quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Recuperação lenta e privatização acelerada


Semana de 21 a 27 de agosto de 2017

Nelson Rosas Ribeiro[i]

Parece haver um acordo geral sobre a retomada do crescimento na economia do país. Os órgãos oficiais afirmam isto, a imprensa esbraveja alto, os porta vozes do governo gritam. Todos querem convencer as pessoas que a retomada começou. Isto faz parte da ideologia dominante entre os economistas e a famosa “equipe dos pesadelos” comandada pelo banqueiro Meirelles. Para eles a recuperação começa quando os agentes econômicos criam “expectativas” positivas sobre o futuro.
A ideologia vai mais longe. Para criar boas “expectativas” é preciso que o governo tenha “credibilidade”. Para ter “credibilidade” é preciso a austeridade fiscal para o equilíbrio das contas públicas, as reformas trabalhista e da previdência, etc. Em relação ao pagamento dos juros da dívida, aos subsídios para as empresas, ao perdão das dívidas dos empresários trambiqueiros e dos ruralistas, nada se fala. Ou seja: austeridade para os trabalhadores, que devem pagar a conta. Eis o governo Temer
Em defesa deste governo juntam-se todos: banqueiros, empresários, políticos do PSDB, PMDB e centrão. Corruptos e corruptores irmanados em torno de um programa de classe, da classe empresarial, da burguesia. E agora é o vale tudo sem ética ou moral.
Para citar mais um exemplo, a cada dia são divulgados os dados sobre o preço da compra dos deputados para engavetar o processo contra o presidente da mala. Carlos Ritti, secretário executivo do Observatório do Clima, calcula que a bancada ruralista levou entre R$28 bilhões e R$32 bilhões para votar pelo engavetamento. Estes valores correspondem à regularização de terras griladas na Amazônia com a Lei 13465, com a Medida Provisória do Funrural, que reduziu a contribuição patronal de 2,1% para 1,3%, e mais R$715 milhões para emendas parlamentares.
Triste espetáculo!
Enquanto o governo se desmoraliza interna e internacionalmente a economia tende a estabilizar-se no fundo do poço. Tudo parece indicar que paramos de afundar. No entanto, concordamos com a opinião geral que a recuperação vai ser lenta e sofrida. Os dados mostram isso.
Claudio Considera, coordenador do Monitor do PIB-FGV, indicador antecedente do Produto Interno Bruto (PIB), divulgado pela Fundação Getúlio Vargas, apesar de chamar de “falso negativo”, teve de engolir a queda de 0,24% que este indicador apontou para o PIB, no segundo trimestre, em relação ao primeiro. E apressou-se em afirmar que a expectativa para os próximos trimestres é positiva embora reconheça que, segundo os dados apurados, o crescimento dos transportes foi 0,96%, o do comércio, 1,05%, mas o agropecuário caiu -4,63% e a indústria, -0,27% e a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), em base anual, caiu -5.1%. O IBC-Br, indicador antecedente do Banco Central (BC) para o PIB, mostrou um dado mais positivo para o mês de junho: um crescimento do PIB de 0,5% e um acumulado de 0,25% para o segundo trimestre. Segundo o jornal Valor Econômico a “recuperação é dada como certa”, mas “ninguém espera uma arrancada”.
Alguns dados fazem aumentar as dúvidas. O Sindicado da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo revisou suas previsões para o setor de crescimento de 0,5% para queda de 3,5% no ano. Outro dado específico é sobre a atitude dos bancos. Apesar da queda da Selic, os juros bancários voltaram a subir, de 28,8%, para 29%, entre junho e julho. Para as empresas, as taxas subiram de 24,8% para 25,3%. Além disso, os empréstimos para pessoas jurídicas caíram 23,3%, no mesmo período. O pior é que os bancos criam dificuldades principalmente para o financiamento das grandes empresas, pois o índice de inadimplência delas passou de 0,38%, em fins de 2014, para 1,09%, em 2015, três vezes maior. Outro dado preocupante é o número de recuperações judiciais que, desde 2015 até agora chegou a 4.000.
Curiosa esta recuperação em que os grandes não merecem confiança.
Por seu lado, vendo cair a receita. O governo resolveu vender tudo que for possível. Como um vulgar mascate, vai tentar encontrar compradores para o que ainda pode ser vendido. Além do petróleo, aeroporto, estradas, ferrovias, portos, entram no leilão, agora, as elétricas, represas e até a casa da moeda.
O país está a venda. Quem dá mais?


[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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