da capacidade instalada foi de 77% e o emprego industrial caiu 0,8%, em maio. Diante do quadro sombrio, a instituição alterou sua projeção de uma queda do Produto Interno Bruto (PIB) de 3,1% para 3,5%, em 2016, com queda da produção industrial de 5,4%. O recuo da atividade pode ainda ser verificado pelo sucessivo aumento do desemprego. Segundo a PNAD Contínua, em maio, o desemprego atingiu 11,2%. E não restou alternativa ao ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, a não ser reconhecer que a taxa pode chegar a 14%, até dezembro. Finalizando o retrato nebuloso, veja-se o expressivo aumento dos pedidos de falência e de recuperação judicial no país. De acordo com a Boa Vista SCPC, no primeiro semestre deste ano, os pedidos de falência aumentaram 26,5%, comparado ao mesmo período de 2015 e, segundo a Serasa Experian, os pedidos de recuperação judicial elevaram-se em 87,6%.
Esses resultados falam por si só e são derivados da conjuntura de crise. Com uma equipe econômica altamente conservadora deveremos esperar o pior. O presidente do Banco Central ao assumir seu posto, se adiantou em afirmar que “o velho e bom tripé macroeconômico: responsabilidade fiscal, controle da inflação e câmbio flutuante” está de volta. Mas, Ilan Goldfajn, em entrevista recente ao Jornal Valor Econômico, jogou o tripé no lixo: “Não sou advogado de um câmbio flutuante puro em economias emergentes”. Segundo a nova equipe a intervenção no mercado de câmbio continuará e será pontual. E como a responsabilidade fiscal em virtude do desarranjo geral não será alcançada tão cedo, duas das pernas do tripé foram amputadas. Restou-nos o velho e bom “saci” macroeconômico: o controle da inflação por meio dos juros altos. Esta será a “questão de primeira ordem”.
O presidente do Banco Central declarou também saber dos efeitos que o ajuste fiscal provocará e da dimensão da crise econômica. Segundo ele, “[...] o desemprego subiu muito, o ajuste fiscal vai ocorrer ao longo do tempo, vai exigir reformas, vai exigir medidas.” Portanto, devemos estar preparados.
O leitor assíduo desta coluna já sabe quem vai pagar o pato. Mas, a emblemática declaração do presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria) reforça perfeitamente a questão. Robson Andrade em encontro com o presidente interino Michel Temer com cerca de 100 empresários do Comitê de Líderes da Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI), disse que o déficit fiscal será sanado com “mudanças duras” na Previdência Social e nas leis trabalhistas. Citando o exemplo da França (onde as propostas de mudanças das leis trabalhistas estão sendo ferozmente combatidas nas ruas), falou: “No Brasil, temos 44 horas de trabalho semanal. As centrais sindicais tentam passar esse número para 40. A França, que tem 36 passou, para a possibilidade de até 80 horas de trabalho semanal (sic) e até 12 horas diárias de trabalho.”.
E finalizou solenemente: “O mundo é assim. A gente tem que estar aberto para fazer essas mudanças. E nós ficamos aqui realmente ansiosos para que essas mudanças sejam apresentadas no menor tempo possível”.
Após o alarido geral causado pela declaração, a CNI em nota disse que não era bem assim, mas o que está dito, está dito: você trabalhador é o grande culpado porque está trabalhando pouco.

[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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