terça-feira, 5 de julho de 2016

O Brexit e a crise

Semana de 27 de junho a 03 de julho de 2016

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           
O plebiscito realizado dia 23 de junho no Reino Unido (RU) foi o assunto mais comentado da semana. A aprovação por uma pequena maioria do Brexit, sigla que identificou o processo de saída dos britânicos da União Europeia (UE), abalou os fundamentos da Europa unida e agora se teme a desagregação do bloco. A vitória do Brexit mostrou o grande descontentamento das populações com os partidos políticos que se revezam no poder, com as desigualdades e os problemas sociais que não encontram solução. O arrastamento da crise econômica, que não termina, a espera de uma recuperação, que se arrasta, os problemas do desemprego, da imigração e dos refugiados, são os temperos que possibilitaram a virada que enganou até os experientes George Soros e o Deutsche Bank, o mais poderoso banco europeu.
Agora se discutem as consequências e a forma como o desligamento será realizado. França e Alemanha pressionam o Reino Unido para que oficialize o pedido de desligamento para que as ações possam ser iniciadas. O destroçado governo inglês, após a renúncia do primeiro ministro, não consegue tomar nenhuma iniciativa a espera das decisões do parlamento. As bolsas despencam, as ações dos bancos e das empresas caem, o sistema financeiro entra em pânico. Segundo George Soros o Brexit pode precipitar a crise.
Se o ciclo mundial entrar em nova fase de crise já temos um culpado: os britânicos.
Em várias análises anteriores já vínhamos apontando sinais da aproximação de uma nova crise mundial, que daria início a um novo ciclo. A característica deste novo ciclo é que ele se precipitou, seguindo a mesma periodicidade do anterior, o de 2008. O Fundo Monetário Internacional (FMI) já havia observado que todo o socorro feito aos bancos pelos Bancos Centrais (BCs) e o afrouxamento monetário (quantitative essing) que despejou trilhões de dólares no mercado não foi suficiente para dar início a uma forte recuperação. O FMI já havia observado a fragilidade do Deutsche Bank AG, e alertado para a possibilidade de um estouro. Outros bancos como o HSBC Holding e o Credit Suisse Group também foram citados na lista dos vulneráveis. O FMI alertou ainda que as consequências seriam graves para as economias da Alemanha, França, Reino Unido e EUA. Com a decisão dos britânicos a situação deve agravar-se e já começou o salve-se quem puder. É o que assistiremos nas próximas semanas.
Esta situação terá duras repercussões no Brasil e será mais um entrave nos planos do governo Temer. A economia nacional continua péssima apesar de todo o esforço do governo em dourar a pílula e mobilizar um batalhão de empresários para, como claque organizada, realizar manifestações de aplausos e apoio e oferecer um público onde ele possa fazer seus canhestros discursos sem risco de ser vaiado. Uma das características do agravamento de uma crise é o crescimento do número de falências de empresas de grande porte. Isto é o que precisamente está ocorrendo agora. Para não falar na Petrobras e Sete Brasil, traiçoeiramente assaltadas pelas gangues partidárias, temos os casos de pedidos de recuperação judicial da telefônica Oi, das siderúrgicas Usiminas e CSN, da mineradora Samarco, de 15 grupos do setor sucro alcooleiro, da aérea Gol, etc. Por mais que o IPEA e o IBGE, agora devidamente aparelhados pelo PMDB, busquem divulgar dados manipulados nada conseguirá enganar os agentes econômicos.
A situação continua a agravar-se. Não chegamos ao fundo do poço, o crédito continua caro e escasso, as taxas de juros e o desemprego elevados e as vendas e a produção continuam em queda. E, com Meirelles, vem mais arrocho por aí.
O governo Temer não consegue sequer unificar sua base parlamentar de apoio, a mesma base fisiológica, corrompida, formada pelo “centrão” e pelo PMDB que considera ter chegado sua vez de atirar-se à mesa para o banquete.
E é preciso ainda satisfazer os interesses do PSDB e DEM que espreitam a oportunidade para cobrar dividendos.

[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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