terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

A Nova Agenda Econômica do Governo Temer


Semana de 19 a 25 de fevereiro de 2018

Antonio Carneiro de Almeida Júnior [i]
           
A intervenção militar no Rio de Janeiro, levada a cabo pelo presidente Michel Temer, acabou com as esperanças de aprovação da Reforma da Previdência antes das eleições. O próprio ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, afirmou categoricamente que a tramitação da PEC estaria suspensa, pois o governo não teria segurança jurídica para aprova-lá, uma vez que poderia enfrentar problemas legais ao suspender a intervenção para a realização da votação. Na tentativa, contudo, de manter-se com um estandarte de propaganda política, já pensando nas eleições, Temer decidiu apresentar uma lista de 15 medidas que se tornaram prioridade para o governo. Nenhuma dessas medidas, contudo, provocará qualquer melhoria duradoura e significativa nas finanças públicas, como se pretendia fazer com a Reforma da Previdência.
Em um primeiro grupo, é possível listar: a mudança no marco legal de licitações e contratos e nas normas dos depósitos compulsórios, o reforço das agências reguladoras, a nova lei de finanças públicas, a atualização da lei geral de telecomunicações e a regulamentação do teto remuneratório. Estas medidas, embora tenham impacto operacional em seus campos, não gerarão efeitos positivos perceptíveis na economia. A última delas, além disso, impedirá o Estado de voltar atrás no pagamento de remunerações que atualmente excedem o teto legal, o que provoca o aumento dos gastos públicos.
Em um segundo grupo, que guarda muita semelhança com o primeiro, estão: a privatização da Eletrobrás e a extinção do fundo soberano. Ambas as medidas, embora gerem receitas instantâneas, produzem apenas esse efeito momentâneo e nada mais. Elas servirão, portanto, apenas para gerar receitas extraordinárias que impedirão o governo de desrespeitar, por ora, a regra de ouro das finanças públicas, o que, caso ocorresse, colocaria o atual presidente na mesma situação na qual esteve Dilma Rousseff.
Há um grupo de medidas, no entanto, que podem resultar em efeitos duradouros. Ao dar autonomia ao banco central, o governo poderia provocar uma redução da percepção de risco dos compradores de títulos, uma vez que desvincularia a política monetária do BC da política econômica do governo. O reestabelecimento do cadastro positivo (cadastro de consumidores que nunca foram inadimplentes), por sua vez, trabalharia no mesmo sentido, mas reduzindo a percepção de risco dos que emprestam para o setor privado (empresas e famílias), uma vez que reduz a assimetria de informação. Ambas as medidas, desta forma, poderiam reduzir o juro médio pago em operações de crédito público e privado. Além destas, outras medidas, como a recuperação e melhoria de empresas estatais, a regulamentação do distrato em vendas de imóveis, a criação de duplicatas eletrônicas em operação de crédito e a simplificação tributária do PIS/Confins, poderiam melhorar a produtividade das empresas nacionais. Todas essas medidas, contudo, não surtiriam efeito no curto prazo.
Por fim, a única medida que poderia produzir algum impacto positivo e duradouro na situação fiscal do governo, a redução da desoneração das folhas de pagamentos de empresas, é considerada, por especialistas no assunto, como a mais difícil de ser aprovada.
Analisando portanto, a nova estratégia do governo Temer, o que se pode concluir é que, uma vez constatada a impossibilidade de aprovação da Reforma da Previdência, o foco principal agora é a campanha eleitoral. Sem a preocupação de levar a cabo ações que de fato produzam profundas modificações no aparelho estatal ou na economia nacional, ou que tenham impacto no equilíbrio do orçamento o atual presidente apenas propagandeia prioridade de votação de propostas inócuas e há muito esquecidas, com o único objetivo de aparecer como proativo perante o mercado e a grande massa da população brasileira. A pouca importância das medidas propostas, no entanto, forçou o governo a levantar uma nova bandeira, a bandeira da segurança.


[i] Professor Substituto do Departamento de Relações Internacionais da UFPB e pesquisador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com).

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