Rosângela Palhano Ramalho
[i]
Após consumir todas suas fichas no arquivamento da
denúncia da Procuradoria Geral da República, o presidente Michel Temer agora tenta
pautar a Reforma da Previdência no Congresso. Mas, o último teste na Câmara,
mostrou que o governo não tem os 308 votos suficientes para aprová-la. Então,
os esforços foram direcionados para uma “mini-reforma” ministerial diante da
“necessidade” de “afagar” os deputados do Centrão que assim, garantiriam os
votos necessários. Como o PSDB continua a se esfacelar internamente, a
“mini-reforma” começou com o pedido de demissão do Ministro das Cidades, Bruno
Araújo, político do referido partido. O troca-troca de ministros deve se
estender pelas próximas semanas e a reforma da Previdência, segundo previsão do
governo, poderá ser pautada e votada na primeira semana de dezembro. O curioso
é que enquanto a população assiste anestesiada o jogo sujo das negociatas políticas,
o mercado financeiro passou a “precificar” tais eventos.
A demora na aprovação da Reforma da Previdência e o
possível enxugamento do texto que irá à Câmara, abrindo mão de cerca de 60% do
valor estimado da economia em gastos, lançaram um sinal de alerta entre os
“investidores” e provocou a queda do índice de negociações da Bolsa de Valores
brasileira por quatro semanas consecutivas. O ministro da Fazenda, Henrique
Meirelles, que se tornou um homem de um discurso só, afirmou que esta sequência
de quedas na Bolsa é “didática” e o presidente da República se apressou em
tranquilizar, não o povo, mas os tais “investidores”, afirmando que continuaria
lutando pela pauta.
Entretanto, o pedido de demissão do ministro das
Cidades acalmou os ânimos e a bolsa de São Paulo fechou em alta, enquanto a
cotação do dólar subiu. Segundo analistas do mercado financeiro, há uma
“negatividade” pairando sobre o Brasil e desde o fim de setembro, a
rentabilidade exigida pelos estrangeiros para correr riscos no país vem
aumentando por causa das indecisões sobre o rumo das reformas e devido à
mudança dos juros no exterior. Em outubro, estima-se que os “investidores
estrangeiros” retiraram US$ 1,4 bilhão das ações brasileiras.
O economista Delfim Netto que vem sendo convidado a
participar de jantares com o presidente, assim como Temer, fez ouvido de
mercador às conclusões da CPI da Previdência aberta no Senado e reforçou a
“necessidade” de realização da Reforma. Em sua coluna semanal publicada no
Jornal Valor Econômico e intitulada “Esta é a hora”, desmereceu os esforços e
as conclusões da CPI da Previdência no Senado, e elogiou o “adiamento” da
apuração das denúncias contra Michel Temer, que assim estará livre para se
defender na Justiça só a partir de 1º de janeiro de 2019. Foi então um bom
negócio, pois graças a isto o presidente tem a disponibilidade necessária para
fazer a Reforma da Previdência e esta, ao eliminar os privilégios de alguns,
tornar-se-á mais justa. Delfim Netto, apesar de saber que o sistema econômico
se desenvolve em ciclos, finaliza, afirmando cinicamente que a reforma provocará
a retomada do crescimento sustentado.
Enquanto as promessas não se tornam realidade, os
gestores de recursos financeiros tratam de abastecer os “investidores” com
informações sobre a próxima eleição, que certamente impactarão sobre seus
futuros ganhos. Nas cartilhas produzidas pelo Itaú e BNP Paribas, intituladas
respectivamente de “2018 Elections Guide” e “Brazil: Election Tracker”
apresentam-se os potenciais candidatos através de uma pequena síntese de suas
biografias, como informações sobre a trajetória profissional, nível educacional
e filiação partidária. Além disso, resume-se o posicionamento dos possíveis
concorrentes em relação às reformas.
O leitor deve ficar atento às cenas dos próximos
capítulos, pois se o mercado financeiro está unindo forças em defesa da
aprovação da Reforma da Previdência, só podemos chegar a uma conclusão: os
interesses da população de maneira geral serão contrariados.
[i] Professora
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização
e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br)
Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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