Nelson Rosas Ribeiro[i]
Na análise da semana passada abordamos o
problema da recuperação lenta e da decretação do fim da recessão pelo Comitê de
Datação dos Ciclos Econômicos (Codace) da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Agora
chamamos a atenção dos leitores, em primeiro lugar, para a própria existência
do Codace que representa o reconhecimento oficial de que os ciclos econômicos
existem. O fenômeno, que os economistas do governo vivem escondendo, os ciclos
econômicos, aparece oficialmente nos jornais. Eles não só existem como até foi
criado um órgão para acompanhá-los.
Em segundo lugar, é preciso concluir que
não se pode acabar com um fenômeno por decreto. Há que esperar o movimento da
economia. O mais que se pode fazer é utilizar a política econômica para
acelerar ou retardar o processo. A esse nível, parece que o governo, com seu
programa de austeridade, pretende criar os maiores dificuldades possíveis à
bendita e lenta recuperação.
Isto é contraditório com a necessidade que
tem o Temer de apresentar algum resultado positivo na economia. O que tem sido
apontado como resultado nada tem a ver com a ação governamental e da sua
“equipe dos pesadelos”.
Os juros voltaram a cair. Desta vez os
8,25% tornaram-se 7,5%, com um corte de 0,75% pelo Conselho de Política
Monetária (Copom). Mas, Copom não é governo. Afinal, o Banco Central (BC) é ou
não é independente?
A inflação continua em baixa, o que também
não é mérito do governo, mas um presente da crise que derrubou o poder de
compra da população e das empresas.
Sobrou a queda do desemprego. De fato,
segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de
desemprego caiu. Viva! Mas o IBGE também reconhece que o número de empregos
formais atingiu o patamar mais baixo da série histórica apurada pela Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Contínua que é publicada desde 2012.
Então o 1,1 milhão de empregos criados no terceiro trimestre foi de trabalhos
informais sem carteira assinada. O setor privado, que assina carteira, perdeu
31 mil postos de trabalho. O sucesso no aumento do emprego deveu-se à
capacidade criativa do povo que, para não morrer de fome, está “se virando”
como pode com atividades marginais. Também neste caso não existe nenhum mérito
do governo.
Outro assunto que tratamos na Análise
passada foi o rombo de Previdência, agora negado pela CPI do Senado em seu
relatório conclusivo. Praticamente o relatório não provocou, até agora, nenhuma
reação e a “Reforma da Previdência” continua a ser levantada como necessidade
para a sobrevivência do país. E então? Não há relatório da CPI? O próprio
Senado vai continuar discutindo o “rombo” que, segundo suas próprias
investigações, não existe?
Temos de voltar a bater nesta tecla, pois
algo de misterioso existe por trás deste assunto. Antes do tal relatório já
tínhamos conhecimento de vários estudos científicos incluindo dissertações de
mestrado e teses de doutorado que provavam a falsidade do “rombo”. E agora? O
que vão fazer com o relatório e a CPI
Mas, na semana, há um grande acontecimento
a comemorar: no terceiro trimestre a produção industrial cresceu 0,9%. Preparem
os foguetes. Desde o terceiro trimestre de 2014, com a exceção do segundo
trimestre de 2016, o crescimento da produção industrial foi negativo, ou seja,
não há crescimento, mas decrescimento. Só agora, em 2017, a tendência se
reverteu e a produção industrial passou a crescer. 1,4% no primeiro trimestre,
1,1% no segundo e agora 0,9% no terceiro. Temos uma escadinha decrescente. Qual
será a tendência agora no quarto trimestre? Haverá o que comemorar?
E, enquanto sofremos com a dúvida, o
governo Temer ocupa-se com as declarações do ministro da Justiça sobre a
corrupção no Rio de Janeiro e com o desespero da ministra dos Direitos Humanos
por se sentir tratada como escrava ao ser impedida de acumular salários que
chegariam a mais de 60.000 mensais. Coitadinha!
Para não falar do “bloqueio das vias
urinárias” do próprio presidente.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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