Antonio Carneiro de Almeida Júnior [i]
Em Economia, uma previsão sempre deve ser
encarada como a melhor aposta baseada em convicções teóricas particulares. Ou
seja, mesmo que a teoria seja a melhor disponível e a análise esteja impecável,
ainda assim é possível que as coisas tomem um rumo distinto do previsto. Dito
isto, podemos passar ao assunto proposto: as oportunidades de obter ganhos
financeiros na atual etapa do ciclo econômico, a depressão. Ademais, tenha-se
em mente que aqui trataremos apenas da parcela do portfólio composta de ativos de
rendimento variável.
Há algum tempo, antecipamos em nossas
análises que a retomada da economia brasileira se dará com base no setor
exportador, e isso vem se confirmando. As exportações do agronegócio, por
exemplo, renderam US$ 8 bilhões em outubro deste ano, um crescimento de 39,9%
frente a outubro de 2016. No acumulado do ano, o setor já obteve um superávit
comercial de US$70,18 bilhões. Os demais setores da economia, por sua vez, já
respondem aos estímulos recebidos. O IBC-Br, índice de atividade econômica do
Banco Central do Brasil (BCB), mostrou uma recuperação disseminada por todo o
país, com crescimento em quatro das cinco regiões brasileiras, no trimestre
findado em agosto: Centro-Oeste (2,1%), Norte (1,7%), Sudeste (0,9%) e Sul
(0,1%). É, portanto, seguro dizer que, tudo mais constante, em menos de um ano
o país deixará a fase de depressão e passará à fase de reanimação do ciclo
econômico.
Com isso, espera-se, daqui em diante, uma
valorização persistente da bolsa de valores de São Paulo, movimento que se
repete a cada ciclo econômico. Ao passo que, em 04/07/1994, o índice de ações
Ibovespa marcava 3.581 pontos, em 08/07/1997, auge do ciclo que se encerrou
neste ano, esse mesmo índice chegou a 13.617 pontos. Em seguida, estando em um
patamar de 10.000 pontos na fase de depressão do ciclo seguinte, no final de
2002, passa para 73.517 pontos em 20/05/2008. Ou seja, a despeito de parecer
ter movimento errático, quando o horizonte temporal são dias, qualquer ativo
que represente o conjunto das ações negociadas na BM&FBovespa oferecerá uma
rentabilidade elevada e estável a longo prazo.
Se considerarmos que investir na bolsa
propriamente dita seria o equivalente ao portfólio do mercado dos modelos de
finanças corporativas, qualquer outro portfólio de ações representaria uma
redução de diversificação e, portanto, elevação do risco. Contudo, esse aumento
de risco poderia ser compensado com uma análise mais minuciosa da situação
econômica. Com base nisso, queremos fazer dois alertas.
O primeiro é que esse não parece ser o
melhor momento para tentar obter ganhos no mercado de câmbio. A despeito das
retomadas de economias emergentes serem caracterizadas por desvalorizações de
suas moedas frente ao dólar, outros fatores atuarão no sentido contrário. Em
primeiro lugar, com a recuperação da economia estadunidense, o Federal Reserve
não só aumentou a taxa básica de juros, como já antecipa mais três elevações em
2018. Além disso, o presidente Donald Trump prepara uma redução de impostos
pagos por empresas instaladas no país, o que tornará menos atrativo o
investimento estrangeiro direto em países emergentes. Assim, com essas medidas
atraindo dólares de volta para o mercado estadunidense, fica difícil medir em
que direção se moverá a oferta dessa moeda aqui no Brasil.
Por fim, é oportuno assinalar que grandes
empresas brasileiras, com balanços sólidos, mas que tiveram queda no valor de
mercado em função de escândalos de corrupção oferecem uma boa oportunidade de
obtenção de ganhos. Isso porque elas já trabalham na recuperação da sua imagem
e não apenas se utilizando de ações de marketing. A Odebrecht, por exemplo,
contratou o advogado Michael Munro, com mais de 25 anos de experiência na
implementação de sistemas anticorrupção, como vice-presidente de compliance em
maio de 2016, para aprimorar medidas contra a corrupção que já estavam sendo
tomadas. Diante disto, dado que empresas como essas, são grandes atores na
economia nacional e, por isso, tem uma lucratividade estável, a despeito do seu
valor de mercado na bolsa, é de se esperar uma elevação do valor das suas
ações, conforme elas consigam atingir seus objetivos de recuperação de imagem.
[i] Professor
Substituto do Departamento de Relações Internacionais da UFPB e pesquisador do
Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com).
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