quarta-feira, 22 de novembro de 2017

A Reforma da Previdência volta às manchetes


Semana de 13 a 19 de novembro de 2017

Rosângela Palhano Ramalho [i]

Após consumir todas suas fichas no arquivamento da denúncia da Procuradoria Geral da República, o presidente Michel Temer agora tenta pautar a Reforma da Previdência no Congresso. Mas, o último teste na Câmara, mostrou que o governo não tem os 308 votos suficientes para aprová-la. Então, os esforços foram direcionados para uma “mini-reforma” ministerial diante da “necessidade” de “afagar” os deputados do Centrão que assim, garantiriam os votos necessários. Como o PSDB continua a se esfacelar internamente, a “mini-reforma” começou com o pedido de demissão do Ministro das Cidades, Bruno Araújo, político do referido partido. O troca-troca de ministros deve se estender pelas próximas semanas e a reforma da Previdência, segundo previsão do governo, poderá ser pautada e votada na primeira semana de dezembro. O curioso é que enquanto a população assiste anestesiada o jogo sujo das negociatas políticas, o mercado financeiro passou a “precificar” tais eventos.
A demora na aprovação da Reforma da Previdência e o possível enxugamento do texto que irá à Câmara, abrindo mão de cerca de 60% do valor estimado da economia em gastos, lançaram um sinal de alerta entre os “investidores” e provocou a queda do índice de negociações da Bolsa de Valores brasileira por quatro semanas consecutivas. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que se tornou um homem de um discurso só, afirmou que esta sequência de quedas na Bolsa é “didática” e o presidente da República se apressou em tranquilizar, não o povo, mas os tais “investidores”, afirmando que continuaria lutando pela pauta.
Entretanto, o pedido de demissão do ministro das Cidades acalmou os ânimos e a bolsa de São Paulo fechou em alta, enquanto a cotação do dólar subiu. Segundo analistas do mercado financeiro, há uma “negatividade” pairando sobre o Brasil e desde o fim de setembro, a rentabilidade exigida pelos estrangeiros para correr riscos no país vem aumentando por causa das indecisões sobre o rumo das reformas e devido à mudança dos juros no exterior. Em outubro, estima-se que os “investidores estrangeiros” retiraram US$ 1,4 bilhão das ações brasileiras.
O economista Delfim Netto que vem sendo convidado a participar de jantares com o presidente, assim como Temer, fez ouvido de mercador às conclusões da CPI da Previdência aberta no Senado e reforçou a “necessidade” de realização da Reforma. Em sua coluna semanal publicada no Jornal Valor Econômico e intitulada “Esta é a hora”, desmereceu os esforços e as conclusões da CPI da Previdência no Senado, e elogiou o “adiamento” da apuração das denúncias contra Michel Temer, que assim estará livre para se defender na Justiça só a partir de 1º de janeiro de 2019. Foi então um bom negócio, pois graças a isto o presidente tem a disponibilidade necessária para fazer a Reforma da Previdência e esta, ao eliminar os privilégios de alguns, tornar-se-á mais justa. Delfim Netto, apesar de saber que o sistema econômico se desenvolve em ciclos, finaliza, afirmando cinicamente que a reforma provocará a retomada do crescimento sustentado.
Enquanto as promessas não se tornam realidade, os gestores de recursos financeiros tratam de abastecer os “investidores” com informações sobre a próxima eleição, que certamente impactarão sobre seus futuros ganhos. Nas cartilhas produzidas pelo Itaú e BNP Paribas, intituladas respectivamente de “2018 Elections Guide” e “Brazil: Election Tracker” apresentam-se os potenciais candidatos através de uma pequena síntese de suas biografias, como informações sobre a trajetória profissional, nível educacional e filiação partidária. Além disso, resume-se o posicionamento dos possíveis concorrentes em relação às reformas.
O leitor deve ficar atento às cenas dos próximos capítulos, pois se o mercado financeiro está unindo forças em defesa da aprovação da Reforma da Previdência, só podemos chegar a uma conclusão: os interesses da população de maneira geral serão contrariados.


[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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