quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Ainda sobre rombos e recuperação


Semana de 30 de outubro a 05 de novembro de 2017

Nelson Rosas Ribeiro[i]
           
Na análise da semana passada abordamos o problema da recuperação lenta e da decretação do fim da recessão pelo Comitê de Datação dos Ciclos Econômicos (Codace) da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Agora chamamos a atenção dos leitores, em primeiro lugar, para a própria existência do Codace que representa o reconhecimento oficial de que os ciclos econômicos existem. O fenômeno, que os economistas do governo vivem escondendo, os ciclos econômicos, aparece oficialmente nos jornais. Eles não só existem como até foi criado um órgão para acompanhá-los.
Em segundo lugar, é preciso concluir que não se pode acabar com um fenômeno por decreto. Há que esperar o movimento da economia. O mais que se pode fazer é utilizar a política econômica para acelerar ou retardar o processo. A esse nível, parece que o governo, com seu programa de austeridade, pretende criar os maiores dificuldades possíveis à bendita e lenta recuperação.
Isto é contraditório com a necessidade que tem o Temer de apresentar algum resultado positivo na economia. O que tem sido apontado como resultado nada tem a ver com a ação governamental e da sua “equipe dos pesadelos”.
Os juros voltaram a cair. Desta vez os 8,25% tornaram-se 7,5%, com um corte de 0,75% pelo Conselho de Política Monetária (Copom). Mas, Copom não é governo. Afinal, o Banco Central (BC) é ou não é independente?
A inflação continua em baixa, o que também não é mérito do governo, mas um presente da crise que derrubou o poder de compra da população e das empresas.
Sobrou a queda do desemprego. De fato, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de desemprego caiu. Viva! Mas o IBGE também reconhece que o número de empregos formais atingiu o patamar mais baixo da série histórica apurada pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Contínua que é publicada desde 2012. Então o 1,1 milhão de empregos criados no terceiro trimestre foi de trabalhos informais sem carteira assinada. O setor privado, que assina carteira, perdeu 31 mil postos de trabalho. O sucesso no aumento do emprego deveu-se à capacidade criativa do povo que, para não morrer de fome, está “se virando” como pode com atividades marginais. Também neste caso não existe nenhum mérito do governo.
Outro assunto que tratamos na Análise passada foi o rombo de Previdência, agora negado pela CPI do Senado em seu relatório conclusivo. Praticamente o relatório não provocou, até agora, nenhuma reação e a “Reforma da Previdência” continua a ser levantada como necessidade para a sobrevivência do país. E então? Não há relatório da CPI? O próprio Senado vai continuar discutindo o “rombo” que, segundo suas próprias investigações, não existe?
Temos de voltar a bater nesta tecla, pois algo de misterioso existe por trás deste assunto. Antes do tal relatório já tínhamos conhecimento de vários estudos científicos incluindo dissertações de mestrado e teses de doutorado que provavam a falsidade do “rombo”. E agora? O que vão fazer com o relatório e a CPI
Mas, na semana, há um grande acontecimento a comemorar: no terceiro trimestre a produção industrial cresceu 0,9%. Preparem os foguetes. Desde o terceiro trimestre de 2014, com a exceção do segundo trimestre de 2016, o crescimento da produção industrial foi negativo, ou seja, não há crescimento, mas decrescimento. Só agora, em 2017, a tendência se reverteu e a produção industrial passou a crescer. 1,4% no primeiro trimestre, 1,1% no segundo e agora 0,9% no terceiro. Temos uma escadinha decrescente. Qual será a tendência agora no quarto trimestre? Haverá o que comemorar?
E, enquanto sofremos com a dúvida, o governo Temer ocupa-se com as declarações do ministro da Justiça sobre a corrupção no Rio de Janeiro e com o desespero da ministra dos Direitos Humanos por se sentir tratada como escrava ao ser impedida de acumular salários que chegariam a mais de 60.000 mensais. Coitadinha!
Para não falar do “bloqueio das vias urinárias” do próprio presidente.


[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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